CAPÍTULO 4: EVAN

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Fiquei parado, vendo aquela bruxa de 2 metros de altura se erguer no ar, as correntes se quebrando, caindo no chão, e se recuperar. Transformando-se numa bela mulher. Ela era muito linda, sua pele era branca, os olhos vermelhos e um vestido longo e escuro.
Ela me encarou e pegou o colar de minha mãos, voltando para o chão.
- Ah, muito obrigada. - disse ela, levando o colar próximo do peito -, Não sei como agradecer!
Ela gargalhou.
Olhei para minha irmã, que estava assustada demais para se mexer.
- Esperei muito por esse momento! - disse a bruxa.
- Qual é o seu nome? - perguntei.
Ela me olhou nos olhos, era tão penetrante que parecia que ela olhava através de mim.
- Meu nome é Ônix, garoto. - ela respondeu - Porque a pergunta?
- Bom, já que a libertamos, pensei que pudesse pelo menos saber seu nome...
- V-você não vai nos matar vai? - Mira perguntou, um pouco retraída.
- Ah, mas que bruxa mais tolinha... - falou Ônix, com sarcasmo - Você acha que vou deixá-los viver para que se cumpre a profecia?
Ela gargalhou novamente.
Estremeci.
- Você não pode... - respondi - Minha irmã pode não ter descoberto ainda seus poderes, mas não deixarei que encoste um dedo em nós!
Por mais que eu estivesse com medo da bruxa, jamais poderia deixar que ela se sentisse poderosa contra nós. Eu era o fogo. E o que ela era? Eu não fazia ideia. Mas, pelo menos fui convincente.
- Você acha que pode... - ela passou a unha enorme no meu rosto, arranhando-o - usar seus poderes contra mim?
Eu a encarei e respondi secamente:
- Posso.
Ela se aproximou do meu rosto, os olhos vidrados em mim, e sussurrou para que apenas eu a ouvisse:
- Tente.
Eu a encarei de volta. Fechei os olhos e só pensei em todo o ódio que podia acumular dentro de mim. Lembranças ruins. Coisas que me deixavam nervoso. Tudo. E naquele momento eu queria explodir de ódio. Mas, percebi que não vinha nada. Era como se meus poderes tivessem sido adormecidos dentro de mim. Como se eu não fosse nada.
- Onde está seu poder agora, Nascido das Sombras? - ela perguntou, sua voz ecoando pela caverna - Você não é páreo contra mim!
Ela ergueu a mão e me colocou contra a parede, era como se uma mão invisível me segurasse.
- Eu vou matá-lo primeiro! - ameaçou ela, e naquele instante eu soube que ela não estava brincando.
Ônix estava com as unhas em meu peito, tentando arrancar meu coração, puxando pela magia. Aquilo estava doendo. Meu coração batia mais rápido, senti os nervos sendo puxado, e meu coração querendo sair.
Não conseguia ver mais nada. Minha visão era um borrão.
Ouvi Mira gritar. Mas, ela não podia fazer nada. Era meu destino, e eu tinha que aceitar. Agora eu ia descnsar. Quando pensei que ia morrer, vi Ônix se contorcer e começar a gritar, me largando no chão. Mira, estava de olhos fechados, mas concentrada. O que ela estava fazendo com Ônix eu não sabia, mas estava funcionando.
Ônix estava de joelhos. Vê-la daquela jeito era impossível. Uma bruxa poderosa vulnerável daquele jeito, e sem poder se defender. Era incrível.
Mas o poder da minha irmã, não durou muito, pois ela desmaiou.
Ônix viu que o pior tinha passado, ela foi até minha irmã.
- Isso foi... incrível! - disse ela - todo esse poder. Ela será uma bruxa das trevas muito poderosa, poderíamos formar um império juntas!
Ela pegou a mão da minha irmã, quando eu fui tentar impedí-la, Ônix me encarou e me prendeu com algo escuro. Que parecia galhos de árvore, que saía das paredes e me envolvia por completo.
- "Quando for convocada para a décima sexta lua, seu poder sombrio se libertará, para as Trevas irá caminhar" - ouvi ela dizer, quase como um sussurro - "A Marca da Besta irá arder, com poder crescente irá querer vir até mim!
Quando ela terminou de falar, caí no chão. E então, a bruxa virou-se para mim.
- Você irá se arrepender de ter me desafiado, garoto! - ela disse - O dia em que me desafiar denovo, será a última vez que fará isso!
- Então, espero reencontrá-la, em breve!
Ela sorriu, e num piscar de olhos ela havia desaparecido.
Corri até minha irmã, que estava caída, peguei sua mão, agora estava uma marca escura, marcada como se fosse uma tatuagem.
A caverna estava tremendo, a prisão provavelmente seria destruída.
Ergui Mira e coloquei os braços dela envolta do meu ombro.
- Evan? - ela chamou, a voz quase não dava pra ouvir.
- Sim Mira, estou aqui...
- O q-que aconteceu? - Mira perguntou, tentando caminhar, mas estava com as pernas enfraquecidas.
- Você simplesmente atacou a bruxa e ficou fraca. - respondi - Você foi tipo, ual!
Mira deu um risinho.
- Eu não sei como fiz aquilo. - falou ela, tirando a mecha do cabelo escuro do rosto - Apenas senti.
- Você é uma bruxa, Mira. Nós somos.
Mira olhou a mão dela e parou de caminhar.
- O q-que é isso? - perguntou Mira, e eu não queria deixa-la nervosa, mas não tinha outra explicação.
- Bom, quando você estava no chão, ela deixou uma marca em você... - expliquei - Mas não deve ser nada.
