Mais uns dias haviam se passado. Não recebi mais visitas de Meregalda. Algo estava acontecendo.
- Temos que colocar o plano em ação, aproveitar para escaparmos! - disse Gared - É a hora perfeita!"
Ele tinha razão, é claro, mas algo dentro de mim dizia que esse plano não ia dar certo. Mesmo assim, assenti. Era um ponto de esperança, e se houvesse algum resquício de me ver longe das torturas de Meregalda, então eu tentaria.
Esperei. Não tive mais "visitas" já fazia quatro semanas, segundo os cálculos que fiz nas paredes da minha prisão. Nem comida. Nada. Vinha perdendo peso frequentemente; os machucados já haviam cicatrizado, e com certeza minha aparência devia estar horrível. Esperei o que parecia ser uma eternidade.
Ouvi os passos de alguém se aproximando. Fiquei ajoelhada, sem forças para levantar-me. Não ia conseguir avançar sobre ela, por mais que tentasse. Meregalda abre a porta e me encara. Não está com o chicote nas mãos, mas sim com um pouco de comida, e me entrega.
Eu pego rapidamente, antes que ela mude de ideia. Tinha pedaços de frango, carne. Enfiei tudo na boca, estava com muita fome. Meregalda me encarava, o rosto impassível, cheio de rugas, envelhecido conforme a idade. Depois que terminei de comer, ela me dá água. Nem sabia a última vez que havia bebido água.
- Espero que se contente com isso, por enquanto, - disse a velha - Ônix não está aqui, ficarei tomando conta de você por enquanto."
- O que é de tão importante, que Ônix teve que sair? - perguntei.
Meregalda esbofeteou meu rosto.
- Não é da sua conta!
Eu sorri.
- Parece que você não é tão importante quanto pensa, - falei com escárnio. - Ônix te deixou aqui, enquanto ela faz coisas importantes sem você.
Minhas palavras a atingiram, pois ela me encarou com desgosto no rosto e não disse uma palavra.
- Você deve se preparar, pois quem permanece na prisão geralmente não sai vivo!
Eu a encarei, sorrindo. Coloquei a franja do meu cabelo de lado, e com muito esforço me levantei, mas consegui ficar de pé.
- Você esquece que sou uma bruxa, sua velha imunda!
Inspirei tudo o que eu havia sentido, e envolvendo meus braços, com uma cor dourada, minha magia transformou-se em uma espada. E eu sabia exatamente o que fazer.
Meregalda percebendo o meu poder, ela tentou me impedir, esticando a mão para apertar meu pescoço, mas antes que ela se detivesse a espada trespassou, cortando seu braço, fazendo o sangue espirrar por todo lado, inclusive no meu rosto. A velha começou a berrar de dor, caindo no chão.
- Eu sou uma bruxa, sua velha patética! - gritei - Me dê as chaves!
- E-está nos bolsos... - informou ela, as lágrimas escorrendo dos olhos.
Peguei as chaves do casaco esfarrapado, saí da minha prisão e fui procurar a cela de Gared.
-Gared? - chamei - Gared!
Não houve resposta.
- Gared!
Droga, onde ele está? Pensei comigo mesma, atônita.
Minha cabeça começou a latejar. Não podia perder tempo, precisava sair dali, mas antes precisava arrumar umas roupas.
Saí da prisão e fui direto subindo as escadas que levavam para cima. Fui para a direita, onde uma porta estava entreaberta, e entrei. Era o quarto de Ônix. Tinha um guarda-roupa com vários tipos de vestidos, mas não do jeito que eu precisava. Comecei a procurar, deixando de lado os que não me serviam. Até que vi um sobretudo escuro, uma calça e uma bota um pouco desbotadas, mas dava para usar.
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NASCIDO DAS SOMBRAS
Teen Fiction"Houve uma época em que bruxos e bruxas viviam em liberdade. Realizavam curas, e sempre ajudavam uns aos outros com sua magia. Mas, tudo mudou quando uma bruxa muito poderosa se rebelou, alegando que os humanos não eram dignos de sua ajuda, pois era...