CAPÍTULO 8 - MIRA

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Eu estava sozinha, deitada numa cela fria. Não havia janela para que eu visse o pôr do sol ou imaginasse estar lá fora. Apenas a escuridão me mantinha ali. Já perdi a conta dos dias. Haviam se passado, três ou quatro? Se me perguntassem, eu não saberia informar. Meu corpo tinha manchas e feridas mal curadas. Meregalda me visitava todos os dias, e me torturava. Vinha com o chicote negro e me batia várias e várias vezes segurando aquilo. As vezes pegava minhas costas, minhas pernas. Meu corpo não havia mais espaço para tantas feridas. E pior, não dava tempo de cicatrizar. Eu sempre estava com dor. As feridas latejavam. Doíam. Gemia a noite inteira e gritava para que aquilo parasse, mas Meregalda ria e continuava. "Liberte as trevas", era o que ela dizia.

Estava com frio. Até minhas roupas haviam sido tiradas de mim. Eu queria matá-la, e fugir dali. Mas, até meus poderes haviam me deixado sozinha. Para passar o tempo, eu desenhava na parede. Fazia alguns rabiscos. Desenhei Evan, Dumble e eu, alguns momentos que haviamos passados juntos. Dos tempos que tínhamos fome. Margholia era nossa punição, e como se não bastasse, eu estava sendo punida novamente.

Quando Meregalda veio novamente, vinha trazendo um prato com comida, mas o cheiro era péssimo. Um pedaço de peixe, com um molho estranho. Mas comi assim mesmo, estava com fome. Meu cabelo escuro tampava meu rosto, e o corpo tremia involuntariamente. Meregalda me dava medo. Medo de que ela me torturasse novamente. Ela me olhou e acariciou meus cabelos negros.
- Hoje não, minha querida. - falou ela, os olhos que me davam medo me encarando - Ônix deseja vê-la.
Ela me ajudou a me levantar, me sentia fraca.
Meregalda me levou para um quarto pequeno, onde uma banheira feita de madeira estava pronta, com toalhas na cama, um vestido vermelho e um sapato escuro.
- Pode se banhar. - disse Meregalda, - Mas não demore.
Entrei na água. Estava quentinha. Nunca havia feito aquilo antes, mas era muito gostoso. Me posicionei na banheira e tomei banho.
- Não esqueça o sabão! - avisou Meregalda, atrás da porta.
Peguei o sabão e esfreguei no meu corpo. A água ficou cheia do meu sangue seco que se acumulara na minha pele. Senti muita dor. Meu corpo inteiro doía. Quando terminei, me sequei rapidamente, e coloquei o vestido que Ônix havia preparado para mim.

Meregalda veio quando já estava pronta e me levou até Ônix. Usando um vestido longo arrouxeado, com um salto escuro, um batom vermelho nos lábios, e cobras no pescoço, estava a bruxa que me aprisionara e mandava Meregalda me torturar.
A bruxa que tinha dois metros de altura, a pele pálida, mas que nada era capaz de tirar sua beleza. Em sua mão esquerda segurava uma taça de vinho.

Ela me encarou, vindo até mim. Olhou para minhas pernas com feridas abertas e abriu um largo sorriso.
- Meregalda está fazendo um ótimo trabalho com você, heim? - disse, sárcastica.
Ônix se sentou numa poltrona, e cruzou as pernas.
- Você sabe porque está acontecendo tudo isso, não sabe? - indagou Ônix, bebendo um pouco de vinho.
- Não. - falei, sem olhar para ela.
- Permita-me explicar, garota. - disse - Quando completar dezesseis anos, seu poder será convocado para as trevas ou para o... Bom você sabe. E, o que estou fazendo é antecipando tudo isso. Eu a quero sentada ao meu lado, mas para isso, você tem que deixar as trevas dominarem você. É para isso que também deixei a Marca.
- E se eu não quiser?
- Não tem "e se", minha queridinha. É para isso que Meregalda está trabalhando... Libertando esse ódio, você será imparável, e quando perceber, suas trevas já terão te dominado.
- Então, é isso? É por isso que você me trouxe aqui? - indaguei, com medo. Ela queria me torturar para que eu libertasse meu ódio. Ódio por estar sendo torturada e querer matar todos. Me vingar. Ônix era muito além do que eu pensei que fosse. Ela faria de tudo para obter o que queria. E ela queria a mim.
- Não vou deixar você fazer isso! - falei, decidida - Não vou deixar meus poderes sombrios me dominarem! Eu serei como meu irmão!
Ônix começou a rir.

NASCIDO DAS SOMBRASOnde histórias criam vida. Descubra agora