Babygirl

14

Eu estava fumando um cigarro do lado de fora enquanto rolava uma festa. Tinha acabado de acender, e fazia menos de cinco minutos que havia ficado sozinho no quintal de trás da casa dos Heyez quando alguém apareceu para me fazer companhia.

Soltei a fumaça devagar enquanto virava a cabeça para olhar Kessy.

Apesar do escuro, eu podia ver que ela estava linda usando um vestido lilás curto e bem colado ao corpo, com saltos da mesma cor que tinham borboletas presas nas amarrações das panturrilhas dela e faziam ela parecer uma fada. Sorri com o pensamento.

- Oi, anjo.

Ela continuou parada a meio metro de distância de mim e não me cumprimentou de volta. Aliás, ela evitava me olhar. Estava quieta com o rosto virado em outra direção, encarando o nada na sombra do quintal mal iluminado.

Dei mais um trago no cigarro e esperei até que a garota cortasse o silêncio.

Fiquei olhando o céu. A lua parecia brilhar, tremer e flutuar de um jeito estranho. Quanto mais eu olhava, mais próxima parecia que estava. Eu sentia que poderia tocar nela se eu erguesse a minha mão. Eu estava me sentindo flutuando junto com a lua e a sensação era boa pra caralho.

- E aquela outra que estava aqui com você? - Heyez finalmente falou comigo.

Pisquei e virei o rosto. O cigarro estava na minha boca e eu puxei mais um trago, soltando a fumaça com os olhos sobre Kessy, que ainda se recusava a me olhar.

- Elize? - bati o polegar na ponta do cigarro, descartando as cinzas carburadas. - Não conhece ela?

- Conheço - disse, emburrada.

Observei ela por um momento.
Meu raciocínio não estava muito ágil, pelo contrário, tudo estava um pouco lento. Minha mente estava folgada, preguiçosa, relaxada assim como o meu corpo. Mas eu entendi o que estava acontecendo e o canto dos meus lábios se curvou.

Ela estava com ciúmes. Era isso.

- Então deve saber que ela gosta de mulheres - falei, levando o cigarro até a boca com o sorriso ainda nela.

- Eu sei que ela gosta - revirou os olhos. - Só não sei se ela gosta de homens também.

Heyez estava um pouco irritada e eu estava achando graça daquilo. Soltei a fumaça segurando a vontade de rir.

- Elize é lésbica, Kessy.

Finalmente a garota virou o rosto na minha direção e me olhou, sua sobrancelha arqueada, seus olhos bravos e com um olhar afiado neles.

- Não sei se é, não conheço ela tanto assim. E vocês ficaram muito tempo juntos aqui, sozinhos. Vai saber o que estavam fazendo, né.

Meu bom humor desapareceu.

Voltei meu rosto para outra direção, para não ter que olhar para uma Kessy zangada por estar desconfiada de mim.

- Fumando - eu disse, seco, a voz um pouco mais grossa do que eu gostaria. - A gente estava fumando.

Eu não estava bravo com ela, mas o olhar acusador, o tom sarcástico, ácido, e a língua afiada insinuando alguma outra coisa que ela não estava dizendo me deixavam com um pouco de raiva. Mas eu estava muito calmo. Tranquilo, apesar disso. Decidi que nada cortaria a minha vibe naquela noite, nem mesmo aquilo.

- Vocês fumaram um maço inteiro de cigarro cada um? - debochou, irônica, e deu uma risada sem graça, amarga.

Fechei os olhos e lambi os lábios devagar.