Regresso à escola

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Lídia era uma mulher jovem embora não parecesse.

Há quinze anos o seu pai entregou-a ao Manuel, seu colega de boteco  a troco de alguns copos de cachaça.
Nunca chegaram a casar de papel passado.  Isso era um assunto que Lídia nunca falava.  Para todos,  eles eram casados.

Nos seus 19 anos de idade não sabia nada.  Aprendeu com Juliette a assinar o seu nome e a soletrar algumas palavras.   Hoje com 34 anos, apesar de nova, sente-se velha e sem ideais.

A sua única preocupação é a sua filha.  Sempre a protegeu do pai e dos amigos que os visitavam e que sempre olhavam para ela com malícia.

Agora, longe de tudo, o futuro parecia ser mais risonho.  Se dependesse dela, a sua Juliette seria uma grande médica.

Antes do almoço pediram a Ana para tomar um banho e mudar de roupa.  Tinham viajado toda a noite e precisavam de refrescar-se.

Ana tinha almoço para ela mas improvisou e conseguiu uma refeição para as três.   Juliette era uma criança feliz e Lídia não parava de olhar para ela.

- Vamos voltar para a loja, Lídia.  Assim vou mostrando o trabalho que vais fazer e conversamos sobre o salário.

- Não,  Ana.  Eu vou morar aqui.  Não é preciso salário por enquanto.

- Também não é assim mãe!  Quem trabalha precisa de ser paga pelo trabalho.  Tens é que negociar com a Ana o valor tendo em conta que moramos na casa dela.

- É assim mesmo, Juliette.   Nunca deixes que ninguém te faça de trouxa.  Vou sim pagar um salário considerando toda a situação.  Eu já ia contratar alguém, pois não conseguia estar à frente da loja e fazer os arranjos.

- Vão lá para a loja.  Eu vou lavar a loiça e arrumar as nossas roupas. Depois vou lá ter.

Tudo estava perfeito.  A relação entre as três não poderia ser melhor.

Juliette era a primeira a acordar.  Preparava o café da manhã e depois delas saírem, arrumava a casa e fazia o almoço.

Após as três comerem, lavava a loiça e ia com elas para a loja.

Era curiosa.  Perguntava tudo e Ana explicava.  Às vezes ajudava a mãe em pequenos reparos ou ia até o parquinho do outro lado da rua e ficava a ver as crianças brincar.

- Lídia, as aulas vão começar.  Porque não matriculas a Juliette no liceu?

- Eu estou com medo de não conseguir pagar a escola.  Também tenho medo que o pai dela nos ache. Apesar de tudo eu não tenho a força dela.

- Deixa-te de medos.   Amanhã mesmo vamos tratar disso.  Eu ajudo-te.   Também não tenho ninguém. Vocês agora são a minha família.   Tenho um irmão mas só me visita de vez em quando.

Matricula feita, material escolar comprado.  Juliette era a pessoa mais feliz de mundo.  Ora beijava a mãe, ora Ana a quem carinhosamente já chamava de madrinha.

- Ju, vamos escolher umas roupas novas para ti.  Afinal eu quero que a minha afilhada seja a menina mais linda da escola.

- Madrinha!  Na escola usamos uniforme, não é preciso isso.

- Precisa sim. Anda lá.

5 anos depois.

Juliette tinha acabado de fazer a sua matrícula na Faculdade de Medicina de Brasília.   A sua dedicação ao estudo permitiu-lhe ter uma boa média para ser aprovada de imediato.
Não teve dúvida na escolha do curso pois era um sonho de criança.

A Medicina sempre foi a sua paixão e nos poucos momentos que podia brincar ela era sempre médica.

Do seu pai nunca mais tiveram notícias nem procuraram ter.  Tanto Lídia como Juliette decidiram apagá-lo das suas vidas.

Numa das visitas à irmã Ana, Roberto conheceu as duas.

Roberto era um homem com um porte elegante no alto dos seus 45 anos.  Viúvo há cerca de 10 nunca mais teve relacionamento com ninguém.

Sua esposa foi acometida por uma doença grave e não resistiu.  Não tiveram filhos e ele sofreu muito.

Encantou-se por Lídia e apesar dela ter resistido bastante de início hoje vivem um relacionamento há já dois anos.
Já com Juliette a cumplicidade era notória.

Roberto mudou-se para uma casa ao lado da irmã e Juliette circula entre as duas. Planejam casar em breve.

Quem ficou satisfeita foi Ju pois pela primeira vez viu a felicidade no rosto da mãe.

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