NANCY - DOMINGO

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Ontem, no restaurante, eu e as meninas fizemos um tipo de promessa, hoje não vamos falar nada sobre o jogo. Mas eu não consigo parar de pensar nele. Depois do incidente na delegacia, as flores e o bilhete... Porque depois disso tudo ele resolveu sumir?

Eu sei que deveria estar realizada que finalmente estamos tendo dias de paz. Sabendo que não erramos, estamos livres, e não tem nenhuma notícia sobre nada. Parece que o mestre resolveu "tirar férias". Mas porque quando estávamos tão perto de acabar?

Deve ser só para nos torturar mais, porque eu não sei sobre a Amber e a Hannah, mas eu não consigo simplesmente tirar isso da minha cabeça. E a promessa só me faz ficar pior.

Mas hoje não vou deixar isso tomar conta da minha cabeça. Vou aproveitar o meu dia como se eu fosse a Nancy de um ano atrás, que não fazia nada aos domingos além de deitar na minha cama com um balde de pipoca e o meu computador, para fazer uma maratona de filmes de investigação, sempre gostei deles.

Com isso, faço a pipoca, pego meu computador e volto ao meu quarto para me deitar novamente. Quando estou me ajeitando, recebo uma mensagem.

"Tem muito tempo que eu não te vejo. Quer me encontrar hoje aqui em casa?"

É do Carter.

Eu saí com ele uma vez naquele dia, mas acabei me esquecendo completamente. Tudo que tinha na minha cabeça... A última coisa que eu conseguia pensar era em sair com um garoto. Mas porque não?

"Claro, me manda o endereço. Chego aí em meia hora."

A Amber me fez lembrar que eu também tenho uma vida fora das coisas que andam acontecendo. Eu não posso deixar tudo para trás e perder pessoas que eu amo por causa de um jogo idiota.

Assim como pedi, Carter me passou o endereço da casa dele. Não sei o que vai acontecer e nem o que vamos fazer sozinhos lá, mas, pela primeira vez, eu quero descobrir.

Vou de carro até o endereço que ele mandou. Não é uma casa esplêndida e que exala riqueza, é só uma casa normal, senti falta desse tipo de normal. Bato na porta.

— Fiquei com saudades! — Carter me envolve em um abraço apertado assim que me vê do outro lado da porta. — Entra.

Faço que sim com a cabeça e ando para frente, ele fecha a porta atrás de nós em um rápido movimento.

— O que quer fazer? Podemos ver filmes, ou tomar um banho de piscina, ouvir musica, ou...

— Carter, eu só quero ficar com você.

Assim como no primeiro encontro, o rosto dele cora muito rápido. Ele até tentou esconder com a mão e virando para o lado, mas é muito perceptível.

— Então vamos pro meu quarto.

Solto uma risada sem querer, perdida em um pensamento. 

— Não! Não é nesse sentido!

Rio mais alto dessa vez.

— Eu entendi, vamos.

O quarto dele é um típico quarto de garotos adolescentes, cheio de colecionáveis nas estantes, centenas de livros em outra estante. Uma cama que parece ser super confortável, e uma escrivaninha que abriga um computador e várias outras coisas.

— O seu quarto é lindo!

Ele solta uma risada abafada, mas não diz nada. Percebo que ele sentou na cama e continua olhando para mim.

— Pode ficar à vontade.

Vejo um caderno de desenhos na escrivaninha e pego, sentando na cadeira com ele em minhas mãos. Carter não parece ter percebido.

— Não sabia que você desenhava.

Assim que abro o caderninho, vejo um desenho minha sentada em uma cadeira na sala de aula. Abro um sorriso grande e ajeito o meu cabelo atrás da orelha.

— Isso é de quando? — Continuo sorrindo.

— Não! Droga, você já viu... Não... Me desculpa — Carter parece muito envergonhado. Decido quebrar o clima.

— É lindo! Eu adorei, de verdade.

— Obrigado. — Ele continua de cabeça baixa e rindo de forma envergonhada.

Não vim aqui para isso. Decido me levantar da cadeira e deixar o caderno na mesa. Sento do lado dele na cama e levanto o seu rosto com minha mão, fazendo-o olhar diretamente para mim.

Olho para a boca dele e junto cada vez mais nossos rostos. Sinto minha respiração se acelerando à medida que esse momento acontece. Percebo que ele mordeu os lábios rapidamente. Essa foi a minha confirmação.

Nossos lábios se encostaram delicadamente. Um selinho que foi se intensificando, mais e mais. Entrelaço minhas mãos em volta do pescoço dele sem parar o contato por um segundo sequer. Sinto suas mãos na minha cintura.

Meu coração começa a acelerar. Quando vejo, já estou sentada no colo dele, e o beijo finalmente para. Nos olhamos profundamente. E eu tomo a iniciativa para começar outro beijo, mais apaixonado, mais necessitado. Como se estivéssemos precisando disso há muito tempo.

Continuo me movendo no colo dele, suas mãos não saíram da minha cintura, encaixam perfeitamente. Carter me puxa mais para perto, colando de uma vez só os nossos corpos. Consigo sentir tudo, cada parte do corpo dele, assim como tenho certeza que ele também sente cada parte do meu.

Ele deita na cama e eu sigo, continuando na mesma posição, sem quebrar o contato. Quando o beijo finalmente para, saio de cima dele e caio ao seu lado na cama. Ficamos ali por um bom tempo. Minha cabeça está encostada no peitoral dele, que me abraça e acaricia meu cabelo ao mesmo tempo.

Nenhuma palavra mais foi dita, mas nós dois sabemos que estamos sentindo a mesma coisa. Consigo sentir o coração dele batendo rápido, e tenho certeza que o meu também está.

Esse momento já estava sendo adiado há anos. Eu sempre soube que o Carter gostava de mim, mas eu quem não tinha coragem de seguir um relacionamento. Mas agora é diferente. Eu quero ficar com ele, somente ele, para o tempo que for.

E mesmo que o tempo talvez nos force a nos separarmos, quero aproveitar o momento com tudo. Quero fazer parte da vida dele. É a primeira vez que estou sentindo isso, mas não estou confusa. Pelo contrário, estou mais do que certa da minha decisão. E ele me surpreende mais uma vez.

— Nancy?

Olho para cima, ainda deitada em seu peitoral.

— Quer ir ao baile comigo?

Levanto e me sento na cama, com um grande sorriso no meu rosto.

— Eu adoraria. — Beijo-o mais uma vez, mostrando o quanto fiquei feliz com essa atitude.

Nós nos despedimos ao final do dia com mais um beijo apaixonado, e selinhos no final. Volto para casa no meu carro, com um sorriso no meu rosto. Um sorriso que ficou do início ao fim do percurso. Finalmente. Eu consegui. Ele gosta de mim de verdade.

Chego em casa e a primeira coisa que faço é contar tudo ao meu pai. Ele me apoiou. O que me deixou mais feliz ainda. Esse é o melhor dia da minha vida.

Já no meu quarto, Amber manda uma mensagem no bate-papo de grupo que temos com a Hannah: "esquecemos as máscaras". Então, marcamos de nos encontrarmos no dia seguinte.

Até a Próxima MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora