Estabanada

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Que manhã agitada foi essa, foram cinco reuniões em sequência. Daiane e eu ficamos em silêncio ouvindo tudo o que cada um tinha a dizer e tomamos a decisão de tirar nossas ações da indústria mercantil afinal não gosto de perder dinheiro e temos que saber o momento certo de sair. Liquidamos nossas ações e assim dobramos o valor que tínhamos, claro pagamos todos os funcionários envolvidos, e o dono foi obrigado a decretar falência, ele revoltado meu ligou com acessou a conta da empresa e se viu sem dinheiro algum e recebendo o documento enviado da justiça obrigando ele a comunicar  a falência e fechar as portas.

O que faço pode parecer fácil mais não é , requer dedicação e muito estudo, ter pessoas capacitadas e competentes em sua empresa faz toda a diferença, mas se você não souber o que quer, traçar, rotas, planos, estratégias eles ficam perdidos e seus objetivos não são alcançados. Saímos então para almoçar fora da empresa, comemorando o valor que ganhamos naquela manhã, mexo com pessoas importantes, magnatas da sociedade, que demoraram a entender que sou uma mulher de negócios e que não fraquejo, não tenho medo, não sou chorando e sensível como as demais.

Meu trabalho árduo, minhas características e minha discrição na minha vida pessoal fez com que eu ganhe respeito no mundo dos negócios  e  assim por onde passam ousam a não me olhar de cima, pois tudo que quero consigo. Claro de vez em quando ouço gracinhas sobre eles me apresentarem seus filhos, seus sobrinhos, que nunca me veem com homens e se eles soubessem ficariam espantados. Minha vida profissional é um livro aberto, faço jogadas limpas e inteligentes, nada é feito fora da lei pelo contrário, me beneficio dela, se os demais não são inteligentes para isso problema é deles.

Recebo um convite para comparecer em um jantar na casa do prefeito, afim de discutir negócios e para me apresentar seu filho que retornou de viagem de férias em Aspen. Eu transmiti meu sorriso falso, afinal mais um filhinho de papai, que roda o mundo não sabe nada da vida e acha que me conhece ou que vai me conquistar.
Olho para o meu celular e vejo a notificação me lembrando que tenho que chegar no escritório para a tal entrevista, tinha até me esquecido. Foi um alívio o almoço já estava ficando entediante ao ouvir eles falando sobre suas esposas troféu que passam o dia todo no spa , salão e o quanto são manipuláveis em relação aos maridos por não desconfiarem que possuem suas amantes. 

Nossa meu deu nojo ao ouvir aquelas palavras, por isso não tenho interesse em me envolver com ninguém, mulheres para mim são como os contratos que fecho, acordos, enganá-las está fora de cogitação, consentimento é a palavra chave para o sucesso nesse quesito. Quando perceberam que estava ali e que ouvi uma boa parte da conversa ficaram sem graça e me pediram desculpas, mais uma vez sorri e me despedi voltando para o meu ambiente. Odeio esse tipo de gente, que faz fofoquinha e fala mal dos outros, na primeira situação que aconteceu na minha empresa, demiti todos da equipe sem exceção, quem estava envolvido e quem não teve culpa, cortei o mal pela raiz e assim nunca mais tive esse tipo de problema. 

Pago as pessoas para trabalhar e quando me mostram que são competentes pago muito bem , as recompenso com além do que foi acordado na contratação, o  mundo precisa que para se cercar dos meus melhores é necessário valorizar cada um e assim se sente importantes e inseridos no processo, se eu ganho dinheiro, minha equipe deve ganhar também. Não sou mesquinha e nunca fui! Criei um clima tão agradável que minha empresa está no ranking em primeiro lugar das empresas escolhidas para estagiar após a conclusão da faculdade.

Patrícia me liga anunciando que a senhora Juliana Andrade está subindo para a entrevista, pelo menos a menina é pontual, isso é um bom sinal. Peço a Juliana que assim que ela chegar no andar a traga diretamente a minha sala e que coloquei no cronômetro o tempo de cinco minutos e compareça a minha sala informando da próxima reunião. Sento aguardando a chegada da menina admirando a cidade movimentada e as pessoas andando nas ruas apressadas, a vida não para estamos sempre em movimento até que ouço a porta se abrir e quando me viro a garota está com o corpo e o rosto no chão.

Na hora vou em sua direção e Patricia fecha a porta para que possamos começar, estendo minha mão para ajudar e os olhos penetrantes me encaram com o cabelo um pouco bagunçado e as roupas simples de departamento do Walmart. Ofereço que ela se sente e analiso em como pode uma menina de família rica se vestir dessa maneira, fico curiosa até que ela se apresenta dizendo que Juliana e sua colega de quarto que não pode comparecer devido a um resfriado e ela então precisou substituir.

Me indireto mais na poltrona para ouvir então o que essa menina na minha frente tem a me dizer. Ela me fala seu nome Brunna Gonçalves, sua idade e que é estudante de literatura, fico curiosa com seu olhar que em nenhum momento sentiu medo quando a encarei e ao observar minha sala, admira as obras de artes que comprei em uma exposição em Milão.
Ela começa a entrevista me explicando para o que era e isso me deixa sem paciência mais a voz calma e serena vai me dando tranquilidade. Percebo que ela não sabe muito bem quem sou e quando ao ler a pergunta fica sem graça ao me questionar se sou lésbica, suas maças do rosto ficam avermelhadas.

Brunna enquanto fala meche com meu imaginário sobre o que tanto tenho procurado e não encontrado e no pouco tempo que respondi suas perguntas fez análises muito interessantes de uma percepção diferente de quem convive comigo já fez. Percebo o quanto inteligente é e ofereço uma vaga no programa de estágio da empresa e ela me da um sorriso singelo fazendo com que seu nariz e testa fiquem irrugados, comentando que não se encaixa.

Me dou conta de que sua vivência de mundo é completamente diferente de sua colega de quarto, não percebe o quanto é bela e que sua expressão é através do seu olhar e as pequenas observações que faz. Patricia entra avisando da reunião como combinado e peço que cancele, ela fica estática não entendendo minha postura e logo a Brunna se levanta dizendo que tudo bem não quer atrapalhar e que já tem respostas suficientes.

Essa menina é tão engraçada porque respondi apenas três perguntas de um conjunto de quinze folhas, sem ela ver pego as folhas e a levo até a porta. Minha funcionárias ficam em choque ao me ver acompanhando e quando pergunto sobre seu sobretudo afinal hoje está frio, Patrícia me  entrega um casaco de crochê, meu deus como assim.
De onde essa menina veio, quem é ela de verdade, o que deseja da vida, o que vai fazer após a faculdade, foram os questionamentos que pairaram na minha mente no pouco tempo que esperei entrar no elevador e a porta fechar.

Voltei ao meu escritório e na mesma hora disquei para Renato meu chefe de segurança e pedi uma pesquisa completa sobre Brunna Gonçalves Coelho.

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