Confiança

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- Juliette,  fique no final da aula.

- Sim professora.

- O que se passa com Rodolffo?  Não veio mais às minhas aulas.

- Não sei.  Nunca mais falei com ele.

- Tens a certeza que ele não descobriu o nosso acordo?

- Não tem como.  Não comentei com ninguém.

- Acho bom, mas do modo que as coisas vão,  acho que o nosso acordo não vai rolar.

- Eu vou investigar e tentar que ele volte às aulas.

- Nada de me passar a perna.  Eu sei dos vossos passos.

- Eu só quero sair deste estabelecimento o mais depressa possível.

Eu odiava esta mulher.  A minha vontade era fazer já a denúncia mas na certa o assunto ia ser resolvido internamente e eu queria-a fora do ensino.

Saí dali com vontade de matar alguém.

Enviei uma mensagem para Rodolffo e marquei encontro.

- Por favor, encontra-me no café que fica a meio da rua.  Vai de carro até ao final da rua e volta na rua traseira do café.  Entra por essa entrada.  Depois eu explico. Estou na sala interior.

Fui a pé até ao café.   Pelo caminho fui olhando se alguém me seguia.  Não vi ninguém e entrei para a sala interior.

Quinze minutos depois chega ele.

- Que se passa?  Porquê este mistério de entrar por trás?

- Alguém te seguiu? Reparaste em alguma coisa estranha?

- Não.  Porquê?

- Porque não tens ido às aulas de anatomia?

- Não suporto a professora.   Como é que sabes?

- Foi ela que disse.

Juliette contou tudo o que estava acontecendo a Rodolffo.
À medida que ouvia a gravação cerrava os punhos num acto de raiva.

- Velhaca.  Porque não me contaste logo.  Tens ideia do quanto me magoaste?

- Eu sei, mas julguei que estava a agir certo.

- Ceder a chantagem nunca foi o certo.

- E as tuas notas?  E as minhas? Um ano de trabalho perdido.

- Se f@dam as notas!  Tu e eu era mais importante.  Deitaste tudo a perder por causa de uma chantagem?

Contei-lhe do meu plano para desmascará-la mas ele nem se importou.

- Se as notas são tão importantes eu volto a frequentar as aulas.

- E fica atento.  Ela diz que conhece todos os nossos passos.
Desculpa.  Amo-te.

- Amor, baseia-se essencialmente na confiança e isso provaste não ter  por mim.
Fica bem.

Rodolffo saiu pela mesma porta por onde entrou e se foi.  Eu fiquei mais um pouco e resolvi que já eram horas de ir.

Sei que o magoei, mas, sou humana, também falho.

A partir daquele dia a fulana nunca mais se dirigiu a mim.  Simplesmente me encarava com ar de deboche.

Deixei Juliette no café e a partir daí comecei a prestar atenção nos carros que me rodeavam.   Basicamente no final das aulas e quando estava de regresso a casa, todos os dias via o mesmo carro.
Anotei a placa para uma  eventualidade.

Nunca mais falei com Juliette.   Estava deveras magoado por ela não ter confiado em mim e ter demorado um mês para me contar sobre a chantagem.

No meu regresso à aula quando perguntado sobre as faltas, justifiquei com um "problemas familiares".

A partir desse dia fui dando corda para a megera se enforcar.

- Se tiveres dúvidas na matéria não exites em me pedir ajuda.  Eu posso dar-te explicações fora do horário.

- A minha mesada não comporta esse acréscimo de despesa.  Os meus pais são muito rígidos em questões de dinheiro.

- Mas nem precisa.  Eu faço grátis para ti.  Ou podemos acordar outras formas de pagamento.
Passa lá em casa para conversarmos.
Deixa eu escrever a minha morada no teu caderno.

- Quem sabe, um dia destes eu passo.

- Namoras, Rodolffo?

- Não.   Disponibilissimo.   Lindo, leve e solto, como dizem.  Mas querendo muito.

- Como eu. Não que eu não tenha candidatos mas sou muito selectiva.
Aliás, era.  Já encontrei a tampa da minha panela.

- Feliz do homem que a conquistar.
Vou indo.  Tenho outra aula.

Ela passou a mão ao longo do braço de Rodolffo e depois fez-lhe uma festa na face.

- Vai lá.  E aquele convite para explicações está de pé ou quem sabe beber um copo por aí.

- Tchau.

Tal como Ju eu iria gravar todas as conversas que tivesse com esta pessoa.
Ainda não sabia como as ia utilizar mas havia de surgir alguma coisa.

À noite deitado na minha cama ouço o toque de mensagem.

Depois desta confusão será que ainda pode haver "  nós ".

Era Juliette.

Pensei não responder,  mas eu fui magoado.  Não ia perder a oportunidade de responder.

Para haver " nós " era preciso muita dose de confiança e neste momento isso é coisa fora do nosso vocabulário. 

Desliguei o celular e fui dormir.

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