Presságios do Amor - Freenbecky

Supernova

Os pulmões de Freen ardiam conforme ela acelerava o passo, um dos saltos ficando preso numa rachadura em frente ao hotel. Felizmente, Becky parou no meio da calçada. Freen não tinha preparo para correr com aqueles sapatos.

Sua respiração se cristalizou no ar, virando fumaça diante do rosto.

- Becky, está frio aqui fora.

O eufemismo do século. Estava congelando, o tipo de frio que dava câimbras e fazia os ossos doerem. Freen abraçou o próprio tronco e sentiu a pele arrepiada, esperando que Becky dissesse alguma coisa.

- Eu estou bem - balbuciou, ainda de costas para Freen.

A luz de um poste na rua refletiu no glitter que caíra pelos ombros, braços e costas dela. A visão de Freen ficou caleidoscópica outra vez, todo aquele glitter parecendo diamantes triturados pelo corpo de Becky. Pó de estrelas.

Quando Freen tentou falar, seus dentes batiam de frio.

- Se vai ficar aqui fora, pelo menos... pelo menos pegue seu casaco ou algo assim. Está...

- Eu já falei que estou bem.

Ao interrompê-la, a voz de Becky soou hesitante, transformando suas palavras em algo cortante que atravessou o peito de Freen.

Freen deu um passo para a frente, seus joelhos batendo de tanto tremer.

- Você não... você não parece bem.

Ela parecia tudo, menos bem. O que raios tinha acontecido? Tudo estava maravilhoso, perfeito e, sua mãe tinha sido ríspida, é claro, mas não tinha sido algo tão extremo. Certamente não algo pelo qual valia a pena sair correndo da festa e ficar ali no frio sem casaco. Mas Freen tinha ido atrás dela. Porque ir havia sido instintivo, algo em que ela nem havia parado pra pensar. Becky parecera triste, seu sorriso forçado, e depois saíra correndo, e Freen já estava na metade do salão quando se deu conta de que não havia dito mais nada para a mãe. Ela apenas havia abandonado a conversa, aquela conversa idiota e inútil, no meio e fora correndo atrás de Becky até a calçada.

O céu estava escuro e não se via uma estrela sequer, nem a lua. Becky era, de longe, a coisa mais brilhante que Freen avistava, mais brilhante que a luz dos postes e das lâmpadas, um farol na escuridão.

Becky encurvou os ombros, a silhueta de sua coluna uma visão sedutora. Mantendo um dos braços ainda em volta do corpo, Freen estendeu o outro para acariciar as costas dela, para descer os dedos por aquele arco até onde a pele era interrompida pelo tecido brilhante. Mas Becky se virou antes que Freen pudesse tocá-la, e a fez se sentir tão vulnerável que ela recuou o braço como se tivesse se queimado.

Nada no rosto de Becky parecia bem. Ela estava franzindo a testa e estreitando os olhos marejados. Havia passado a língua pelo gloss que antes cobria seus lábios, os mordera até que ficassem vermelhos e o vento frio estava os deixando ainda mais ressecados, evidenciando seu biquinho.

Becky deu de ombros e cruzou os braços.

- Eu...

Uma das alças de seu vestido escorregou pelo ombro e ela a pôs de volta no lugar sem prestar atenção, fungando baixinho. Se era porque estava frio ou por causa de outra coisa, Freen não sabia. Então, Becky enfim pigarreou e levantou o queixo. A expressão nos olhos castanhos fez com que Freen não conseguisse sair de onde estava.

- Eu ouvi. O que você disse para sua mãe. Eu ouvi sem querer.

O que ela dissera para sua mãe... O coração de Freen palpitava.

- Qual parte?

Becky bufou baixinho e se abraçou mais forte, os cotovelos para dentro, tornando a curvatura de seus ombros e o contorno de suas saboneteiras mais salientes, mais visíveis.