- Naaaaaaão! - gritei, mas já era tarde demais - O que você fez?
Soldar apenas riu e caminhou ao meu redor, falando com sua voz penetrante e assustadora:
- Para o Vazio. - disse - Quem sabe ela consiga sair de lá se conseguir encontrar a... Saída.
- Desgraçado! Traga minha irmã de volta!
Mas Soldar apenas ficou me encarando.
- Traga minha irmã de volta! - implorei.
- Não. - disse Soldar - e quanto ao seu pedido, jovem bruxo. Também é não!
Soldar começou a ficar vermelho novamente e a crescer, crescer e crescer... Ele estava a quase quatro metros de altura e me encarava com puro ódio. Minha magia estava drenada. Como naquela caverna em que a bruxa Ônix estava.
Devia ter um jeito de fugir, mas como e para onde? Eis a questão.
Tudo era um breu. E eu não tinha ninguém. Minha irmã foi para sei lá onde, e eu estava com um cara que se transformava quando ficava com raiva e ficava mais alto a cada minuto. O que eu ia fazer?
- Me ajude, Dumble... - pedi - Me dê uma ideia!
Dumble não disse nada.
- Qual é? Vai ficar aí sem fazer nada?
- Eu não sei, não costumo vir na Fenda fazer visita! - ele respondeu, mal humorado como sempre.
- Está com medo, rapaz? - perguntou Soldar com sarcasmo - Me enfrente, e saia daqui vivo... Ou morto!
Ele tentou me agarrar com suas mãos enormes, mas eu corri, porém não vi que sua outra mão estava vindo e voei longe contra algo sólido, seria uma parede? Era difícil saber.
Percebendo que ele estava pronto para me dar outro ataque, eu me esquivei e desviei.
- Você é bom, mas vamos ver como vai se sair com isso aqui!
O filho da mãe abriu a boca e um monte de bolinhas, umas mil eu acho, caíam no chão.
Comecei a escorregar, tentando ficar em pé eu caia, e pra piorar: fogo. Soldar abriu a boca e como uma chaminé em chamas ele soprava. Senti o ar quente, meu casaco pegou fogo. Tive que tirá-lo e agora só estava com a minha camiseta de manga curta.
E novamente ele soprou aquele fogo contra mim, eu corri. Corri o mais depressa que podia. Eu não sabia para onde, mas eu precisava me salvar.
- Não irá escapar de mim, Evan!
Ele correu ainda mais rápido, e me agarrou.
Dessa vez eu estava entre suas mãos enormes, que me apertava com força.
Senti como se meu corpo fosse estourar juntamente com os meus ossos, e estava me faltando ar. Eu não conseguia respirar.
- Me Sol... - tentei falar, mas o ar estava acabando.
Dumble apareceu no meu ombro, e ouvi ele falar:
- Sua magia vem das emoções! Controle-a através disso!
Ele tinha razão, quando eu havia pegado fogo eu sentia tanto ódio que senti queimar dentro de mim. Fechei os olhos e me concentrei o máximo que pude. Não estava funcionando, e eu não tinha mais tempo. O ar nos meus pulmões estava faltando. Eu estava morrendo. Até que senti uma pontada nos dedos. Algo estava queimando por dentro. Quando olhei para baixo, eu estava completamente em chamas.
- Eu consegui!
E, Soldar com um urro de dor, me soltou. Consegui deslizar por suas pernas enormes e cheguei ao chão.
Estiquei minhas mãos e lancei minhas chamas contra ele.
- Pare! - ele gritou - Por favor, pare!
Parei de lançar fogo, e o encarei, pronto pra atacar caso ele viesse com um contra ataque.
- Você me convenceu! E-eu vou abrir o portal para você, mas primeiro terá que passar pelo Tonadré. - ele avisou.
- O que é o Tonadré? - perguntei, confuso.
- É uma taberna. - disse - É lá que encontrarão o caminho para o reino dos Elfos. - disse - E só um conselho, os Elfos não são tão amigáveis.
Voltando á sua forma normal, ele veio até mim, suas roupas estavam rasgadas. Exibindo suas canelas finas. E até sua barba estava queimada. Segurei o riso.
- Sigam o túnel. - informou Soldar.
- Que Túnel?
Antes que Soldar dissesse algo, um Túnel apareceu na escuridão, um vento forte soprava de lá.
- Podem ir!
- É confiável?
Soldar revirou os olhos.
- Vão logo!
-E minha irmã, onde ela está?
E antes que ele respondesse, nos empurrou para dentro do túnel e caímos no que parecia um escorregador. Pois estava escorregando em algo invisível naquela escuridão toda.
Dumble se agarrou na minha camiseta.
Depois fomos arremessados numa cadeira. Uma música estava tocando e havia várias criaturas estranhas. Minotauros conversando em bando e rindo, tomando sei lá que tipo de líquido era aquele. Uma mulher com olhos cor de lua fumando, um cantor centauro, um fauno baterista, uma fada guitarrista, e um sátiro no piano. Era uma banda ao vivo. E todos estavam se divertindo. E no fundo, tinha uma mulher gemendo forte, e acho que estava rolando algo casual.
- O que vai querer mocinho? - perguntou uma mulher com duas cabeças.
- Nossa, que loirinho gostoso. - disse a outra cabeça - Quer ir pro andar de cima?
Percebi que eu estava sentado na recepção da taverna. E, eu acabei de levar uma cantada?
- hum, não. Obrigado- eu disse.
- Ah não escuta minha outra voz... - disse a mulher.
- Cale a boca, Cláudia! -disse a outra voz novamente - É por isso que sofre! Tem que aprender a dar mais o que tem no meio dessas pernas, do que esse seu coração mole!
A mulher pareceu ficar constrangida.
