Seja lá quem tivesse permitido que o sol brilhasse tão forte assim, essa pessoa precisava dar uma segurada.
Becky fechou os olhos com força contra o sol da manhã entrando pela janela ao lado da cama e, mesmo assim, um brilho alaranjado e quente penetrou por suas pálpebras, forçando-a a mergulhar o rosto no travesseiro. Com um quarto de frente para o leste, já passara da hora de investir em cortinas blecaute. As verdadeiras, não as que ela comprara numa promoção na Amazon de um vendedor terceirizado com uma única avaliação positiva, que Becky agora tinha noventa e nove por cento de certeza de ter sido escrita pelo próprio vendedor.
O sol não sabia que era fim de semana? Que ela não tinha nenhum compromisso, que não precisava fazer nada a não ser ficar na cama...
Cama.
Freen. Becky transara com Freen. Uma transa incrível, aliás.
Becky escondeu o sorriso largo no travesseiro.
Agora com um novo incentivo para enfrentar o dia, ela se virou.
A outra metade da cama estava vazia, as cobertas puxadas e enfiadas debaixo do travesseiro.
Uma verificada rápida revelou que as roupas de Freen não estavam mais jogadas no chão nem largadas pelo quarto. Freen não estava mais lá.
A dor brotou entre suas costelas, irregular e intensa, como se alguém tivesse lhe enfiado uma faca e torcido até a lâmina encontrar o ponto certo. Nem um tchau, nada.
As pessoas gostam de dizer que a definição de loucura é fazer a mesma coisa várias vezes e esperar resultados diferentes. Talvez Becky fosse louca por esperar que daquela vez fosse diferente, esperar que Freen fosse diferente. Talvez ela tivesse enlouquecido por pensar que uma coisa real pudesse nascer de um relacionamento de mentira, mas a noite anterior tinha parecido real. Em pé naquele observatório, expondo a própria alma, Becky tinha se sentido de uma forma que nunca se sentira antes. Vista, como se houvesse alguma coisa dentro dela que Freen tivesse reconhecido.
Não existia uma palavra que definisse o oposto de solitária. Algumas chegavam mais perto que outras, mas nada fazia justiça à sensação de alguém olhando nos seus olhos e se conectando a você num nível de alma.
O que Becky queria era conexão. Ver e ser vista, dar mais um passo, e que alguém, que Freen, gostasse o bastante do que estava vendo para querer ficar e ver mais.
Mas Freen não ficara. Por qualquer que fosse motivo, um que Becky talvez jamais saberia, pois o nível de rejeição que ela era capaz de aguentar tinha limites, e havia também um limite para quantas pauladas seu coração podia suportar antes que a esperança por algo melhor não conseguisse mais sustentá-la. Ela já confrontara Freen uma vez, mas aquilo tinha sido antes. Quando havia muito menos em jogo. Na época, Freen não conhecia Becky; a rejeição não tinha sido exatamente pessoal. Confrontar Freen agora, exigir saber por que ela foi embora, porque não valia a pena ficar por Becky... não era óbvio?
Não, Becky sabia entender um recado.
Levando o lençol até o peito nu, mordeu com força o interior da bochecha e, com a visão borrada, fechou os olhos e fungou com força, porque ela não queria chorar. Chorar era um saco.
Ela fungou mais uma vez. Alguém estava fazendo panquecas no prédio. Pelo menos o cheiro era de panqueca. Amanteigadas, com baunilha. Ou isso, ou era seu cérebro tentando consolar a si mesmo, assim como os gatos ronronam, fabricando seus cheiros preferidos mesmo sem eles estarem lá. Será que aquilo era sintoma de um derrame iminente? Uma convulsão? Uma pesquisa no Google decerto decretaria que ela estava com um tumor, resultante de uma condição neurológica fatal que afetava uma em um milhão de pessoas.
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Presságios do Amor - Freenbecky
FanfictionRebecca Armstrong, uma das astrólogas mais populares do Twitter, sonha em encontrar sua alma gêmea, mas, depois de apenas um encontro, tem certeza de que pode riscar Freen da lista. Ela é pragmática, certinha, cética e racional demais para alguém co...