A garota na janela

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Todos os dias que Gabriel passava, ela estava lá, com os braços apoiados no peitoral da janela, olhando a rua quase deserta. Abaixo da janela, havia um jardim, florido e cheiroso, com rosas e margaridas. Algumas vezes, quando Gabriel passava, ele notava algumas árvores no fundo, mas nunca soube do que eram.

A garota na janela sempre estava lá, com o semblante sereno e honesto. Os cabelos caiam pelo rosto e escapavam pelas grades e esvoaçavam com o vento.

Gabriel não sabia exatamente o que sentia ao vê-la, mas não era amor, com toda a certeza não era, era algo semelhante à medo e apreensão. Tudo tão estranho e intenso que nem mesmo ele sabia o que era.

Ele nunca soube seu nome, quantos anos tinha ou coisas assim, mas ela sempre esteve ali, na janela. A casa, era alta e de cor opaca, apagada pelas chuvas e pelo sol, havia um grande portão que separava um pequeno caminho da porta de entrada até o portão de saída, não havia garagem e as demais janelas viviam fechadas, exceto a da menina. Ela era lindamente pálida e seus olhos eram fundos e tristes.

Não importava o horário ou o clima, a garota na janela sempre estava lá, na janela, olhando nada além do vazio.

Naquela noite, não havia lua e o céu estava nublado por nuvens pesadas, um vento forte soprava e levantava as cortinas das casas. Naquela noite, quando Gabriel passou, ela não estava na janela e isso lhe chamou a atenção. Mas ele ignorou o fato e seguiu caminho para longe, para casa.

Semanas se passaram e Gabriel fazia o mesmo trajeto, sempre conferindo a janela, mas ela havia sumido, a janela ganhara cortinas e vivia aberta, um carro apareceu na garagem e a casa ganhou uma coloração verde viva e alegre, mas a garota sumiu.

Um dia, quando voltava, a tarde, havia um homem parado à calçada da casa, molhando algumas flores, Gabriel, impulsivamente falou com o homem.
- Desculpe, mas à que se refere?
- À família anterior.
- Oh, eles foram embora.
- Sabe me dizer quando?
- Há muitos anos, talvez vinte ou trinta.
- Que?
- Bem, eu ouvi dizer, que eles tinham uma filha, ela era bem bonita sabe, e um rapaz, talvez da sua idade, sempre a vinha ver, todos os dias e ela, como não podia sair, ficava na janela. Mas ele morreu, em um acidente, acho, ela ficou desorientada. Todos os dias vinha olhar na janela, à espera dele, mas ele não vinha. Dizem que ela definhou até morrer outros dizem que ela se matou. Mas isso faz muitos anos. Não sei como não sabia.

Gabriel sentiu enjoar-se. O estômago apertou e sua garganta arranhou.

Morta? Como não notou?

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