Maria Rita

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A semana passou a correr.   Eles namoraram,  fizeram trilha,  namoraram, foram à praia, namoraram, dançaram em baladas e  namoraram muito.

Rodolffo proibiu os filhos de ligarem se não houvesse um motivo muito urgente.

Juliette ainda tentou mas ele impediu que ela os contactasse.

- Não amor, esta semana é só nossa sem filhos.  Se houver problemas os avós resolvem.

- Mas eu já estou com saudades daquelas pestinhas.

- Eu também.   Mas primeiro vou matar as saudades de ti.

Nesta última noite, Rodolffo reservou uma mesa num restaurante com vista panorâmica para o mar.

A musica ambiente a  cargo de uma artista solo tornava o local romântico.

Juliette sempre adorou estes momentos a dois.  Sentia-se uma adolescente com seu primeiro namorado.

- O que eu mais quero é que nossos filhos possam encontrar companheiros tão parceiros como nós.   Apesar das nossas dificuldades sempre nos respeitámos um ao outro. Rodolffo,  eu finjo ser muito tranquila sobre isso na frente deles mas tenho muito medo que alguém os faça sofrer.

- E eu?  Nossa!  Morro de preocupação com as minhas meninas.  A gente ouve cada caso.

- Não pensemos nisso hoje.  Vamos dançar?

Entre uma dança e uma  bebida às horas passaram.  Eram quase 2 da madrugada quando regressaram para dormir.

O projecto dormir foi adiado por mais 2 horas pois deliciaram-se com o jacuzzi e banheira de hidromassagem.

Apesar de terem dormido pouco estavam relaxados.  A semana tinha sido proveitosa.

- Depois do café da manhã subiram para buscar as malas.  Eram horas de retornar à azáfama do dia a dia.

Do aeroporto seguiram directamente
para casa.  Os filhos iam no final do dia com os avós.

Segundo Lídia, Madu e Francisco portaram-se lindamente.
Juliette sabia que estes dois sózinhos nunca dão problemas.  Quando estão com a irmã mais velha é que vira caos.

Se estes dois não deram problemas, Maria Rita também não.
No entanto a mãe de Rodolffo mostrou-se bastante preocupada. A neta era muito reservada.  Vivia fechada no seu mundo.  Não era muito normal para uma jovem de 14 anos ter esse comportamento.

- Filhos, durante a semana só consegui arrancá-la do quarto um dia para irmos ao shopping.  Vivia do quarto para o jardim sempre de celular na mão.

- Nós vamos conversar com ela.

- Eu penso que a ajuda de uma psicóloga podia ser bom.

- Não te preocupes mãe, tudo se vai resolver.

Uma semana tinha passado.  Hoje Juliette ia passar a tarde só com Maria Rita.
Ela ficou muito contente ao contrário dos outros dois filhos que teimavam em ir também.

- Outra dia vamos todos.  Hoje é só programa de senhoritas maiores de 14.

Foram as duas às compras e ao cinema.   Maria Rita escolheu o filme.  Uma história de amor.
A minha filha está apaixonada,  pensou Juliette.

O filme era bem meloso.  Meio chatinho e nenhuma das duas gostou.

Fomos almoçar no shopping mesmo  e como não estava muita gente, escolhemos uma mesa afastada.

Pedimos os nossos pratos e eu puxei a conversa.

- Conta à mãe o que se passa contigo que a avó disse que quase não saíste de casa?

- A avó exagera.  Eu até vim aqui com ela.

- Sim.  Ela disse.  É o Rafael?

- Mãe!  O Rafael é apenas meu amigo.  Eu sei que ele gosta de mim mas eu só sinto amizade por ele.   Gosto de conversar com ele.

- Então quem é?

- Prometes não te zangar?  É um rapaz que eu conheci na Internet.   Tem 18 anos.  Só conversámos, nunca o vi pessoalmente.

- Sabes que é errado isso.  Há pessoas mal intencionadas escondidas atrás desses perfis.   Isso dura há quanto tempo?

- 2 meses.  Ele diz que vai marcar para a gente se conhecer.

- Mostra-me lá a página dele.

Maria Rita abriu a página e mostrou a foto de um jovem alto, musculado e tatuado.

- Ele sabe a tua idade?  Não lhe mentiste?

- Não mãe.  Eu não minto.  Eu disse a minha idade certa.

- Eu não estou muito segura quanto a essa página.   Confias na mãe e no pai para descobrir quem é essa pessoa?

- Achas que ele me mente?  Ele está sempre a dizer que gosta de mim e me quer ver.

- Prometes não marcar encontro nenhum sem eu saber?
Vocês falam apenas por mensagens?

- Sim.  Ele já me pediu fotos mas não enviei.  Ele não quis videochamada.

- Vês, tem coisa estranha aí.  Eu vou ter que conversar com o pai.

- Ele vai zangar-se comigo.

- Não vai se tu deixares nós averiguarmos esse fulano.  Ele não é quem diz ser.
Tu sabes de casos de meninas que foram enganadas e depois estuprada, não sabes?

- Sei.  Achas que pode ser isso?  Olha, uma mensagem dele.

- Mostra aí e responde o que eu disser.

Mensagem

Olá.  Onde estás?

Olá.   Estou em casa com os meus pais e irmãos.

Podes falar à vontade?

Sim, posso.

Queria tanto ver-te.

Eu também.

Podemos combinar um sitio? Amanhã.

Amanhã tenho aulas todo o dia.

Falta a uma aula e vais ter comigo.

Onde?

Eu pego-te no portão da escola.

Eu falto à última aula às 15 horas.  Depois levas- me de volta à escola porque eu sempre volto para casa com os meus irmãos mais novos.

Vai ser bom a gente se conhecer.

Vai sim. De certeza que tu vais lá?

Claro que sim.  É minha oportunidade.  Não contes a ninguém.

Não conto não.  Fica sendo nosso segredo. Até amanhã.

Até amanhã xuxu.

- Estás a ver filha!  Uma pessoa que te incentiva  a faltar às aulas e te pede segredo para um encontro não pode ter boas intenções.   Vou ter que ficar com o teu celular por agora.

- Está  bem mãe.  Eu confio em vocês.
Sei que é para o meu bem.

Apesar de parecer calma, Juliette estava  fervendo por dentro.

Terminaram o almoço e resolveram que já eram horas de voltar.

Entraram em casa as duas abraçados e Juliette deu um beijo na bochecha da filha antes de lhe entregar uma das sacolas que tinha na mão.

- Vai guardar isso.  Depois conversamos com o pai.

Rodolffo percebeu pela cara de Ju que alguma coisa não estava bem.

Antes que ele perguntasse alguma coisa ela foi logo dizendo que mais tarde conversariam.
Precisava que a casa estivesse mais tranquila e silenciosa.

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