O castelo na colina 2

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A tal noite demorou muito para passar, a tempestade no entanto acabou durante a madrugada e depois de seu encerramento nenhuma outra gota fora derramada.

O irmão e a irmã se arrumvam para sair da casa dos hóspedes generosos. Com bolsas e vestidos pesados, a jovenzinha tentava ajudar o irmão a se despedir e juntar as coisas. Seu destino era incerto.

Saíram para conhecer as redondezas e embarcaram em uma aventura pelas muitas terras ao redor de sua casa. Deiram sua mãe e seu pai e não voltaram mais e não se arrependiam disso.

O rapaz era o mais velho, devia ter por volta de vinte e quatro a vinte e seis anos, a irmã era alguns anos mais nova, tendo cerca de dezenove ou vinte e dois. Eram tão distintos quanto idênticos. Com pesar no coração despediram-se dos donos da casa e caminharam morro a cima.

O velho senhor balançou a cabeça e disse para seu filho mais velho.
- Tsc, eles vão para o castelo. Pobres almas.

O filho manteve-se calado observando-os sumir no horizonte.

Vespera dormira muito depois de perambular a noite. Acordara estranhamente bem e com vontade de ouvir música, vontade que foi prontamente suprida. Um suave som emanava das paredes grossas, muito parecido ao cantar dos pássaros da região, doce e sensível. Vespera pulou da cama, vestiu um vestido rósea que estava encardido na barra e com pés descalços desceu as escadas torturantes até a cozinha, a luz precária não havia voltado e Vespera sentia-se como nos velhos tempos, onde dormia e acordava ao som dos pássaros e sem sequer uma lâmpada esquisita em sua casa. Detestava aquilo. A luz mal saia das fraldas e já se intrometia em sua vida. Depois de beber e enfiar algo no estômago, Vespera se jogou ao acaso, deixado que o destino carregasse seus dias. Não sabia o horário mas era de manhã, a chuva havia cessado e um calor mortal tomava conta da brisa quente que entrava pelas janelas, a noite cuidadosamente fechadas mas que foram abertas de manhã, não por Vespera.
Com balde e pás nas mãos, Vespera caminhou até o jardim, onde se esbaldou de terra e sementes, permitindo se perder em labirintos que mudam de lugar para além de muito longe.

O dia apenas ia embora enquanto os irmãos subiam a colina que assemelhava-se à uma montanha imensamente alta e sombria. Havia árvores altas e densas durante todo o trajeto, árvores essas que não estavam ali antes, mas que pareciam surgir do nada a cada passo que davam. A jovem estava reclamando de dor nos pés pequenos e o irmão carregava todas as malas sozinho, emburrado pela falação da irmã. Muitas vezes teve vontade de mandá-la ficar quieta ou de dar-lhe um tapa, mas isso seria ultrajante. Balançando a cabeça sempre que esses pensamentos o invadiam, ele seguiu caminho à frente, ouvido-a tagarelar.

Era por volta de duas da tarde quando um temporal começou a se formar. O irmão engoliu a pouca saliva em sua boca e observou o céu escurecer como na noite anterior, olhando em volta, ele percebeu que não havia casa ou caverna para se esconder da chuva e pelo aspecto das nuvens que se aproximavam, seria uma tempestade daquelas em que pessoas morriam. Aquele país, era realmente muito esquisito, pensou o irmão se voltando para a irmã. Ela tinha os olhos fixos no castelo, à alguns quilômetros de onde estavam.
- Caso chova - disse ela -, não poderemos parar.
- Por que?
- Ora, Wade, não há lugar para ficar e você ouviu o velho dizer sobre o castelo. Bem, eu não vou até lá.
- Caso chova, não temos mesmo para onde correr.
Claro, que se fossem logo, a chuva não os pegaria, pensou Wade. A chuva ainda estava muito longe e para pegá-los ela teria que correr. Acontece que nada é por acaso e os moradores do castelo já haviam planejado à muitas luas.

A chuva começou a alinhar-se à eles a medida que chegavam perto do castelo. Pobres almas, estavam destinados a morte.

Começou a pingar. A chuva se fazia forte a cada passo que davam e sem para onde ir, Wade pegou a mão de Winifred e a puxou até o portão mínimo de madeira. O muro era horrivelmente alto e largo. Provavelmente dava a volta toda no castelo, Wade bateu diversas vezes, até que alguém a abriu. A pessoa era carrancuda e parecia de mal humor. Usava um vestido rósea e tinha olhos vazios.
- Desculpe incomodá-la, mas não poderíamos entrar? Está chovendo muito e acredito que vá engrossar mais ainda.

A mulher encarou-os profundamente, seus olhos escuros maltratavam Wade. Eram carrascos olhando a vítima a ser executada.

Com um sorriso maligno no rosto, abriu passagem para eles, que encontraram receosos. O ambiente era bem amplo e o portão ficava a vários metros da porta de entrada, ela estava com as mãos e os pés sujos de barro, o que indicava que estivera mexendo em plantas.

- Apressem-se em entrar, ou ficarão doentes.

Sua voz era má e irritantemente bonita.

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