Cap. 17 - Dominando minha magia

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O ambiente que adentramos é um mundo à parte, repleto de peculiaridades e imperfeições. Uma espécie de mini porta se ergue na parede, parcialmente oculta por uma lixeira volumosa que emana um odor desagradável. O cheiro impregna o corredor, criando uma atmosfera opressiva que contrasta com a expectativa de conforto.

Seguimos por um corredor estreito e sombrio, onde as sombras dançam ao ritmo das nossas passadas. Ao fim do caminho, deparamo-nos com a "casa". Se é que se pode chamar assim. Era um lugar marcado pela desordem e pela negligência, um testemunho silencioso de uma vida vivida à margem das convenções. Dois banheiros ocupavam um canto, seus azulejos manchados contando histórias não ditas. Dois quartos, cada um carregando o peso do tempo e do abandono, pareciam espreitar-nos com tristeza resignada.

Na sala, a visão era ainda mais desoladora. Dois colchões jaziam sobre o chão nu, seus contornos desgastados e marcados pelo uso intenso. Eram ilhas de descanso em um oceano de caos, testemunhas silenciosas de noites mal dormidas e sonhos desfeitos. A mobília, o que restava dela, parecia uma coleção de memórias desgastadas pelo tempo e pela negligência. A casa emanava uma sensação de abandono e desesperança, mas era também um refúgio, um espaço onde a vida, de alguma forma, encontrava um jeito de persistir. Era um microcosmo de contradições, onde a beleza da resiliência encontrava espaço até mesmo na desordem.

Finalmente, Gaby quebrou o silêncio que envolvia o ambiente. Sua voz, carregada de medo contido, dissipou as sombras que pairavam.

– Não tenho roupas tão chiques como a sua, mas meus irmãos devem ter uma camisa que te serve.

Olho para ela de cima abaixo, percebi naquele momento, mas ela é bem mais cuidada que os irmãos, ela é linda. Balanço a cabeça concordando.

— Se quiser tomar um banho, para não chegar em casa com cheiro de sangue e sangue nos punhos, mas a água daqui é fria.

Como se estivesse lendo minha mente, tiro minha camisa deixando os músculos aparentes, Gaby fita seu olhar em mim com uma espécie de desejo...

— Eu aceito a oferta do banho! Obrigado, e me perdoe por mais cedo, passei do ponto.

— Você queria me ajudar, me senti como uma princesa sendo resgatada, das histórias que minha mãe me contava.

Gaby sorri, parecia estar lembrando de algo.

— O que aconteceu com ela, para vocês estarem nessas condições?

Pergunto.

Posso notar as feições dela se tornarem sombrias e ela indaga.

— Não quero falar disso!

Me aproximo dela, e pego suas mãos e digo olhando em seus olhos escuros.

— Sei que sou um estranho, mas quero te ajudar a sair dessa!

Ela pondera sobre o assunto, e começa a dizer.

— Ela morreu, minha mãe tinha câncer, não tínhamos dinheiro para o tratamento, e os hospitais falharam com ela, não, as pessoas que só queriam mais dinheiro se recusaram a tratar dela, por não termos dinheiro. E um tempo depois ela acabou falecendo. Nosso pai desapareceu quando eu era ainda pequena... E desde então retribuímos o que não fizeram pela minha mãe, retirando deles.

As lagrimas dela começam a cair. Isso é um assunto difícil para ela pelo jeito, mas agora entendo o motivo de fazerem o que fazem mesmo que não aprove.

— Sinto muito! Vem cá.

Solto as mãos dela e a puxo em um abraço, sentindo a fragilidade e a força que coexistiam em seu corpo. Ela apoia a cabeça no meu peito e as suas mãos nas minhas costas, e continua chorando por um tempo. O som dos seus soluços vai diminuindo gradualmente, e logo depois ela ergue o rosto para me olhar. Seus olhos, ainda marejados, brilham com uma intensidade que faz meu coração acelerar. Num segundo, seus lábios estavam pressionados contra os meus. Foi tudo muito rápido, mas também, de certa forma, inevitável.

Agente OcultoOnde histórias criam vida. Descubra agora