Carpe Diem

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Freen não era boa em dar presentes. Já não era em circunstâncias normais, e aquela situação era tudo menos normal.

O que você dá para alguém com quem está saindo de mentira, alguém de quem você não deveria gostar, mas de quem está - de maneira preocupante - começando a gostar cada vez mais? Alguém que você não consegue tirar da cabeça, não importa o quanto se encha de trabalho, alguém cuja risada você não para de ouvir, alguém cujos lábios você pode jurar que ainda consegue sentir nos seus, mesmo dias depois do beijo? Freen estava quase certa de que as lojas não deviam ter um guia de presentes para a categoria namoradas de mentira. Vai entender.

Fosse o que fosse, o presente precisava dizer "parabéns" sem ser exagerado e precisava ser alguma coisa da qual Becky realmente fosse gostar. Um desafio interessante, visto que, como regra geral, Freen geralmente se recusava a dar de presente qualquer coisa de que ela mesma não gostasse. Mas o gosto de Becky era tão... peculiar que seria necessário pensar fora da caixinha.

E era por este motivo que ela estava em pé no meio da loja de bebidas olhando não para os premiados Cabernet da região de Napa, mas para os - ela conteve um arrepio de horror - vinhos em caixa.

Uma caixa de cinco litros de Franzia Sunset Blush custava 18 dólares e 28 centavos. A caixa alegava conter o bastante para 34 taças, o que fazia cada taça de 147 mililitros custar aproximadamente 54 centavos. Cinquenta e quatro centavos. Menos de um dólar por taça de vinho.

Freen franziu a testa para a caixa. Sua carteira gostava daqueles números, mas alguma coisa em pagar tão pouco por vinho parecia... irreal. Como se alguém fosse aparecer com uma câmera na cara dela, revelando a pegadinha e batendo nela com uma nota de cinquenta dólares.

Freen segurou na alça e levantou a caixa, o papelão arranhando seus dedos. Podia até ser mais barato que o ar, mas era pesado como chumbo. Eles não podiam ter pelo menos feito um design um pouco mais ergonômico? Ela pagaria mais cinco dólares só por uma embalagem melhor.

O celular vibrou no bolso interno do casaco. Se aquela não era uma boa desculpa para pôr a caixa no chão, Freen não sabia o que era.

Kade.

Freen desbloqueou a tela e pôs o aparelho no ouvido.

- Oi, Kade.

Ela ouviu uma buzina ao fundo, seguida por xingamentos abafados.

- Freen! Como estão as coisas?

Freen cutucou a caixa de vinho com a ponta do pé. Por onde começar? Ela não falava com a amiga desde o desabafo sobre a confusão em que se metera e sobre estar mentindo para Nop.

- As coisas estão... complicadas.

- Complicadas. Hmm. E isso não teria a ver com uma certa morena bonitinha, teria? Pequena, cabelo curto e com os olhos enormes grudados em você?

- O que você quer dizer com isso?

Ela ouviu mais uma buzina, misturando-se ao som de uma gargalhada de Kade.

- Nop postou fotos da noite de vocês. Becky está olhando deslumbrada para você em todas, e você não fica muito atrás. Quando você está olhando para ela, ela está olhando para outra coisa. E vice-versa. É tão fofo.

O estômago de Freen se revirou ao ouvir aquilo, dando uma pirueta em seguida.

- É tudo mentira.

- Com certeza - disse Kade, com certeza revirando os olhos. - Vocês vão se ver de novo quando?

Freen olhou para a caixa aos seus pés.

- Considerando que estou comprando vinho em caixa para ela neste momento, eu diria que em breve.

Presságios do Amor - FreenbeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora