AMBER - QUINTA-FEIRA

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Decido sair para escola sem tomar café da manhã. Não quero encarar meus pais depois daquela confusão de ontem, mesmo depois de anos vivendo com isso, não consigo me acostumar. É um ambiente completamente tóxico, e qualquer um que entra por aquela porta deve perceber isso, sempre que entro sinto uma energia negativa, mas talvez seja coisa da minha cabeça. Nem consegui escolher uma boa roupa para hoje. Uma saia jeans curta? É brega! Não consigo me reconhecer.

Peço ao meu motorista para me levar até o colégio, não estou muito a fim de dirigir. Tirei minha carteira de motorista no início desse ano, quando fiz dezesseis, e isso é um lado bom de morar aqui. Nós vamos até o destino e, no caminho, Simon, o motorista, tenta puxar assunto para quebrar o clima.

- Srta. Amber, não quis tomar café hoje?

Acho ele bem simpático, mas sempre percebo que é só comigo, Simon sempre fica conservado quando estamos perto dos meus pais. Deve ser medo, eu também teria. Eu também tenho, na verdade.

- Não senti fome. Porque a pergunta? Você queria?

- Não. Claro que não. - Ele gagueja. - Seus pais não me deixam sentar junto a eles na mesa.

Minha mãe não é desse tipo. Ela deixaria todos da casa sentarem naquela mesa enorme, com a desculpa de que ela é enorme. Caberiam todos e ainda sobraria. Não é do feitio dela proibir algo tão fútil.

Claro.

Teria que ser.

- Meus pais ou meu pai?

- Chegamos, é melhor você ir. Preciso te buscar?

Simon ignorou completamente a minha colocação. Até entendo, talvez não queira comprometer o próprio emprego, e que emprego. Meu pai deve pagar uma fortuna para ele apenas dirigir quando um de nós precisarmos, quase nunca. Minha mãe fica praticamente presa em casa e meu pai sempre usa o próprio carro.

- Eu te ligo.

Me despeço dele com um sinal com as mãos. Simon é uma boa pessoa. As maiorias dos empregados lá de casa são. Até meu pai transformá-los em monstros, conviver com ele faz as pessoas mudarem a forma de ver o mundo, a minha mãe com toda certeza perdeu todo seu brilho logo no início do casamento, e eles já estão casados há anos.

Encontro Nancy sentada na sala do jornal.

- Lindo blazer. - Ela finalmente saiu da sua paleta de cores. Dessa vez, resolveu vestir um blazer azul marinho, e da cintura para baixo, usa branco. Só vejo Nancy com tonalidades de bege, sempre.

- Obrigada. Mas não acho que caio bem no azul... Amber, você não precisa fingir que está tudo bem se não estiver. Você sabe disso não é? Sou sua amiga.

Mais um problema. Nancy agora sabe de parte das coisas que passo dentro da minha casa. Isso não é de agora, acontece desde que fiquei adolescente. Logo que completei 13 anos, acho que meu pai pensou que era uma boa idade para começar a me apresentar aos problemas da vida dele.

- Está tudo ótimo. - Minto - Podemos continuar o que começamos?

Ela assente e me mostra que aquele quadro o qual iniciamos ontem já está pendurado na parede. Realmente estou me sentindo como em um filme de investigação. E Nancy foi bem rápida, na verdade. Como ela pregou aquilo na parede virou um grande mistério para mim, mas não perguntei para não perder o foco.

Vamos adicionando mais alguns nomes, e eu caí na real com alguns que não poderiam ser, nem sei por qual motivo colocamos ali. Temos sorte de ter uma impressora na sala, imprimimos mais algumas fotos do Instagram das pessoas e colamos. Pessoas como Daphne Barton, uma garota do terceiro ano que trabalha com relógios antigos, e até Hunter, um esquisito que anda todos os dias com quatro relógios no braço esquerdo. Se a minha mãe visse o jeito que ele se veste, desmaiaria. Até eu sinto uma ânsia às vezes. Desenhamos um "X" vermelho em Henry Hart e outros.

Até a Próxima MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora