CAPÍTULO 1 : EVAN

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Eram duas da manhã e eu estava acordado. Mira estava deitada na cama ao meu lado. Éramos órfãos e vivíamos em Margholia  um lugar banido, esquecido  e, para sobreviver aqui, é preciso ser muito esperto, pois pode acabar sendo devorado por um dragão, um morcego, um gigante, um lobo, um vampiro e assim por diante. Sim, todas as criaturas maléficas são banidas para cá. E por que estamos aqui? Porque disseram que somos uma ameaça. Eu nunca entendi o motivo. Minha irmã e eu não sabíamos muito sobre nossos pais. Embora tenha sido por causa deles que fomos parar aqui. Éramos chamados de amaldiçoados, filhos de Éramos, um deus das trevas.

As pessoas aqui viviam na miséria. Minha irmã e eu vivíamos numa casa abandonada há muito tempo. Parecia que foi bombardeada. Um duende bem pequeno, de mais ou menos vinte centímetros, veio andando até mim pela cabeceira da cama. O nome dele era Dumble, e um fato sobre ele, embora fosse pequeno, era que ele era muito mal-humorado.E

— 
Você deveria estar dormindo, garoto!  Disse ele mal-humorado, coçando o traseiro. Ele tinha orelhas pontudas e o nariz comprido. Usava um casaco e uma calça xadrez com um sapatinho escuro. Vai entender o estilo dos duendes.

— Só estou pensando um pouco, Dumble  respondi  Devia fazer isso de vez em quando, é bom.

Ele me olhou com um olhar zangado e revirou os olhos.

Ouvimos um barulho de bombas sendo arremessadas perto de nossa casa. Levantei-me da cama e abri a cortina. O céu estava vermelho; dragões e todo tipo de criatura voadora que você possa imaginar estavam pelos céus, fazendo barulhos, assustados e nervosos.

— Isso é um sinal ruim  eu disse, olhando através da janela, suando frio.

Dumble, que estava nos meus ombros, concordou.

— Algo ruim está para acontecer...

Antes que ele completasse, uma bomba estava vindo na nossa direção, bem lentamente, mas ia explodir a nossa casa. Rapidamente, acordei Mira com um empurrão, chamando-a.

— Mira, acorda! - chamei  Temos que sair daqui!

Ela acordou, com os olhos semiabertos.

— Hum, Evan?  ela me chamou  O que aconteceu?


— Vai explodir, Mira!  eu olhei novamente pela janela, a bomba estava quase chegando  Temos que sair daqui!

Ela levantou rapidamente, e corremos para fora. Lá fora estava um caos. Várias pessoas correndo de um lado para o outro, em busca de ajuda. Havia fumaça por todos os lados. Não havia lugar seguro. Apertei firme as mãos de Mira, e Dumble entrou no bolso do meu casaco. Precisava encontrar um lugar seguro. Mas onde?

Corremos pela estrada. Havia pessoas brigando, vampiros mordendo pessoas, monstros atacando com um enorme tronco de madeira, fazendo-as voar longe. Desviei daquela matança e entrei num beco afastado. Os gritos ficaram para trás, e seguimos devagar, sem saber o que poderíamos encontrar ali.

Senti medo. Já houve ataques assim antes, mas nunca dessa forma, de modo que os monstros banidos aproveitassem para matar as pessoas que também foram banidas para cá. Minha irmã e eu poderíamos ser os próximos. Mas eu não deixaria.

O beco era escuro, e estávamos numa encruzilhada. De um lado, os gritos mortais e os ataques; do outro, apenas silêncio. Acho que você já deve saber que caminho escolhi.

Desse lado silencioso, dava para uma floresta. Não havia um canto dos pássaros, sequer animais correndo, ou vento. Não, o ar também estava parado. E estava muito frio. Estranho. Estava um frio de congelar os ossos.

Minha irmã soltou minha mão e se ajoelhou para ver algo.

— O que foi, Mira?  indaguei, tentando ver o que era.


— Há pegadas na terra  ela respondeu, mostrando uma pegada.

Suspirei, porque pelo menos era humana. E se fosse um vampiro?

Foi aí que me dei conta: não estávamos sozinhos. Sabe quando você está andando e sente que há alguém te observando? Era desse jeito que minha irmã e eu estávamos nos sentindo. Eu estava com medo. E torcia para ser apenas imaginação ou um pressentimento.

