Beijo Fake

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Nem pense nisso era o mantra que Freen repetia mentalmente ao sair do pub atrás do irmão, com Becky flutuando ao seu lado. A cada passo ou dois, Becky se balançava na direção dela, seus braços se tocando, os dorsos de suas mãos e dedos roçando.

Nem pense nisso.

Aquele encontro em grupo poderia ter sido pior.

Óbvio que Becky tinha se deliciado vendo Freen se encolher de ódio com cada apelido fofo murmurado, mas não houvera nenhum grande problema. Nenhuma briga, nenhum vinho derramado, tampouco vestidos de seda arruinados ou desaparecimentos súbitos cuja lembrança ainda causava em Freen um aperto no peito. Elas tinham conseguido deixar de lado as diferenças, as maneiras distintas de ver o mundo, para se unir e desvendar o enigma, vencendo a aventura no Escape Room. Nop tinha razão; vários cérebros realmente pensavam melhor que um, mesmo que a princípio ela estivesse relutante em confiar em algo tão impreciso quanto a intuição de Becky.

Elas tinham escapado da sala, vencido o quiz e, de acordo com a percepção de Freen, Nop não desconfiava nem um pouco de que a história entre ela e Becky fosse uma farsa. No geral, a noite havia sido um sucesso.

Tirando a parte em que a risada alegre e contagiante de Becky deixara Freen tonta. Ou como a cara de pura felicidade dela quando aqueles balões e confetes irritantes caíram do teto fizera Freen se sentir como se tivesse levado um soco no estômago capaz de a deixar de joelhos.

Mas ela não estava pensando nisso. Não. Não pensaria em como a pele da coxa de Becky era macia quando elas se tocaram debaixo da mesa, nem em como ela quisera ficar escondida embaixo daquela toalha. Não pensaria em como o hálito de Becky lhe fizera cócegas no pescoço no meio daquele abraço ou como o lábio dela roçara em seu queixo quando ela desceu da ponta dos pés depois de atirar os braços em volta do seu pescoço.

Não, não daria oxigênio para aquela... aquela faísca. Se soprasse, aquilo cresceria e...

Freen curvou os dedos dos pés e cravou as unhas nas palmas. Ela definitivamente não pensaria no que poderia acontecer se deixasse aquilo rolar, porque não fazia sentido. Becky era o caos ao vivo e a cores, e os sentimentos que ela inspirava em Freen eram tão perigosos como uma caixa de Pandora. Traiçoeiros e confusos, feitos para ficarem trancados a sete chaves. Freen não precisava de desordem em sua vida.

Becky parou de andar e apontou com o queixo para a direita.

- Então, minha casa fica naquela direção.

Ela já estava abrindo a boca para dizer boa noite, mas Nop franziu a testa e balançou a cabeça.

- Onde você mora?

Becky enfiou as mãos no bolso daquele vestido louco dela, o azul-marinho realçando sua pele - e todo o resto dela também - com perfeição. Ela quase reluzia.

- Subindo a segunda rua em direção a Khlong Tan, até dar na Thonglang. - Um vento soprou pelo grupo, agitando a franja de Becky e fazendo-a estremecer. - Não é muito longe.

Freen não estava na cidade havia muito tempo, mas sabia que era uma caminhada de quase dois quilômetros até Thonglang. Já passava das onze, estava escuro e a temperatura ficava cada vez mais baixa - não congelante, mas baixa o bastante para fazer sair uma fumacinha pela boca. Becky não estava nem de casaco. Andar - sozinha ainda por cima - não era uma ideia muito inteligente.

- A gente divide um Uber - sugeriu Freen, grata quando Nop concordou.

Becky não pareceu convencida.

- Mas não fica fora do caminho de vocês? Você mora na Phaya e Nop na Khao San, então....

Presságios do Amor - FreenbeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora