Capítulo um

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Era uma noite de novembro, uma noite que entraria para a história da Alemanha. As luzes da cidade brilhavam intensamente, enquanto uma multidão se reunia diante dos telões gigantes montados em praças públicas e salas de estar em todo o país.

Os protestos eclodiam em várias cidades, e a violência começava a surgir. Nas redes sociais, os ânimos se exaltavam, com declarações de apoio e ódio se espalhando como fogo.

À medida que os resultados das eleições são anunciados, um poderoso homem ascende à presidência, carregando consigo uma aura de influência e controvérsia. Sua vitória, porém, é longe de ser aceita por todos. Nos bastidores, inimigos políticos revoltam-se contra o novo líder.

Ela provocaria debates fervorosos, desafios à ordem estabelecida e, acima de tudo, questionamentos profundos sobre o futuro de uma nação dividida. Klaus Finkler era eleito como o 13º presidente da Alemanha. A história estava sendo escrita naquela noite, e as consequências seriam profundas e duradouras.

13 𝘥𝘦 𝘥𝘦𝘻𝘦𝘮𝘣𝘳𝘰, 2009.

Filha, agora que fui eleito, precisamos pensar na sua segurança. Estou cogitando em contratar um segurança particular para você. — Klaus dizia em meio ao êxtase, por mais que sua felicidade por finalmente estar numa posição suprema de poder não fosse de se medir naquele momento, ele se preocupava com a segurança da única pessoa que ele é capaz de amar verdadeiramente, sua primeira e única filha, Olívia.

Pai, eu entendo que sua posição envolve riscos, mas contratar um segurança para mim parece exagerado. Não quero viver com essa constante vigilância. — Eu não gostava da ideia, sabia que ele tinha grandes inimigos, mas não entendia o porquê deveria me preocupar, aliás, eu não tinha nada a ver com as confusões de meu pai.

Filha, é uma questão de precaução. A segurança da nossa família é uma prioridade agora. — Ele dizia enquanto abria mais uma garrafa de champanhe caro. — Muitos querem minha cabeça, e estar na posição que eu estou hoje, bota a sua em jogo também. — Engoli seco.

Certo. Espero que haja limite, quero manter minha liberdade e privacidade, acima de tudo. — Estava de saco cheio, nunca gostei dessa vida pública, de ter pai político. Isso custou a vida da minha mãe, ela se suicidou em 23 de setembro de 2006. Eu a encontrei, junto de uma carta, dizendo que me amava, e que não suportava mais conviver em um mundo de mentiras e crueldades. Desde então minha vida não é a mesma. Tudo ficou cinza, vazio, sem sentido.

Meu pai tenta suprir tudo isso com dinheiro. Às vezes, sinto como se o dinheiro e as coisas materiais fossem tudo o que tenho do meu pai. Parece que o afeto e a conexão emocional estão sempre em segundo plano. Isso dói mais do que ele pode perceber. Cada presente que recebo parece ser uma tentativa de compensar sua ausência emocional. Eu só queria sentir que ele se importa comigo de verdade, não apenas por meio de presentes e conforto material.

Crescer com luxos não substitui o vazio que sinto no coração. Gostaria que meu pai percebesse que não é apenas sobre o que ele pode me dar, mas sobre compartilhar memórias juntos. Às vezes, me sinto perdida em um mundo de riqueza superficial, buscando por um abraço sincero e palavras que expressem amor real. O dinheiro não pode preencher o vazio emocional que sinto desde que minha mãe se foi.

Enquanto meu pai celebra com os amigos, vejo a sala cheia de homens ricos e poderosos e percebo o quão sozinha estou. É como se eu fosse invisível, mesmo estando ali. Cada risada e brinde parece uma barreira que me isola ainda mais. Eu queria que ele notasse minha presença além das festas e do luxo, que visse a solidão que sinto em meio a essa multidão.

A sala está cheia de vozes, mas todas parecem distantes. Me sinto vazia, assistindo a uma comemoração da qual não faço parte. Enquanto ele brinda ao sucesso, eu brindo à esperança de um dia ser mais do que uma presença física, de ser verdadeiramente vista e amada.

Preciso sair daqui. — Falo sozinha, faço uma cara de cansada e me despeço de todos. Ao fechar a porta do meu quarto, deixo para trás aquela sala cheia de risos vazios. Me sinto aliviada por escapar da superficialidade e do vazio que pairam ali. Aqui, no meu pequeno refúgio, posso finalmente respirar. As paredes são testemunhas silenciosas das minhas alegrias e tristezas. Aqui, descubro a força para enfrentar o mundo lá fora, mesmo que seja apenas no silêncio das minhas reflexões.

Vejo que deixei a última foto que tirei da minha mãe na minha mesinha de cabeceira. Seus olhos gentis trazem lembranças de um amor que parece escasso agora. A cada traço do sorriso dela, recordo das histórias que ela contava, dos conselhos nas noites difíceis. Ela era a âncora que me fazia sentir completa. Mesmo em sua ausência, a foto me lembra que o amor dela permanece. Às vezes, fecho os olhos e tento recriar o som da sua risada, a sensação do seu toque. É como se ela ainda estivesse aqui, de alguma forma.

Fecho os olhos e deixo as lembranças suaves acalmarem meu coração. O silêncio do meu quarto torna-se um abraço acolhedor. Cada respiração é um passo em direção à paz que busco. Os braços do sono me esperam. A foto da minha mãe permanece ali, minha guardiã, finalmente me entrego ao descanso, esperando por um amanhã que traga mais do que as sombras do passado.

The Hell On Earth - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora