Capítulo 41 - Verdadeira face

10 1 16
                                    

Duas semanas se passaram, e meu treinamento contínuo me moldava de forma implacável. Os dias eram uma mistura incessante de prática e aprendizado, cada momento dedicado a se tornar mais forte. Mas havia algo mais que me transformava: o conhecimento que eu havia adquirido ao devorar os livros de Richard. As páginas carregavam não apenas informações, mas uma essência de poder que parecia se infiltrar em mim a cada leitura. Era como se o autor sussurrasse segredos antigos diretamente na minha mente, revelando combinações de magias e truques que poucos ousariam explorar.

O elixir que eu tomei acelerou meu aprendizado de forma brutal, tornando cada conceito aprendido em algo natural, quase instintivo. Não importava o quão complexo fosse o feitiço, bastava acessar o conhecimento uma única vez, e eu o dominava como se sempre fizesse parte de mim. Os elementos fluíam ao meu comando, e eu sabia manipulá-los com uma destreza assustadora. Fogo e ar eram os que eu demonstrava publicamente, mas, nas sombras, os outros elementos também estavam sob meu controle.

No banho, praticava magia de água e criação. Eu usava a água da banheira como um campo de treino particular, moldando-a em formas elaboradas, manipulando sua temperatura, densidade e movimento. A prática constante fez com que a água se tornasse quase uma extensão do meu próprio corpo; sua fluidez obedecia à minha vontade sem hesitação. E, quando estava só, as noites se tornavam longas sessões de experimentos. Usava a magia de criação para materializar objetos na água – pequenos animais, armas, até mesmo figuras humanas – e os observava se dissolverem lentamente. O poder era viciante.

No entanto, a terra foi um desafio. Dominar sua rigidez e peso exigia mais do que apenas concentração. Cristina me ajudava, levando-me para fora da academia durante a noite. A sensação das rochas respondendo ao meu comando era distinta de qualquer outra forma de magia. Não era apenas uma questão de manipular os elementos, mas de senti-los como parte de um todo que se interligava com minha própria essência.

Os dias seguiam um ritmo implacável. Manhãs de treino com Noah, onde eu aprimorava meu combate físico, aprendendo a lutar sem depender de magia, e noites de estudo e prática secreta. A habilidade de combinar os elementos se tornava mais refinada a cada dia, e isso, somado ao meu treinamento físico, me tornava mais imprevisível e letal. Meu domínio estava evoluindo; mesmo os objetos mais simples no meu quarto serviam de prática para a telecinese, e eu os fazia flutuar de maneira precisa, quase sem esforço.

Apesar disso, havia uma estranheza crescente em como os outros me viam. Muitos ainda evitavam cruzar meu caminho, enquanto outros pareciam admirar a intensidade do meu esforço. Mas eu sabia que havia uma sombra se formando ao meu redor, algo que eles temiam. Mesmo que de forma inconsciente, eles podiam sentir a escuridão crescendo dentro de mim. E eles estavam certos em temer. Eu me tornava cada vez mais perigoso. Cada feitiço, cada técnica aperfeiçoada, era mais um passo em direção ao monstro que eu estava permitindo surgir. E agora, com o conhecimento adquirido dos livros de Richard e a prática incessante nas noites silenciosas, esse monstro estava mais forte do que nunca.

A incerteza sobre Bia ainda me assombrava. Ela deveria ter voltado, mas o silêncio em torno de sua missão me deixava inquieto. Quando ela voltasse, seria capaz de perceber as mudanças em mim? Reconheceria o Jon que estava emergindo, moldado pelo conhecimento proibido e pelo desejo de vingança, e por tabela impedir a destruição do mundo todo? Eu não sabia. Mas tinha certeza de uma coisa: quando a hora chegasse, eu estaria pronto para soltar essa fera sobre aqueles que haviam me tirado tudo.

***

Caminho em direção ao refeitório, subindo as escadas devagar, e noto os olhares que me acompanham. Alguns me cumprimentam com acenos amistosos, e eu retribuo sem pensar muito. Outros, no entanto, desviam o caminho para evitar passar por mim, como se minha presença fosse algum tipo de maldição. O peso da desconfiança é familiar, quase confortável. O medo deles é uma arma a mais para o monstro que estou criando dentro de mim.

Agente OcultoOnde histórias criam vida. Descubra agora