- Certeza que não quer nem uma Vermelha? - ela ofereceu.
- O que é isso?
- Suco de Cereja com Morango da Mata.
Assenti.
Nunca havia tomado aquilo, mas o nome era familiar, então resolvi experimentar.
Depois de uns minutos ela retorna.
O copo estava sujo por fora e grudando, vinha com um canudo cheio de gosma. O suco era meio pastoso, mas mesmo assim decidi provar. O gosto era bom, mas do nada parecia que eu havia experimentado ácido com desinfetante.
Minha boca começou a queimar. Meu corpo todo pegava fogo.
Eu havia sem querer acionado meus poderes.
Todos começaram a rir. Talvez, fosse normal isso acontecer, afinal, a bebida era horrível.
Um homem do nada veio e me agarrou pelo pescoço e sussurrou meu ouvido.
- O que faz aqui? - perguntou o homem, não consegui ver seu rosto pois ele estava atrás de mim.
- Eu desejo encontrar os elfos. - respondi.
Ele me soltou.
- Porque? - ele perguntou.
O homem se escondia num capuz, mas dava para ver sua pele morena.
- Fiz uma besteira, e soube que eles podem ajudar.
- Venha comigo. - disse.
Você deve pensar: "não confie em um estranho, Evan". Mas, que alternativa eu tinha? Eu estava num lugar desconhecido, com gente desconhecida. Minha irmã tinha sido levada para não sei onde. Não tinha alternativa.
Segui o homem. Ele nos levou para um corredor que ficava escondido. E entrou num quarto vazio. Eu entrei. Era um aposento antigo, com duas camas uma mesinha de canto e uma janela que dava para fora. A lua iluminava a escuridão.
O homem tirou o capuz. Agora consegui ver seu rosto metade era uma pele normal, com cabelos escuros que ia até o pescoço, e metade era branca como algodão, e escamosa como escamas de peixe. Nessa parte do rosto, o olho era completamente escuro. Sem a parte branca dos olhos. E a cor dos cabelos eram brancos assim como sua pele.
- Meu nome é Braker. - contou ele - Sou um dos Guardiões de Elteräth, o Reino dos Elfos. Você é um bruxo, senhor...?
- Evan. - respondi.
- Senti a aura de seu poder. - falou - Está florescendo, heim?
- Florescendo?
- Sim.
Ergui a sobrancelha, sem entender.
- É, huum... - ele pugarregou, disfarçando, percebendo que eu não fazia ideia do que ele estava querendo dizer - Bom, quer dizer que você ainda está aprendendo a controlar seus poderes...
Assenti.
- Sim. Estou com certa dificuldade - disse - e como...
- Se eu sempre tive esse rostinho belo?
Assenti novamente.
- É comum que alguns se sintam desconfortável...
- Não me senti desconfortável, só fiquei...
- Curioso? - completou ele.
- Sim. - afirmei.
Ele sorriu.
- Vamos sentar, rapaz. - pediu ele - Estou cansado da viagem.
Me sentei em uma das camas, e espereo ele me contar sua história.
- Bom, isso foi uma maldição que uma bruxa antiga colocou em mim quando eu era menino. - contou ele.
- Como assim?
- Bom, eu era um filho de um aldeão e ele se apaixonou por uma bruxa, e a traiu com outra mulher. Ela foi embora. E meu pai conheceu outra mulher, e teve um filho com ela. Minha mãe era maravilhosa. Uma mulher encantadora. Lembro como se fosse ontem, todas as pessoas que iam na nossa casa gostavam de ficar por causa de sua energia bondosa. E ela cozinhava muito bem. Seus bolos eram deliciosos. Mas o seu abraço era tudo o que eu mais amava... A bruxa descobriu que meu pai havia casado, e ela invadiu a nossa aldeia e matou meu pai e minha mãe. Eu tinha doze anos. - ele começou a limpar as lágrimas - lembro como se fosse hoje, seus olhos eram dourados e o rosto pálido, cheio de maldade e então ela soprou no meu rosto e me amaldiçoou com metade do rosto deformado.
- e o que aconteceu com a bruxa?
- Eu a matei. - disse ele - Eu a persegui durante toda a minha vida e não sosseguei até encontrá-la. E quando a encontrei, eu a matei.
- Tem como matar uma bruxa?
- Claro. - respondeu ele - Mas não posso contar ainda. Você tem a sua missão, e é seu destino. Sinto que você será capaz de grandes feitos, Sr. Evan. Seu nome será cantado por gerações. Posso ouvir um alarido de notas e sons. Mas, quero que descanse. E ao amanhecer, levarei você até os elfos!
Não tinha notado o quanto eu realmente estava cansado, embora eu quisesse saber como matar uma bruxa.
Eu havia libertado a maior ameça que haviam aprisionado. E agora eu tinha que matá-la.
Me deitei na cama, e relaxei. Dumble deitou do meu lado. Estava meio quieto ultimamente. E isso não era comum dele.
Quando adormeci, abri meus olhos e eu estava numa caverna, a prisão da bruxa, e Ônix me encarava e seus lábios estavam sujos de sangue. Suas cobras estavam pelo seu corpo todo. E ela ria.
- Não! O que você está fazendo? - eu gritava.
Mas, Ônix esboçava um sorriso cruel.
- O que você está fazendo?
Ela me olhava intensamente como se fosse me matar. Seu olhos era puro ódio.
- Estou bebendo o sangue da sua irmã, Evan.
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NASCIDO DAS SOMBRAS
Teen Fiction"Houve uma época em que bruxos e bruxas viviam em liberdade. Realizavam curas, e sempre ajudavam uns aos outros com sua magia. Mas, tudo mudou quando uma bruxa muito poderosa se rebelou, alegando que os humanos não eram dignos de sua ajuda, pois era...