Capítulo dez

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Enquanto Tom e Bill planejam como fazer esse vídeo chegar em meu pai, estou sentada assistindo televisão, o noticiário começa a exibir meu pai, fazendo um apelo público, mas sua expressão muda para um tom de ameaça.

Você mexeu com a pessoa errada. Vou caçar você até o fim do mundo, e quando eu te encontrar, não haverá piedade. — Eu olho para Tom, com uma expressão de medo. O mesmo toma o controle da minha mão e desliga a televisão.

Vamos logo com isso, sente ali. — Ele apontou indicando o local, era apenas uma cadeira velha, o fundo branco sendo feito com um lençol barato.

Tudo bem. — Me sento, eu estava tremendo.

Ele precisa vir sozinho, Olívia. Lembre-se disso. — Disse ríspido.

Claro. — A câmera é finalmente ligada, cada palavra, cada gesto, tudo tem que ser calculado. Espero que ele leia nas entrelinhas, perceba que não é para ele vir sozinho. Tom não pode ouvir isso, ou tudo será arruinado.

Pai, por favor, faça o que eles querem. Estou com muito medo. Eles disseram que só vão me libertar se você vier sozinho. Há algo no ar, uma tensão que não posso entender completamente. Talvez, ao enfrentar isso, você vai precisar... de apoio, assim como eu vou precisar depois. Eu te amo. — É como andar na corda bamba entre a mentira e a proteção. Ele precisa acreditar nisso, mas não totalmente. Eu só espero que ele perceba os sinais.

Você parece nervosa, há algo que não está nos contando? — Bill me pergunta enquanto me fita totalmente desconfiado.

É óbvio que ela está nervosa, porra. Mas eu já prometi que não deixaria nada acontecer com ela, não é, Olívia? — Tom sai em minha defesa.

Sim, isso mesmo. — Concordo imediatamente com o menino que sorri pra mim.

Talvez eu esteja sendo paranóico, mas quero garantir que tudo está sob controle. Não estamos deixando nada para trás, certo? — Bill quem iria mandar o vídeo pro e-mail pessoal do meu pai.

Sim, irmão, relaxa! Vai dar tudo certo. — Estou arriscando tudo, sua confiança, nossa relação, pela busca da verdade. No entanto, a dúvida persiste, e a culpa é uma sombra que não consigo ignorar. Como posso acreditar que meu pai, a âncora da minha existência, está envolto em sombras tão sombrias? Como confiar em sua luz, Tom?

Senti uma pressão intensa em meu peito, como se o ar estivesse escasso. Meus pensamentos começaram a se embaralhar, e as palavras pareciam distantes. Uma onda de calor percorreu meu corpo, enquanto minha respiração se acelerava descontroladamente. Cada batida do coração ecoava como um som endurecedor.

As minhas mãos começaram a tremer, e minhas pernas pareciam feitas de algodão. Uma sensação de desconexão se instalou, e o ambiente ao redor parecia distorcido. O mundo parecia se contrair, e eu estava lutando para focar em algo concreto.

Um turbilhão de pensamentos invadiu minha mente, criando um redemoinho de ansiedade. Eu tentava desesperadamente se agarrar à realidade, mas uma sensação avassaladora de medo me envolveu, como se eu estivesse prestes a ser engolida por uma tempestade.

Tom, percebendo a minha mudança abrupta, estendeu as mãos, oferecendo suporte. Seu olhar preocupado encontrou o meu, enquanto a crise de pânico se desdobrava, transformando o ar em algo denso e angustiante.

Eu sei que é difícil, mas estamos juntos nisso. Vamos enfrentar o desconhecido lado a lado. Você não está sozinha, e eu não vou a lugar nenhum. Vamos superar isso juntos, seja qual for o desfecho. — Ele me envolveu em um abraço caloroso, transmitindo segurança em meio ao medo.

Eu não sei o que vai acontecer, Tom. Tudo está desmoronando, e eu não sei como lidar com isso. — Cada respiração tornou-se um desafio, curta e desordenada, enquanto o ar parecia se esgotar ao meu redor.

Lembra quando você mencionou gostar de Harry Potter? Quer assistir? — Entre soluços, assenti, e Tom rapidamente preparou um ambiente acolhedor.

Depois que você me disse que era de uma seita satânica de lá, eu fui pesquisar, mas esqueci o nome, pode me lembrar? — Ele me perguntou enquanto arrumava tudo pra assistirmos.

Sou da sonserina, na verdade. E não é uma seita satânica, Tom. É uma das casas. — Respondi com a voz trêmula.

Bem, então, vamos fazer da sala um pouco mais parecida com a sonserina hoje. — Desamarrou uma bandana verde que usava na cabeça, e amarrou sobre a lâmpada, fazendo o ambiente se tornar iluminado pelo verde. — Sorri com sua atitude, nem em um milhão de anos eu esperava isso vindo dele.

Tom, assistindo Harry Potter pela primeira vez, olhou para a tela com confusão. Ele me cutucou e perguntou:

Então, esse cara de óculos é o tal do Harry Potter? Ele parece bem normal. Cadê as varinhas e os feitiços? — Não pude conter a risada com sua pergunta.

Sim, esse é o Harry. As coisas ficam mais mágicas depois. E as varinhas... Bem, você vai ver. — Ele ainda parecia intrigado.

Por que o Harry não usa essa varinha o tempo todo? Se eu tivesse uma dessas, ela seria uma extensão da minha mão, sabe? — Me perguntou, apontando para a tela.

Bem, acho que ele precisa economizar para não acabar com a bateria. — Brinquei.

E essas poções? Eles bebem isso? Parece algo que eu evitaria até mesmo cheirar. — Me questionou enquanto coçava a cabeça.

Sim, algumas são para beber. Mas acho que, se você pudesse fazer uma poção de cura para ressacas, ela seria muito popular. — Ele riu. Enquanto Tom continuava com suas perguntas hilariantes, eu apreciava a descontração que suas observações traziam ao ambiente sombrio que eu me encontrava.

Enquanto Tom ria das situações engraçadas no filme, Eu senti um aperto no coração. Observando o sorriso genuíno no rosto dele, a culpa me envolveu como uma sombra persistente. Cada risada dele era um eco doloroso de minha traição.

Eu desviei o olhar, tentando esconder o tormento. O entretenimento na tela não conseguia dissipar a nuvem sombria que pairava sobre mim. Cada riso dele reverberava em minha mente, me lembrando das escolhas difíceis que tive que fazer para proteger o meu pai.

Ao observar o brilho nos olhos de Tom, eu me perguntava se ele perceberia a farsa por trás do meu sorriso. Cada riso dele era como uma faca, cortando mais fundo em minha consciência. Eu queria compartilhar da leveza daquele momento, mas a sombra da mentira pairava entre nós.

The Hell On Earth - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora