The Flame (livro II

14

Capítulo 14

Xiao Zhan 

—VEJO VOCÊ SEGUNDA-FEIRA!— Eu gritei e não me dei ao trabalho de esperar por uma resposta enquanto dirigia para os elevadores.
Não era sempre que Alexander deixava sua equipe sair mais cedo, e ainda menos frequentemente que ele me deixava. Então, quando ele me disse que eu poderia sair ao meio-dia, talvez pela primeira vez, eu não esperei que ele mudasse de ideia.

Era o fim de semana de folga de Yibo - minha sexta-feira agindo como seu sábado - e se eu pudesse ficar mais algumas horas com ele antes que ele voltasse para o quartel dos bombeiros, não os deixaria passar por mim.
Quando o elevador tocou e as portas se abriram, eu quase corri para dentro, como se de alguma forma me levasse mais rápido à garagem. Apertei o botão e estava prestes a ligar para Yibo quando pensei melhor.
Eu ia surpreender. Talvez eu pudesse até mesmo parar naquela padaria boutique que Alexander estava obcecado, aquela com os turnvers de maçã. Eu poderia pegar algo doce, algo que Yibo tenha que lamber de mim.
Sim, gostei dessa ideia.

Peguei no bolso do celular, dirigi-me para o meu carro, depois fiz a curta viagem até à padaria.
Eu decidi por meia dúzia de cupcakes e esses pedacinhos fofos que eles chamavam de ‘doses de glacê’. Se isso não gritasse, me pintasse todo e me lambesse, não sei o que faria.

Com minhas guloseimas na mão, voltei correndo para o meu lugar de estacionamento, subi, apertei o cinto e liguei a música. Eu estava de bom humor, e com o sol brilhando e nada além de um tempo sozinho com Yibo no meu futuro, eu mal podia esperar para chegar em casa.
Felizmente para mim, isso não demorou mais do que um punhado de minutos, e antes que eu percebesse, eu estava andando pelo corredor até o nosso apartamento. Quando cheguei à porta, equilibrei a caixa da padaria com uma mão e a destranquei com a outra. Eu fiz malabarismo com os itens e pressionei a alça, mas quase perdi o equilíbrio e caí dentro do apartamento em um esforço para impedir que os doces mergulhassem.
— Até parece. — Eu ri quando me peguei no último segundo e me endireitei, e então vi Yibo do lado  da porta...sentado no chão.
Isso foi estranho. Com toda a comoção, pensei que ele olharia para cima.
Mas quando ele permaneceu congelado no lugar, entrei na sala de estar e deslizei a caixa para a mesa de centro.

— Yibo... —Nada ainda.

Qualquer emoção que eu estivesse sentindo mais cedo de repente se transformou em preocupação, e foi quando eu a vi: a caixa vazia sentada à esquerda de Yibo, e ao seu redor o conteúdo daquela caixa - a caixa de Simon.
Ah, não. Eu não tinha certeza do que exatamente havia acontecido, mas quando me aproximei, vi Yibo sentado de pernas cruzadas, olhando para a
parede. Olhei para os objetos ao seu redor: uma camisa de uniforme azul, alguns livros, um par de botas e uma velha caixa de lata. Então notei que ele estava segurando algo em sua mão, seus dedos enrolados tão firmemente em torno do objeto que seus nós dos dedos estavam brancos.
Eu podia ouvir o sangue zumbindo em meus ouvidos enquanto me perguntava como melhor me aproximar dele. Eu sabia que esse assunto era doloroso, uma memória que ele enterrou tão profundamente que só saiu quando ele não estava consciente o suficiente para combatê-lo. Mas também sabia que não podia deixá-lo sofrer por isso - o que quer que fosse - sozinho. .

Parei ao lado dele, com cuidado para não perturbar os itens no chão, e lentamente me agachei ao lado dele.

— Yibo...— Eu disse gentilmente, mantendo meus olhos nele. Ele engoliu em seco, mas não olhou para mim enquanto o músculo de sua mandíbula se contraía. Ele estava quase vibrando com as emoções saindo dele, a dor e a dor em seu coração gritando no silêncio ensurdecedor.
Eu olhei para ele para ter certeza de que ele não estava ferido em nenhum lugar, sem realmente saber o que tinha acontecido antes de ele acabar aqui.
Quando fiquei satisfeito que ele estava fisicamente bem, desabotoei meu casaco e sentei no chão ao lado dele.
Eu sabia que tinha que pisar com cuidado, e não queria empurrá-lo para uma conversa que ele não estava pronto para ter, mas estava claro que algo o havia acionado e eu não podia suportar vê-lo sofrer.

—Ei você—, eu disse, tentando uma tática diferente. —O que você está fazendo sentado aqui? .

Yibo piscou. Finalmente, algum tipo de reação, uma resposta. Então ele virou a cabeça na minha direção, e levou tudo o que eu tinha para educar meu rosto para neutro quando vi a devastação absoluta escrita em seus traços.

—Oi—, eu sussurrei. —Você está sentado aqui há muito tempo?

Era como se eu estivesse falando com um estranho quando os olhos de Yibo se desviaram por cima do meu ombro. A distância em seu olhar era algo que eu nunca tinha visto antes, e lentamente estendi a mão para trazê-lo de volta para mim.
Quando tive a atenção dele novamente, gesticulei para o punho cerrado, preocupado que o que quer que ele estivesse segurando causasse danos à mão.
—O que você tem aí?

A mandíbula de Yibo se contraiu quando ele olhou para o punho, e meu coração bateu forte. Eu estava forçando muito? Ele me mandaria recuar? Mas quando ele ficou lá sentado olhando para ele, eu sabia que tinha que continuar.
—O que você vai me mostrar? Você não precisa se não quiser…

Os olhos de Yibo ficaram vítreos, e eu tive que morder minhas próprias emoções. Algo o havia provocado profundamente. O que quer que estivesse em sua mão o havia jogado fora do curso, e eu faria o que fosse preciso para ajudá-lo a voltar para casa.
—Está tudo bem, Yibo Escovei meu polegar sobre os nós dos dedos dele. —Eu estou aqui com você. Você vai me mostrar?

Ele olhou para nossas mãos novamente, e quando ele lentamente virou, eu soltei para que ele pudesse abrir o punho. Um pequeno pino de metal apareceu, e eu não tive que perguntar de quem era.

—Ele estava usando.— A voz de Yibo estava tão baixa que quase perdi.
—Naquele dia...ele estava usando isso.
Meus olhos embaçaram enquanto eu tentava compreender por um segundo o que ver isso o fez sentir, mas era impossível. Eu não conseguia imaginar o que ele passou naquele dia. Mas eu estava aqui agora, e eu podia ouvir. Eu poderia ser a luz para guiá-lo através desta escuridão.
—Isso era de Simon?— Eu me certifiquei de dizer seu nome desta vez, para finalmente trazer para a sala aquele que não estava aqui para falar por si mesmo. .

Yibo assentiu e engoliu em seco, seu corpo ferido com mais força do que um fio.
—Eu...eu não sei como ele chegou aqui. Eu pensei...
—Você pensou que estava perdido naquele dia também?

—Sim.— Os dedos de Yibo se fecharam ao redor do pino. —Eu não vi isso desde aquela manhã, e eu... nunca pensei que veria novamente.
—Você vai me dizer o que aconteceu?
Coloquei minha mão sobre a dele e, quando uma lágrima caiu na bochecha de Yibo, apertei meu aperto.

— Eu estarei bem aqui com você. -Fala-me sobre isso!

Conte-me sobre Simon…

(....)