Suéteres de Natal

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Apesar do bom senso que dizia que ninguém deveria jamais comer uma coisa maior do que a própria cabeça, as duas conseguiram terminar seus hambúrgueres e ainda dividir uma porção de chips de algas nori.

Ao sair, Becky cruzou os braços por causa do frio e sorriu para Freen, que tinha sido mais esperta e vindo de casaco. Becky ficara surpresa demais com a visita inesperada para lembrar de pegar o dela.

- Bem. Isso foi legal.

Freen assentiu.

- Foi mesmo. Obrigada pelo hambúrguer. Tem certeza de que não quer que eu pague minha parte?

Becky dispensou a oferta.

- Nah, é por minha conta.

Ela não sabia se as duas estavam paradas ali na esquina porque o sinal estava vermelho ou se por algum outro motivo.

- Certo. Bom...

- Eu te acompanho - soltou Freen. - O tempo está bom.

Estava congelando, mas tudo bem, Becky não ia discutir. Era bom ter companhia.

Elas desceram dois quarteirões, parando na esquina para esperar o sinal abrir. Quando Becky olhou para ver se estavam vindo carros, um letreiro de neon pendurado em uma janela chamou sua atenção. Ela pegou o pulso de Freen e a puxou para a direção contrária.

- O que foi? Aonde vamos? Sua casa fica para lá.

- Mudança de planos - declarou Becky, parando na frente de uma loja com uma placa dizendo O LIXO DE UNS..., o que a fez rir baixinho. - É o meu brechó favorito.

- E estamos aqui porque...?

Freen olhou para a vitrine de manequins seminus posicionados como se estivessem numa orgia.

- Porque estava quase me esquecendo da minha tradição de Ação de Graças preferida. É a única coisa estranha que a minha família faz, se é que se pode chamar assim. - Becky pôs a mão na maçaneta da porta, ansiosa para entrar e fugir do frio. - Nós usamos os suéteres de Natal mais feios e bregas que encontrarmos - explicou. - Fazemos isso há anos. Você também vai ter que usar um.

Freen não discutiu, apesar de fazer uma careta e torcer os lábios como se começasse a se arrepender do plano todo, se é que já não tinha se arrependido.

O interior da loja tinha cheiro de amaciante, produto de limpeza e, por baixo daquilo, naftalina e suor, que Becky tentou ignorar ao máximo. Contornando a arara da entrada, repleta de casacos de inverno, Becky puxou Freen para o meio da loja, onde ficavam as peças mais diferentes.

Freen puxou um vestido bufante com crinolina enfiado entre uma velha camiseta com os dizeres DIGA NÃO ÀS DROGAS e uma jaqueta de couro.

- Meu Deus. A disposição das peças não faz o menor sentido. Como é que se procura alguma coisa aqui?

- Não procura. Não de verdade. Aqui, são as coisas que tendem a encontrar você.

- Como se isso não fosse um mau sinal. - Freen pendurou o vestido de volta na arara. A barra sustentando os cabides fez um rangido baixo, e de repente a arara inteira despencou sozinha. - Merda.

Freen se abaixou, tentando arrumar a confusão. Alguma coisa verde e brilhante no meio da pilha de roupas chamou a atenção de Becky.

- Calma, calma aí.

Ela pegou o item em questão e lá estava: um suéter. E não era um suéter qualquer, mas uma monstruosidade em tricô, esdrúxula, com um Grinch bordado em paetês.

Freen recuou, esbarrando com o cotovelo em uma prateleira de sapatos.

- Ui. Não. Com certeza não. Nem se você me pagar.

Presságios do Amor - FreenbeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora