Grandes demonstrações

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Freen mudou o vaso de planta de braço e fez uma careta.

Tarde demais para pedir ao irmão conselhos sobre grandes demonstrações. Parada diante da porta do apartamento de Becky, estava na hora. Hora do show.

Freen bateu logo abaixo da guirlanda prateada brilhosa pendurada torta num gancho de plástico colado na porta. Ela esperou. E esperou. E...

A fechadura virou, a porta se abrindo. A bela e inquietante voz de Joni Mitchell cantando "River" jorrou pelo corredor e um braço se apoiou no batente da porta, bloqueando a visão de dentro do apartamento.

Yuki.

Yuki com uma cara inconfundível de fula da vida. Freen engoliu em seco e endireitou as costas, mudando sua expressão para uma máscara de descontentamento, sem dúvidas prejudicada pelo vaso de terracota aninhado em seus braços.

- Yuki - começou, baixando o queixo num cumprimento educado.

Yuki a olhou feio. Muito feio.

Merda. O ar parecia sufocante, o calor do prédio transformava o corredor numa sauna. Freen mudou a planta de braço outra vez e jogou os cabelos para trás.

- Becky não está - disse ela, começando a fechar a porta.

Freen não tinha passado no mercado para comprar aquela planta idiota, preciosa, e depois até o apartamento de Becky apenas para ser rejeitada. Não. Aquele não seria seu beco sem saída. Ela só precisava de uma chance. Precisava tentar, precisava que Becky soubesse como ela se sentia.

Freen cerrou os dentes e enfiou o bico da bota entre a porta e o batente, encolhendo-se um pouco ao sentir a madeira bater em seu pé.

- Então onde ela está?

- Alexa, pare. - A música parou no meio do refrão. - Caso você não tenha percebido, é véspera de Natal. Tenho uma hora de carro pela frente, se o trânsito estiver bom, o que não vai ser o caso. Eu só quero terminar de fazer as malas, cair na estrada, chegar em casa antes que meu pai coma todos os aperitivos e tomar várias doses de gemada. Conversar com você não está no topo da minha lista de afazeres. Na verdade, não está em nenhum lugar dela. Sendo assim, cai fora, Freen.

- Só me diz onde Becky está e te deixo em paz.

Yuki estreitou os olhos.

- Por que você quer saber?

- Olha...

Yuki soltou a porta e se apoiou no batente, cruzando os braços e projetando o queixo para a frente.

- Não, olha você. Você não pode vir aqui e exigir ver minha melhor amiga sem ao menos me dizer o motivo.

Freen mordeu a lateral da língua. Não que Becky deixaria de contar o que acontecera a Yuki, mas lá estava a confirmação. A confirmação de que Freen vacilara feio.

Ela olhou Yuki bem nos olhos, para que ficasse evidente como estava sendo sincera.

- Eu vacilei.

Yuki fez um biquinho.

- Hum. Pelo menos concordamos em alguma coisa.

Freen bufou.

- Bom. Pode me ajudar a desvacilar?

- Eu poderia - respondeu a outra, deixando claro que o destino de Freen estava um pouco em suas mãos.

Entre seu nervosismo, a subida até o apartamento e a dificuldade para encontrar aquela planta, a planta certa, Freen estava desesperada.

Presságios do Amor - FreenbeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora