CAPÍTULO 16: MIRA

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Finalmente estava livre.
Poderia ir até Margholia atravessar a Fenda pedir que Soldar me levasse até os elfos e encontrar meu irmão, mas havia ainda algo que eu queria fazer. Algo que eu queria ter feito há muito tempo... Que me tirava o sono.
Corri o máximo que podia para ficar longe daquele lugar. Ônix não colocou ninguém para ir atrás de mim, se tivesse alguém me seguindo já teria me alcançado.
Olhei para o meu braço, as cicatrizes profundas da tortura ainda estavam presentes na minha pele.

Tantas vezes havia sofrido e dias haviam se passado. Meu cabelo estava longo e eu me sentia... Suja. A marca ardia na minha mão. Me sentia sozinha. Mas, agora tudo estava bem. Precisava fingir ser outra pessoa, não queria encontrar ninguém que pudesse me prender ou me levar de volta áquela maldita vida que eu era torturada e quase morria de fome.

Sentia saudade de Evan e do duende, maldita hora em que havíamos nos separado. Se Soldar não tivesse sido um filho da puta traidor, eu ainda estaria com eles.
Meus cabelos estavam longos, haviam crescido muito desde a última vez que estive do lado de fora. Eu era diferente de Evan em várias coisas. Agora eu sentia isso. Evan era protetor, pacífico e amigável. Diferente dele, eu era impulsiva, vingativa e desejava poder curtir a vida como eu bem entendesse.

Talvez Ônix tivesse razão, as trevas me dominam mais que qualquer coisa, mais que qualquer sentimento que já senti.
Odiava sentir isso. Evan com certeza ficaria triste ou magoado, mas era a minha vida. E a vida me fizera mudar muito.
Enquanto caminhava lentamente, observando o sol, a grama, os bichinhos que corriam e desapareciam entre as folhas dos arbustos, encontrei um rapaz de sobretudo, deitado no chão, vestia um chapéu escuro, e parecia estar cochilando. Dei um chute de leve na perna dele, que estava esticada. Ele parecia um graveto.
Ele ergueu os olhos para mim, sem se levantar e disse:

 Não tenho dinheiro.  — ele falou, e fechou os olhos novamente.

Revirei os olhos.

Não vim atrás de dinheiro. – respondi — Vim ver porque você está sentado aí, no meio do nada.

O rapaz ajeitou o chapéu e sorriu. Os dentes eram perfeitos e brilhantes.

  Perdão, mas estou apenasesperando a hora de voltar.  ele respondeu.

 Voltar?  indaguei.

O rapaz se levantou, o sobretudo esvoaçando ao vento.

— Sim, voltar.  ele disse  Pode me chamar de Luke.

 E o que está fazendo aqui?  perguntei.

 Esperando você  ele respondeu, notei a sinceridade no tom de voz dele  Talvez, você devesse visitar meu reino... Iria gostar de conhecer, certos... Lugares.

Ergui a sobrancelha e fiquei intrigada. Parecia interessante.

 E como posso ir? Onde é?

Luke me encarou e sorriu, na mesma hora asas negras surgiram por detrás, cinzas dançavam ao redor dele. Com um movimento das asas ele ficou suspenso no ar, rindo com o espanto que estava no meu rosto.

 Feche os olhos.  pediu ele, com delicadeza.

Assim que fechei meus olhos, ele me carregou nos braços e voou comigo, me levando para longe. Mantive os olhos fechados, não queria saber a que altura eu estava.

- Abra.  ele pediu, com sua voz doce, delicada e gentil.

Quando abri os olhos, estava em um lugar diferente. Um céu vermelho sangue, e a terra era seca, como se toda a água do mundo tivesse secado.
E o calor era insuportável.
Estávamos diante de um imenso muro que se estendia de todos os lados, com um portão negro no meio. O sol era vermelho e as nuvens eram negras como a noite.
Lucifer aterrissou e me colocou de volta no chão.

O que havia ali era difícil de descrever. Havia um Minotauro de mais de vinte metros de altura acorrentado, como um cão de estimação. O ambiente ao redor do Minotauro era sombrio e opressivo. O chão árido e rachado se estendia até onde os olhos podiam ver, sem qualquer vegetação ou vida. O céu vermelho sangue parecia pressionar contra o mundo, como se estivesse prestes a desabar sobre nós. As criaturas que protegiam o monstro eram igualmente aterrorizantes. Sem olhos e nariz, elas se moviam silenciosamente, suas peles escamosas refletindo a luz escassa. Seus dentes pontiagudos eram visíveis quando sorriam, e seus corpos pareciam se contorcer em formas impossíveis. O ar estava quente e abafado, como se o próprio ambiente estivesse conspirando contra nós. O imenso muro que nos cercava parecia intransponível, e o portão negro no meio parecia uma passagem para algum lugar ainda mais sinistro. Eu tremia de medo, mas também sentia uma estranha curiosidade. O que estava além daquele portão? Por que estávamos presos neste lugar desolado? As respostas pareciam tão distantes quanto o próprio horizonte.

O portão imenso se abriu, criaturas gigantes acorrentados seguiam caminho, sendo guiados por homens encapuzados com correntes negras com ferro afiado na ponta.

 Com medo?  perguntou ele sorrindo de lado.

 Quem são eles?  perguntei intrigada ao ver aquelas criaturas.

 São parte do meu exército. — Revelou   Estão levando-os para serem treinados.

 O que é esse lugar?

 Você não sabe?

Luke alçou voo novamente, e ficou suspenso no ar com suas negras e braços estendidos.

— Bem vinda ao Submundo!

NASCIDO DAS SOMBRASOnde histórias criam vida. Descubra agora