Mira assentiu.
- É, não sinto nada de diferente em mim.
Eu assenti, tentando soar reconfortante. Mas, eu sabia que nada seria como antes, e Mira talvez não seria mais a mesma.
- Temos que sair daqui, a caverna vai desmoronar!
Continuei a ajudá-la, e por sorte estávamos conseguindo, a caverna estremecia, pedaços de pedras estavam caindo sobre nossas cabeças, pedaços de esqueletos, caveiras, e tudo que havia na caverna estava caindo.
Quando saímos da caverna, ela desmoronou, fazendo um barulho terrível.
Era maravilhoso poder respirar o ar novamente.
Olhei para Mira, mas ela estava prestando atenção em outra coisa: acima de nossas cabeça, o céu estava verde, uma luz verde atravessava as nuvens. Aquilo era por causa do que eu havia feito?
Dumble que estava inquieto, finalmente saiu do meu bolso, e disse:
- É ela. - falou - Eu sabia que ela iria se soltar um dia.
- Espera aí! Você a conhece? - perguntei.
Dumble pela primeira vez ficou quieto.
- Responde! - gritei.
- Você sabia onde estávamos? - perguntou Mira, ela se soltou de mim e encarava Dumble com ódio.
- B-bom sim. - disse ele - Mas..
- Por isso ficou inquieto e nos deixou sozinhos!
Dumble a encarou de volta, nervoso.
- Eu não tinha escolha, eu sou pequeno, não tenho poder contra bruxa nenhuma!
- Mas podia ter avisado, e não deixado entrarmos lá! - intervi.
- Eu não podia fazer nada!
- Podia sim! - gritei denovo.
Dumble ficou quieto e entrou novamente dentro do meu bolso.
- E não adianta fugir, ainda não terminamos!
Dumble não disse nada e ficou escondido novamente. Enfiei as mãos no bolso para pegá-lo, mas ele mordeu meus dedos.
- Ai!
Limpei o sangue com a língua e olhei para Mira.
- O que vamos fazer agora? - Mira perguntou - Voltar para a cidade?
Dumble apareceu novamente nos meus ombros e falou:
- Se quiserem a minha ajuda novamente, eu tenho um palpite. - começou ele - Vamos para ElTeräth!
- O que é isso? - Mira e eu indagamos juntos.
- Bom, é o reino dos Elfos. - revelou - Mas para chegarmos lá, teremos que passar por dentro da fenda.
- O Quê? - eu disse, com terror e assombro na voz.
A Fenda era praticamente o que nos dividia dos outros mundos, éramos separados por uma Fenda que ficava ao redor de toda a cidade prisão.
- Ninguém nunca atravessou, mas é a única opção que temos!
- Não tem como atravessamos e alertar os reinos? - indaguei, tentando encontrar outra alternativa.
- E o que acham que vão fazer quando descobrirem que vocês libertaram a bruxa mais poderosa de todas?
Fiquei em silêncio.
- E como atravessamos a Fenda? - indaguei - Não tem como descer simplesmente até lá!
- Vocês são bruxos. - respondeu Dumble - Façam a magia acontecer!
Mira e eu nos entreolhamos.
Depender de nossa magia era um caos, porque ainda não sabíamos controlá-la e o que podíamos fazer. Eu sabia como conjurar fogo, e Mira torturar a mente, mas era somente isso que podíamos fazer.
- Vamos até a cidade, e ver o que podemos fazer, temos que ir até a extremidade para chegar até a fenda e descobrirmos um jeito de passar por ela!
Mira assentiu.
Continuamos a caminhar até a cidade. A floresta estava silenciosa e ainda mais sombria. Havia corvos nos galhos das árvores. Diziam que os corvos anunciavam a chegada do mal.
Fechei os olhos. Algo havia acontecido. Uma sombra. Uma sombra furiosa, mais escuro que a própria escuridão, avançava. Não era mais eu. Eu era aquela escuridão. Estava caminhando numa espécie de vilarejo. Sussurros ecoavam na minha mente.
- A morte anuncia a vinda da bruxa. Sacrifício. Sacrifique. Morte.
Era uma voz sombria e muito poderosa.
A sombra bateu numa porta de madeira, uma casa afastada, onde ao redor só havia árvores.
Uma mulher atendeu, estava com um vestido azul bem simples, e sujo, provavelmente estivera arrumando a casa.
Ela não viu a sombra que acabara de entrar. E fechou a porta, pensou que não tinha ninguém.
A sombra caminhou silenciosamente pelo corredor. Observei a mulher abaixar-se e abraçar a filha. Foi quando a sombra investiu, deu uma facada nas costas da mãe. E outra e outra. A mulher gritava de dor. De alguma forma, a sombra sentia prazer naquilo. Ele ria enquanto esfaqueava a mulher na frente da filha. Quando a mulher já estava morta, ele investiu contra a criança que esperneava, cortando seu pescoço. Quando elas já estavam mortas, a sombra cortou as cabeças e as levou embora, deixando os corpos sem vida no chão..
Quando abri meus olhos novamente, eu estava no chão, Mira estava ajoelhada ao meu lado, os olhos cheios de lágrimas.
- Meu Deus, Evan! - ela falou - Você quase me matou de susto!
Eu me levantei, ainda sentado no chão. Estava aterrorizado demais pra falar.
- O que aconteceu, Evan! - quis saber Mira, me encarando assustada.
Olhei para ela, ainda tremendo, e respondi:
- Cometemos um terrível erro, Mira.
E as lágrimas começaram a descer pelo meu rosto.

NASCIDO DAS SOMBRASOnde histórias criam vida. Descubra agora