Hoje é dia vinte e seis de Agosto, exatamente dois meses depois do dia vinte e seis de Junho, o dia do baile anual do colégio. Um novo ano letivo se inicia hoje, nós voltamos a ter uma vida "normal". Para todos na escola, agora somos "as sobreviventes" ou, para os piores, "as assassinas". Não importa para onde vamos, ouvimos um desses nomes sendo sussurrados.
Apenas ignoramos, normalmente. Mas hoje é diferente. Hoje faz exatamente dois meses. Dois meses de que eu levei uma facada no braço direito e Nancy enfiou a mesma faca no pescoço do William Jones. No dia de hoje, toda vez que eu ouço alguém falando esses apelidos, me dá muita raiva. Eles não sabem o que passamos naquela noite. Não sabem o que passamos em nenhuma noite, na verdade. Noites viradas, brigas, e coisas muito piores.
Mesmo com esses comentários, eu, Amber e Nancy agora estamos mais juntas do que nunca estivemos. Sempre juntas, não importa o lugar. Viramos realmente um trio de melhores amigas. Nunca mais tocamos no assunto do baile, mas hoje decido tentar.
- Hoje faz dois meses.
- Eu queria conseguir esquecer. Faria de tudo para esquecer. - Amber fala enquanto guarda um livro em seu armário.
- Estamos no último ano. Eu nunca mais quero ver essa escola de novo depois disso. Já está tudo nos eixos, o Henry foi solto e nós estamos livres.
- Quem toma conta do jornal agora que vocês saíram?
Nancy pensa um pouco antes de responder.
- Eu acho que não existe mais jornal, já que no fim ele foi a causa de tudo.
Faz sentido. Todos sabem que tudo isso só aconteceu pela postagem paga pela professora. Não sei se algum aluno teria coragem de abrir um jornal novamente. Não sei nem se o novo diretor deixaria.
O vice-diretor Lucas agora é o novo diretor. Ele pegou o cargo após tudo que aconteceu, com certeza tomou frente da situação e lidou com ela de forma impressionante. Ele tem realmente um comportamento de um diretor. Não falando que o Marcus não tinha.
- Chega de falar disso. Vou para a aula de História da Arte. Amber também faz essa, não é? - A loira assente com a cabeça.
Sou a única que não faço História da Arte. Para piorar, a minha aula agora é de Inglês. Não menciono essa parte para não trazer memórias para elas, assim como está trazendo para mim. Toda vez que passo em qualquer lugar que tenha acontecido qualquer coisa que se relaciona com aquilo, fico muito abalada.
Eu não sei se é só comigo, mas eu não consigo deixar o passado para trás em uma data significativa como hoje. Não consigo simplesmente me forçar a não lembrar, a não ter memórias. Principalmente porque nem faz tanto tempo que aconteceu.
Eu sei que eu não estava com elas no início de tudo, quando a Ava foi assassinada, e as meninas receberam o primeiro bilhete do William. Mas é como se eu estivesse. É como se eu estivesse no jogo desde o começo. Eu me sinto assim. Mesmo que nos jornais já tenham me chamado de vários nomes como: "Hannah, a agregada".
Nunca imaginei que um dia isso iria acontecer comigo. Tenho a cicatriz da faca no meu braço até hoje e provavelmente vou ter para sempre. Ser melhor amiga da Amber Coleman? Uma garota que eu odiava há um ano. Eu nunca tinha parado para pensar nisso tudo como estou pensando hoje. Nem mesmo quando fez um mês, e estávamos de férias. Mas agora, estando de volta na escola... Vendo todos os lugares, me lembrando de cada cena...
Até quando passo pela fachada da escola não consigo me livrar de todos os pensamentos. A polícia estacionada, as perguntas, as mantas que deram para limparmos nossos corpos e rostos. A Nancy toda suja... Eu nem sei o que fizeram com a coroa de rainha do baile, que tinha ficado no chão, ao lado do corpo, completamente suja de sangue.
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Até a Próxima Morte
Mystery / Thriller🥈2° LUGAR CONCURSO ALICE.I.BORDERLAND NA CATEGORIA SUSPENSE/CRIME Nancy Hall é uma garota introvertida e muito inteligente, que mora em Boston com o seu pai. Uma de suas amigas é Amber Coleman, o seu completo oposto, é popular e tem uma vida invejá...