Capítulo três

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Enquanto adentramos a festa, eu e Tom passamos pelo hall decorado com requinte. Eu observo as pessoas trajadas elegantemente, todas são vazias. Os frequentadores da festa, ricos e influentes, enquanto eles trocam sorrisos superficiais e palavras cuidadosamente escolhidas. Eu não pude deixar de notar a futilidade por trás das conversas, refletida nos gestos extravagantes e nas risadas ensaiadas.

Parece que estou em um desfile de máscaras, Tom. Cada sorriso esconde mais do que revela. — Comento enquanto pego uma taça de champanhe, observo ele recusar uma outra em seguida.

A superfície brilha, mas as profundezas são obscuras, senhorita. Sabe a dança que lhe falei? todos parecem dispostos a executar. — Tom observava tudo com muita seriedade.

Minha querida, é um prazer tê-la aqui esta noite. Você está deslumbrante. — Meu pai estava radiante, ainda em completo estado de êxtase pela sua vitória. Não se importava em gastar rios de dinheiro em festas com pessoas que na primeira oportunidade, o tirariam de seus caminhos.

Obrigada, pai. Eu tento manter o padrão. — Eu estava desconfortável, mas não deixava transparecer isso pro meu pai. Em casa eu ouviria um sermão sobre como tenho que ser grata a tudo que tenho.

Essas festas são cruciais para a nossa imagem, minha filha. Precisamos mostrar unidade e prestígio. — Eu não poderia errar, em nada! Precisava mostrar a todos uma vida de família feliz, que nunca existiu. — Você entende a responsabilidade que carrega, não é? — Completou.

Uhum. Com sua permissão, preciso de um momento no banheiro, estou com problemas sabe, femininos. — Falo baixo, para que Tom também não escute.

Certamente, minha filha. Não demore muito. — Enquanto meu pai se afasta, me movo graciosamente através da multidão, encontrando discretamente o caminho para o terraço do salão, buscando um refúgio tranquilo. Tom, percebeu a fuga, procura por mim na festa movimentada, enquanto eu alcança o terraço, onde o murmúrio da festa é substituído pela serenidade da noite estrelada.

Tom's Pov

Percebo em questão de segundos, a ausência dessa inconsequente na festa e imediatamente minha expressão assume uma forma de preocupação. Eu escaneio rapidamente o salão, notando a ausência dela entre os convidados. Minha mente, treinada para antecipar possíveis ameaças, entra em alerta.

Com passos rápidos, eu verifico os corredores e os espaços adjacentes. A inquietude cresce à medida que não a encontro. O pensamento de uma possível ameaça paira em minha mente, fazendo eu agir com urgência para localizá-la e garantir sua segurança.

Porra, aonde essa peste se meteu? — Eu tento ser flexível, deixá-la ter privacidade, mas é impossível. Garota mimada e inconsequente.

Vejo uma porta velha semi aberta, e sigo na busca por ela. Após uma busca cansativa, finalmente encontro a bastarda no terraço. Meu semblante mistura alívio e uma ponta de irritação.

Qual é seu problema? não deveria ter deixado a festa sem informar. Sua segurança é minha prioridade. Que merda! — Exclamo impacientemente.

Tom, estava começando a pensar que você tinha olhos em todos os lugares. Devo ter subestimado suas habilidades. — Seu tom de voz cínico, me deixava extremamente irritado. — Oh, Tom, eu pensei que meu guarda-costas estivesse sempre um passo à frente. Devo ter cometido um crime imperdoável. — Que vontade de enterrar esse rostinho bonito vivo.

Sua segurança não é uma brincadeira, senhorita. É necessário que saiba de sua localização a todo momento. — Permaneço firme, ela precisava entender que agora haveria limites em tudo que ela fosse se propor a fazer.

Claro, Tom, porque o terraço é um lugar tão perigoso. Quem sabe o que poderia acontecer aqui? Sorte que agora eu tenho você pra me salvar, né? — Ela se aproxima, sussurrando em meu ouvido. Sinto meu corpo enrijecer, essa garota estava flertando comigo?

Ela tenta minimizar a situação com sarcasmo, eu mantenho uma postura rígida, reforçando a seriedade do meu papel, do que eu fui pago para fazer. Ela como sempre, desafiando as formalidades, tira uma garrafa de vinho que "adquiriu" discretamente e me apresenta  com um sorriso travesso.

