Almas Gêmeas

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- Tem certeza de que temos permissão para estar aqui? - sussurrou Freen, seguindo Becky por um lance estreito de escadas espremido entre duas paredes de pedra.

O degrau sob o pé direito de Becky rangeu quando ela se virou, uma das mãos no corrimão e a outra segurando o celular, que servia de lanterna para iluminar o breu da escada.

- Não.

Uma quantidade insuficiente de luz refletiu na parede de pedra, lançando sombras no rosto de Becky. Freen não conseguiu ver sua boca, mas o tom de voz da morena indicava que ela estava sorrindo.

- Para falar a verdade, nós não temos permissão de estar aqui.

- Becky.

- Anda, vai - disse ela, os dedos encostando no pulso de Freen, fazendo-a estremecer. - Quebre as regras comigo, Freen.

Mal sabia ela que Freen já estava quebrando todo tipo de regras. Regras que ela mesma havia criado.

Freen devia ter imaginado que Becky tinha um motivo para se recusar a responder às perguntas sobre aonde elas iam e o que Becky tinha planejado para o... encontro? Parecia um encontro, e tinha todas as armadilhas de um. O estômago de Freen havia se revirado o dia todo pensando naquilo. Seu foco tinha ido para o espaço e sua habilidade de trabalhar tornara-se inexistente. Em vez de conseguir estudar um pouco, Freen fizera ela mesma uma avaliação de risco nada confiável. O resultado? Se precisava perguntar se era um encontro, o risco era alto demais. E, mesmo sabendo disso, só conseguia pensar em Becky, em vê-la, no que aquilo significava e em como a apavorava, além de como, apesar do risco, Freen não conseguia desmarcar de jeito nenhum.

"Vista algo quente e esteja pronta às onze" havia sido a única instrução. A princípio, Freen pensou que fosse às onze da manhã, porque que tipo de pessoa com o mínimo de bom senso marcaria um encontro às onze da noite? Só que, de acordo com Becky, as melhores aventuras aconteciam no escuro.

Becky sacudiu a maçaneta, balançando quadris e bunda na dancinha da vitória mais adorável do mundo quando a porta se abriu e revelou uma sala redonda iluminada pela lua.

- Ta-da! Bem-vinda ao King Power, o prédio mais alto de Bangkok.

Com os braços levantados, apontados para o teto abobadado, Becky girou num círculo vertiginoso, a saia preta rodando em volta das pernas cobertas de meia-calça. Ela estava usando a jaqueta que Freen lhe dera.

Fingindo interesse na arquitetura do prédio, Freen se virou, tocando numa das pedras diante dela, escondendo seu sorriso em meio às sombras.

- Como você descobriu este lugar?

Ela olhou por cima do ombro o mais discretamente possível, vendo Becky baixar os braços, seu sorriso se desfazendo. Foi sutil, mas Freen notou. Ela não tinha certeza de quando aquilo tinha acontecido, mas agora reparava em tudo. Em como Becky puxava o lóbulo da orelha quando estava ansiosa. No mau hábito de morder o lábio inferior, do qual Freen gostava muito, a propósito. Demais até. Ela nunca tinha invejado os dentes de alguém antes, mas eles podiam morder aquele lábio quando bem entendessem, e havia alguma coisa que parecia muito injusta no fato de Freen não ter o privilégio de fazer o mesmo.

Loucura. Freen estava definitivamente enlouquecendo, perdendo a cabeça, o controle, perdendo tudo por aquela pessoa. Becky tinha conquistado Freen de fininho e agora ali estava ela, com ciúme da porcaria dos dentes dela. Santo Deus.

- Vamos - disse Becky, inclinando a cabeça para uma das janelas francesas em arco.

Freen respirou fundo, enchendo os pulmões de ar antes de expirar e segui-la.

Presságios do Amor - FreenbeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora