As folhas das árvores balançavam conforme o vento batia nelas. Braker estava ao meu lado, parecia animado de voltar para ElTeräth. Meus pensamentos estavam em outra pessoa. Mira. Ela caíra no Vazio, e eu não pude ajudá-la, nem sabia onde ela estava. E isso me preocupava. Será que ela estava bem? Algo em meu coração dizia para eu voltar e encontrá-la, mas eu não podia. Precisava encontrar os elfos, obter ajuda deles se fosse preciso. "E só um conselho, os Elfos não são tão amigáveis". As palavras reverberavam na minha mente com o aviso de Soldar quando Mira e eu estávamos na Fenda.
- Está preocupado, Jovem Bruxo? – perguntou Braker, esporeando o cavalo.
- Sim, estou pensando em Mira. – respondi.
- Entendo. – disse ele – Você vai encontrá-la, Evan. Com certeza ela está bem.
Eu assenti, mas algo em mim dizia que não. Que algo estava acontecendo com ela.
- Eu estava pensando e se eu voltasse para procurar por ela e...
Braker interrompeu:
- Evan, certas coisas não estão no nosso controle. Não interfira no destino.
- Está me dizendo que pode ser destino minha irmã e eu seguirmos caminhos diferentes?
- Sim. – confirmou Braker, me encarando – Vocês sempre estiveram juntos, sobreviveram juntos, agora é hora de cada um sobreviver por si próprio.
Seria egoísmo que eu passasse a pensar dessa forma? Mira era tudo o que eu tinha, se algo acontecesse a ela, nunca iria me perdoar.
- Minha irmã é tudo o que eu tenho. – falei por fim.
Braker sorriu.
- É claro que sim. Agora, vamos continuar, sinto que estamos quase chegando ao Caminho das Almas.
- Caminho das Almas? – perguntei.
- Sim. – respondeu Braker, animado – Bom, quando passamos pelo Caminho das Almas é bem provável que vemos pessoas que estão na nossa mente, inconscientemente. Eles sussurram. Muitos homens deliraram e ficaram presos. Mas, não se preocupe, você está comigo.
A ideia de ter fantasmas á espreita me deixou um pouco receoso.
- Não tem outro caminho?
- Não. É o único caminho que podemos passar sem que os elfos da floresta nos veem e nos capturem. Não gosto muito deles.
- Os elfos de ElTeräth são diferentes dos elfos da floresta?
- Completamente. – afirmou – Os elfos da floresta não permitem invasores, mesmo um Guardião como eu, eles não gostam de outras partes invadindo suas terras.
- Então, os elfos da floresta dividem essa terra com os elfos de ElTeräth?
- Sim. Existe um Tratado.
- E o que é esse Tratado?
- Bom, basicamente proíbe invasores que não sejam elfos, e se não for, eles têm total liberdade para matá-los.
- Entendi. Somos humanos, certo?
- Exatamente. – Concordou Braker – Embora você seja um bruxo, ainda é um mortal.
Assenti.
- Braker, há algo que você não me contou...
Braker ergueu uma sobrancelha, intrigado.
- O que eu não te contei, Jovem bruxo?
- O que você estava fazendo lá na taberna.
Ele coçou a cabeça, um pouco envergonhado.
- Bom, de vez em quando eu dou uma saidinha.
Dessa vez eu fiquei surpreso.
- Não vai me dizer que você...
- É claro! Eu não tenho mulher, Evan, e eu preciso aliviar meu estresse.
- Chama isso de aliviar o estresse?
Braker riu.
- E você, já teve uma mulher, Evan? – perguntou Braker – Você é bonito, deve ter tido várias.
Fiquei envergonhado. Ninguém nunca havia me perguntado sobre isso. Nem mesmo Mira ou Dumble. Senti que estava corando.
- M-me desculpe, Evan. – desculpou-se Braker – Eu n-não queria...
- Tudo bem. – falei – Eu nunca pensei nisso, em... você sabe.
- Com mulher?
- Sim.
- E com...
- Não. Com nenhum dos dois.
Fiquei em silêncio. Era constrangedor falar sobre isso.
Braker começou a rir.
- Você é muito, muito interessante, senhor Evan.
Continuamos a caminhar, Braker cantarolava suas canções, enquanto olhava ao redor, percebi que logo á frente havia algo. Quando nos aproximamos vimos uma placa de madeira presa a um tronco de árvore, com algo escrito nela:
Em um recanto obscuro, delírios se entrelaçam, Onde a mente vagueia, além do que se abraça. Sombras dançam, sussurros ecoam sem fim, Nesse lugar enigmático, onde a sanidade é vã.
Braker olhou para mim e sussurrou:
- O Caminho das Almas. – anunciou ele – Fique perto de mim e em silêncio, Jovem Bruxo.
Assenti, engolindo em seco. A placa escrita era enigmática, mas dizia muito sobre o que iríamos enfrentar.
Avançamos a partir dali. Braker não cantarolava mais, apenas ficava olhando ao redor, como se a qualquer momento algo fosse aparecer. O sol estava começando a se pôr, e ali naquele lugar, só havia Braker, eu e o silêncio.
- Fique atento. – avisou.
- Acho melhor deixar os cavalos, Braker... – sugeri.
Braker assentiu.
- Também acho.
Nós nos desmontamos dos cavalos, e com muito pesar me despedi de Natsür, o cavalo azulão.
- Você foi incrível, Natsür. – agradeci, acariciando a crina do cavalo – Mas, você precisa ir.
Natsür fez uma reverência e saiu galopando, acompanhado de Marghül.
Braker e eu prosseguimos, tirei a espada da bainha e a empunhei. Havia algo no ar que fazia com que os pelos da minha nuca arrepiassem. Cada vez mais nos aprofundávamos no Caminho das Almas. Uma névoa densa começou a se alastrar por toda a floresta. E no profundo silêncio uma voz surgiu, uma voz calma, serena, que cantava uma canção de profunda melancolia.
Nas sombras da noite, o luto se aninha,
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NASCIDO DAS SOMBRAS
Novela Juvenil"Houve uma época em que bruxos e bruxas viviam em liberdade. Realizavam curas, e sempre ajudavam uns aos outros com sua magia. Mas, tudo mudou quando uma bruxa muito poderosa se rebelou, alegando que os humanos não eram dignos de sua ajuda, pois era...