Tom, acho que merecemos um pequeno refresco depois dessa sua busca frenética por mim, não acha? — Demônio. Era a única coisa que passava pela minha cabeça, essa garota era o completo diabo.

Senhorita, não posso me dar ao luxo de comprometer minha vigilância, mesmo aqui no terraço. Regras são regras. — Respondo firme, e a ouço suspirar dramaticamente.

Oh, Tom, sempre o guardião implacável. Pensei que poderíamos ter um momento de fuga das formalidades. E me chame de Olívia, apenas. — Ela abriu a garrafa de vinho, dando um gole no próprio gargalo, as gotas escorriam por todo seu pescoço. Se existir um Deus, que ele possa me perdoar pelas coisas que acabei de pensar.

Tom, você leva esse papel de guardião muito a sério. Às vezes, precisamos fugir das regras para sentir que estamos vivos. — Permaneço em silêncio, a mesma faz sinal para que eu me sente ao seu lado.

Olívia's Pov

O vejo relutar um pouco, por Deus, ele não poderia ceder se quer uma vez? Dou um sorriso quando vejo o mesmo se aproximar e sentar ao meu lado.

A segurança é uma desculpa conveniente para esconder a monotonia, não acha? Não se cansa de viver assim? — Quebro o silêncio.

Prefiro a monotonia à incerteza. São escolhas que fazemos para manter a estabilidade. — Ele rebate, que menino turrão.

Tom, você está sempre tão focado na segurança. Mas me diga, o que acontece quando não está em modo guarda-costas? Tem uma vida fora dessas formalidades? — Óbvio que ele tinha, mas eu queria que ele me dissesse para que eu não tivesse o trabalho de descobrir sozinha.

Minha vida pessoal é secundária, Olívia. Receio que não te interesse. — Fiquei insatisfeita com a resposta evasiva, continuo minha tentativa de conhecer mais sobre a vida de Tom, revelando um interesse genuíno por trás da minha curiosidade.

Tom, todos têm algo que os faz sair dessa rigidez ocasionalmente. O que faz você relaxar, mesmo que por um breve momento? — O mesmo me encara sério, mas posso jurar que vi um pequeno sorriso no canto da sua boca.

Nada. — Ele responde de forma fria. Ele era um enigma, e eu iria desvendar.

Que mistério você é, Tom. Deve haver algo que o faça ser mais do que um guarda-costas imperturbável. — Faço com que soe sarcástico, se ele queria bancar o jogador, então que saiba que eu amo jogar.

Talvez a minha vida seja, por si só, um mistério. Minha função é permanecer nas sombras para garantir que as luzes do palco estejam sobre você. — Desgraçado, ele não dá o braço a torcer por um segundo.

Sempre tão enigmático, Tom. Acredito que todos têm uma história que os define. A sua deve ser intrigante. — Dou mais um gole no vinho, percebo pela visão panorâmica, o mesmo me encarar descaradamente. Pagaria qualquer preço para saber o que se passa na mente dele.

Minha história é uma que se desenrola nas sombras, longe dos holofotes. Não é algo que compartilho facilmente. — Me dou por vencida, ele não me contaria sobre sua vida particular. Não agora.

Tom, você já teve tempo para relacionamentos pessoais? Alguma namorada que mantém oculta nas sombras? Já sentiu a emoção do desconhecido? — Eu precisava arrancar alguma coisa dele essa noite.

A emoção do desconhecido muitas vezes traz consigo mais riscos do que prazeres, Olívia. Prefiro manter meu terreno conhecido. — Ele responde calmante, com um sorriso leve e sarcástico.

Toda essa reserva faz de você um mistério fascinante, Tom. Talvez eu goste de desvendar mistérios. — O vinho estava fazendo uma certa modificação na minha forma de pensar e agir.

Se conseguir desvendar todos os mistérios, senhorita, ganhará um prêmio. Mas aviso que alguns mistérios são melhores não revelados. Vamos descer, seu pai já deve estar preocupado. — O mesmo se levanta e estende a mão para me ajudar a levantar. Ao chamar a atenção para o dever e a necessidade de retornar à festa, Tom continuava a manter uma linha clara entre suas responsabilidades e as minhas tentativas de escapar das formalidades. A tensão que cresceu entre nós permanece evidente.

The Hell On Earth - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora