CAPÍTULO 9 - MIRA

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Dias haviam se passado, e eu continuava na mesma. Meu cabelo crescera, ia até a minha cintura. E alguns dos machucados viraram cicatrizes. Aquele lugar estava me deixando louca. Continuava trancada, e apanhava todos os dias. Gritava até ficar rouca, chorava até não ter mais lágrimas pra chorar. Eu desejava a morte.

Morrer era melhor do que passar por aquilo. Meu corpo cheio de hematomas estava fraco. Havia perdido peso também. Meregalda não trazia mais nada para comer.
Minha mão queimava. A Marca que Ônix havia colocado, a maldita estrela de cinco pontas, brilhava com um brilho amarelado, como o sol, e reluzia na escuridão, e quando acontecia, ardia ferozmente. E quanto mais eu tinha ódio, mais queimava.
Evan era um pensamento distante. Tudo o que eu pensava agora era em sair dali. E ir para longe. Eu não fazia ideia de onde ir. Não tinha família, não tinha ninguém para correr. E Evan provavelmente estava com os elfos ou não sei aonde. Eu havia caído na escuridão e parado nesse lugar maldito.
Deitada com a cabeça entre os braços e sentada no chão, estava eu, apenas envolvida num silêncio profundo. Estava rouca de tanto gritar. Acho que estava ficando claustrofóbica e louca.
Merelgada, a puta velha, ficava me olhando através da barra da porta. Eu a encarava, imaginando como seria satisfatório enfiar uma faca no olho daquela vagabunda e vê-la gritar de dor, da mesma forma que ela amava fazer comigo.
Eu sorri para ela. Um sorriso largo, Meregalda sorriu de volta na escuridão. Mal sabia ela o que se passava na minha cabeça. E um dia, eu executaria meu plano vingativo.
O que me ajudava a ficar mais tranquila, eram os rabiscos que eu fazia na parede, desenhei Evan e eu em Margholia, bom, eu tentei, não era fácil formar algo tão bonito quando se tem uma parede apenas e uma pedra.
As vezes eu conversava sozinha. Sussurrava. E via coisas.
Meregalda abriu a porta da cela, e pediu que eu me levantasse, o chicote em suas mãos. Eu estava nua diante dela, meus cabelos escuros tampavam meu rosto. E sabia que ela ia erguer aquele chicote e ia começar a me bater. E assim foi. Meus gritos de dor não fazia cessar, pelo contrário, quanto mais eu gritava, mais forte ela batia. Sentia o chicote fincar nas minhas costas, fincando na minha carne, deixando uma ferida exposta. Meu sangue espirrava na parede, no meu corpo todo. As vezes eu desmaiava e acordava no dia seguinte. Minha marca começou a fumegar na palma da minha mão.
Quando pensei que aquela dor não ia parar nunca, houve uma explosão muito forte. Não consegui enxergar. A porta da minha cela foi aberta e cobras enormes invadiram o lugar, e uma voz ordenou:

- Pare! - e Meregalda trancou a prota da cela e saiu correndo com medo.
Fiquei paralisada, mais surpresa do que medo. As cobras desapareceram. E me vi sozinha novamente na escuridão.
- Q-quem é você? - indaguei.
Não podia ser verdade. Estava apenas eu ali. Eu e minha consciência e a loucura.
Mas ouvi uma voz, era a voz de um menino
- Me chamo Gared. - respondeu ele - E você?
- Mira, prazer. - falei - Quanto tempo está aqui? 
- Já perdi as contas. - ele respondeu - Como veio parar aqui?
- Bom, é uma longa história. V-você também é bruxo?
-Não, sou quase. Sou meio a meio.
- Meio ?
Ele sorriu.
- Sim. - confirmou - Meu pai é o Sr. Octaviano Lamonére. Um vampiro, assim como eu, e eu sou um bruxo.
- E como veio parar aqui?
- Bom, estou aqui desde muito tempo. Ônix é cruel.
- Acabei de perceber.
Gared riu novamente.
- Me desculpe. Eu não quis...
- Tudo bem.
- Eu já sofri muito aqui. Coisas que você nem imagina. Só sei que temos que fugir.
- Como? - indaguei.
- Você é uma bruxa, Mira. - falou Gared - Você consegue qualquer coisa!
- Jamais. Eu não sei ainda como usar meus poderes!
- Você sabe, só não consegue controlá-los!
Eu assenti.
- Precisamos sair daqui, ou passaremos a eternidade servindo ela, ainda mais você que ela tanto quer!
- Vamos começar a planejar então...
Gared arquitetou todo o plano. Eu tinha que fazer a parte mais burocrática, que era prender Meregalda á cela, e deixá-la com a boca fechada, esperar Ônix sumir para que pudessemos escapar. Mas, tinha um problema. Ônix não saía do lugar. E perambulava para lá e pra cá. Dava para ouvir seus passos pela mansão. Os pisos velhos de madeira ressoavam quando ela andava com seu salto alto para todo canto.
- Vamos ter que calcular quanto tempo ouvimos os barulhos e para onde ela vai. - disse Gared - Ela sempre segue o mesmo ritmo todos os dias!
E era mesmo. Ônix sempre dava os mesmos passos aqui e ali. Calculei todos os passos dela e passei para Gared.
- Ela vai para cima, depois desce, depois vai para cima novamente. E depois desce.
- Quanto tempo ela leva para cada canto?
- Um minuto.
- Teremos um minuto para abrir a porta e sair!
Estava ansiosa. O plano parecia bom demais. As chances de dar errado eram mínimas. Eu era uma bruxa. E podia fazer tudo. Era isso ou eu nunca sairia dali.
Por um momento esqueci das dores, da marca na minha mão, apenas pensava em um coisa: sair daquele lugar.



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