2.

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Kessy demorou duas semanas para me ligar e estava alterada, alcoolizada em uma festa, quando o fez. Ela me chamou de tantas coisas que fiquei até impressionado com sua criatividade para xingamentos. Apesar da raiva e da mágoa, confessou que queria me ver e pediu para sair comigo. Neguei o pedido dela; não só porque estava bêbada, mas como uma punição e uma estratégia. Falei que, se quisesse me ver, ela teria que reservar o próximo sábado para termos o nosso primeiro encontro. Heyez desligou na minha cara. No dia seguinte, porém, eu recebi a sua mensagem concordando.

Combinamos de ir ao Lynch's Club, um bar que tocava umas músicas legais. Ela estava linda, e essa foi a primeira coisa que se passou na minha cabeça quando a garota saiu pela porta de sua casa quando fui buscá-la. Os cabelos voavam ao vento enquanto caminhava pela calçada até chegar na minha moto.
Kessy me olhou com certo desdém e pegou o capacete que eu segurava. Antes de colocá-lo e subir na moto, eu puxei o seu pulso e fiz com que se aproximasse de mim. Ela não esperava pelo beijo lento que eu dei no canto de sua boca; ficou nervosa e sem graça. Meu lábio se curvou num sorriso porque, mais uma vez, eu estava a intimidando.

Ao chegarmos no lugar e descermos da moto, eu segurei a mão dela e nos levei até uma mesa, reservada em um canto mais calmo do bar. Nós nos sentamos um de frente para o outro, e eu observei o seu rosto por um longo momento antes de começar a falar.

— Como foi a sua semana, anjo?

— Foi boa — ela respondeu, mordendo a boca e observando ao redor. — E a sua?

— Difícil. Estou participando de um projeto extensivo da minha faculdade, além de estar fazendo pesquisa pro meu trabalho de final de curso.

— O que você estuda mesmo?

— Ciência da Computação. Último ano.

— E com o que você trabalha?

— Nessa área. Sou cientista de dados em uma empresa.

— O que é um cientista de dados?

— Analista de informações.

— E sobre o que é o projeto extensivo e o seu trabalho de conclusão de curso? — a garota disparava uma pergunta atrás da outra enquanto mexia nos próprios dedos. Interpretei que estava um pouco ansiosa.

— Ambos sobre desenvolvimento de software.

— Parece muita coisa pra uma pessoa só. Como tem tempo pra tudo isso, e ainda sai todo fim de semana?

— Não tenho. Mas dou meu jeito.

— Como? — Heyez mordeu o lábio novamente e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Kessy estava inquieta e desconfortável, era óbvio. Talvez o motivo fosse o meu olhar sobre si. Porém, se fosse, eu não pretendia tirar os olhos dela nem por um segundo.

— Durmo pouco.

— Não faz muito bem.

Dei de ombros.

— Começando seu primeiro ano de faculdade?

— Estou. — Kessy suspirou e encolheu, como se o fato pesasse sobre seus ombros. - Medicina.

— O que está achando? — fiquei interessado em entender o motivo de, aparentemente, aquilo ser um fardo para ela.

— Acho que estou fazendo o que meus pais querem. — pareceu
decepcionada consigo mesma ao dizer.

Inclinei a cabeça para o lado e observei a garota por um instante.

— Sempre podemos mudar de direção, anjo.

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