Continuamos a andar, o céu estava escurecendo, e a lua já aparecia, iluminando nosso caminho. Olhei para as árvores ao redor, que estavam carregadas de frutas. E resolvi pegar uma para mim e outra para Mira. Mas, quando olhei para ela, um vampiro vestido com um sobretudo e botas escuras estava com o braço em volta do pescoço dela, se preparando para se alimentar de seu sangue.

— NÃO!  eu berrei   Você não é louco de fazer isso!

O vampiro sorriu.

— E quem vai me impedir?  o vampiro disse  Você?

E começou a gargalhar, com sua risada monstruosa.

— Sim, eu mesmo!

As presas do vampiro estavam à mostra, e eu não fazia ideia de como detê-lo. Eu era Evan, um cara comum que morava em Morgholia e nada mais.

O vampiro veio até mim e me socou no rosto. Eu caí.

— Eu vou me alimentar de você primeiro, mudei de ideia!  ele disse, me chutando no abdômen várias e várias vezes.


— 
Pare com isso!  ouvi minha irmã gritar, assustada  Mate a mim, não a ele!

O vampiro  que estava sedento de sangue  os olhos vermelhos vidrados em minha irmã, foi até ela e falou perto o bastante do pescoço dela para dar uma mordida:


— Parece que sua irmã é mais corajosa do que você!  ele gargalhou novamente.

Eu estava com muita dor, mas mesmo assim tentei me levantar. Eu precisava ou ele ia matar nós dois. Dumble, que estava no bolso, pulou para fora e estava carrancudo, com a mão na cintura.

Vai ficar aí no chão até quando?  indagou ele  Lute logo com ele!


Eu n-não posso  falei, com a mão na barriga, que não parava de doer  Ele é forte, e eu não tenho poder contra ele!


— E vai deixar sua irmã morrer?

Dessa vez, uni toda minha força para me levantar e disse em voz alta:

— Ei, seu imbecil!  chamei  Ainda não acabei com você!

O vampiro, com a pele pálida e um estilo gótico, agora estava com os olhos vermelhos voltados para mim, babando de sede. Estava claro que, se eu não o matasse logo, ele me mataria.

Nessa hora, senti algo que nunca havia sentido antes. Meu corpo queimava por dentro. Queimava tanto que eu não fazia ideia do que estava acontecendo comigo. Era poder. Uma fonte muito forte que estava se acumulando e tomava conta de todo meu corpo. E quando olhei para as minhas mãos, elas estavam em chamas, e eu não sentia nada. Tipo, nada mesmo. Era como se as chamas fossem parte de mim, parte do meu corpo, do que eu era.

Olhei para Mira; ela estava tão surpresa quanto eu. E encarei o vampiro. Ele estava em... Pânico?

Sim, devia ser isso. Nas histórias que eu li sobre vampiros, eles eram mortos com fogo. E eu estava ali, em chamas. Completamente em chamas. Então, eu ergui minhas mãos e lancei fogo naquele maldito vampiro.

Ele gritou de dor. Logo, seu corpo virou cinzas.

E ali, estava eu. Em chamas, e eu não fazia ideia de como apagar.

— Hum, Evan?  Mira chamou  Você ainda está pegando fogo!

Dumble estava no ombro dela, ainda carrancudo.

— Você acionou isso e não sabe como desligar? — ele disse, chacoalhando a cabeça minúscula. - Que tipo de bruxo você é, se não consegue controlar seus poderes?

Bruxo? Eu não podia ser um bruxo.

— Você enlouqueceu?  falei para ele, ainda sem compreender  Eu não sou um bruxo!


— Então olhe para você, paspalho!  resmungou ele, se enfiando no bolso do casaco da minha irmã.

Fechei os olhos. Tentei me concentrar em algo que me trouxesse tranquilidade, talvez assim conseguisse "desligar" o fogo que estava dentro de mim.

— Está funcionando!  gritou Mira, animada.

Me senti um pouco melhor quando vi que tinha voltado ao normal. Abracei minha irmã.

— Obrigada por me salvar, Evan.

NASCIDO DAS SOMBRASOnde histórias criam vida. Descubra agora