Fera Enjaulada - Tragédia

0 0 0
                                    

Acordei de manhã com o telefone tocando, ele ficava na cozinha, então tive que me levantar correndo e correr para o cômodo, no quinto toque eu o atendi.
- Oi, sou eu... Ângelo.
- Aaahh, o que é que você quer?
- Só queria ter avisar que o Mike e mais dois da nossa turma foram mortos.
- O que?
- Sim, não sabemos quem foi e muito menos como, mas os corpos sumiram.
Entrei em choque, não o suficiente para me compadecer, mas a notícia foi bem triste.
Suspirei algumas vezes de olhar o relógio e ver que eu tinha mais três horas de sono. Porra, me ligar de madrugada para contar sobre a morte de pessoas que eu nem gostava já era de mais. Eu enterrei toda a compaixão que eu poderia sentir e voltei a dormir, meio egoísta e estranho da minha parte, mas fiz mesmo assim. Mas por algum motivo, minha mente teimou em acreditar que Noel pudesse ter feito algo. Mais uma estupidez.
Quando o relógio tocou eu já estava em pé, não consegui dormir afinal. Então tomei o banho morno que aliviou minha dor muscular e corri para o serviço. Eu estava muito cansada e nem era por dormir pouco, o motivo eu não sabia. Mas me sentia muito acabada, Noel comentou que eu parecia tão abatida quanto no dia em que vi Bianca, pior que eu realmente me sentia acabada.

Alice me disse a mesma coisa. Droga, o que tinha acontecido comigo?

Assim que eu abri a porta da frente, Bianca pulou para dentro me abraçando. Minha vontade foi de empurrá-la para longe e depois chutar-lhe a cabeça diversas vezes, mas não, eu só deixei ela me abraçar e depois percebi que ela chorava e entre soluços ela me dizia coisas que eu não entendia nada. Eu a arrastei para uma mesa, a sentei e pedi para que Alice trouxesse um copo de água com açúcar. Depois de beber, ela se acalmou um pouco mas ainda em soluços me disse que Mike havia morrido. Eu não entendia exatamente por que ela chorava tanto por um cara qualquer. Quer dizer, eles nem eram tão amigos assim? Eram? Bem, eu não sabia e não tinha interesse em saber.
- Tudo bem - eu dizia passando minha mão por suas costas enquanto ela chorava mais e mais. Quando ela finalmente decidiu parar de chorar e disse que a levaria para casa para que ele descansasse um pouco e que era emoção de mais para um único dia.
- Por que isso tinha que acontecer junto à dois dias de abrirmos a cápsula do tempo?
Eu não dizia nada, apenas a consolava do meu jeito.
Com cuidado eu a levantei e a ajudei a caminhar. Devagar andamos até a cada de Bianca, no ritmo em que íamos levamos certa de meia hora. Sim, demorou muito e tudo o que eu queria era me livar dela.

Não estava com pena. Talvez eu estivesse até feliz.

Quando chegamos à casa dela, eu a entreguei para seus pai e voltei para o Café.
No Café Alice não tocou no assunto e eu também não. Não me interessava falar sobre. Eu estava bem e talvez se desse tempo eu iria ao enterro.
- Seria bom se você fosse, sabe, dar um apoio ao pessoal.
- Não sei não. Eles não precisam de mim. É melhor eu continuar trabalhando. E além disso, me disseram que o corpo sumiu, não há o que enterrar.
Ignorei o fato da morte dele pelo resto do dia e não me senti mal por isso. Muito pelo contrário. Não me importar me deu um ar de felicidade, embora a cidade estivesse envolvida em uma tensão pela morte ter sido causada por algo desconhecido.
O calor só aumentava e a maioria das pessoas só ia ao Café tomar sorteve ou beber chá ou café gelado.

Aquele dia foi sinistramente bom.

Talvez eu fosse um pouco doente da cabeça por me sentir tão feliz em meio à desgraça alheia.
Mas minha mente não descansava e por muitas vezes me peguei pensando na infelicidade de Bianca e de seus amigos. Mas eu estava confusa em relação do porquê ela me escolheu para desabafar, quero dizer, o amigo dela morreu, mas ela ainda tinha muitos outros, como o pé no saco do Ângelo.
Aquela noite, em casa, eu senti necessidade de gritar o mais alto que eu pudesse, eu só não sabia qual sentimento me impulsionava a fazê-lo. O calor me invadia e eu não tinha vontade de fazer nada se não deitar no sofá e olhar o teto vazio.
Claro que eu tinha que manter a mente ocupada, para evitar que ela viesse. Mas nem sempre era fácil. Ficar a noite em casa era um jeito de me manter longe de tudo e de todos, e eu tava indo bem no meu processo de calma e cura interior, mas não, Bianca tinha que aparecer trazendo o bando de cornos com ela e isso estragou com minha vida que já não andava muito boa.

contos da meia noite Onde histórias criam vida. Descubra agora