A amizade entre os dois crescia a olhos vistos.
Sempre que os horários coincidiam Rodolffo buscava Juliette em casa e trazia de volta.
Ele já tinha sido apresentado a Lídia, Roberto e Ana.Lídia e Roberto entretanto casaram numa cerimónia íntima e discreta.
Juliette estava muito feliz com o casamento dos dois. Finalmente a mãe tinha um bom marido e a filha quase concretizando o sonho.
Mas nem tudo eram rosas. Ana adoeceu subitamente. Lídia e o marido assumiram a loja temporáriamente.
Roberto tinha o seu próprio negócio de importação/exportação. As frutas eram o seu material comerciável. A sede da empresa era mesmo em Brasilia o que facilitava tudo.
- Se a minha irmã não resistir temos que encerrar o pronto a vestir.
- Coitada da Ana. Não merecia.
Por volta das 10 horas da manhã, em mais um dia igual a tantos outros, Juliette estava na loja a ajudar a mãe e a Roberto.
As duas estavam na sala de costura e Roberto terminava de atender uma cliente quando um homem simples entrou.
- Bom dia senhor.
- Bom dia. Em que posso ser útil?
- Me disseram que aqui trabalha uma mulher chamada Lídia. Eu precisava de falar com ela.
- E sobre o que o senhor quer falar com a minha esposa?
- Sua esposa? Esta Lídia que eu falo é minha mulher. Deve ser outra pessoa.
- Deve ser.
Roberto conhecia a história de Lídia com o marido.
Pensou em deixar o caso assim mas sabia que o homem voltaria.- Espere um momento. - ele deixou Manuel na frente da loja e chegou à porta da sala de costura.
- Lídia, Juliette, eu não queria que isto acontecesse mas vocês precisam ver com os próprios olhos.
- O que foi? Mais problemas?
- Ali - e apontou para Manuel.
Lídia quis esconder-se mas Roberto colocou o braço por cima do ombro dela.
- Não adianta fugir. Eu estou contigo.
- Lídia, Juliette, finalmente! Procurei-vos por toda a parte.
- Quem me dera nunca nos tivesses encontrado, diz Juliette.
- Porque estás abraçada a esse homem?
- Porque este é o meu marido.
- O teu marido sou eu. A prova disso é a nossa filha.
- Eu não sou prova de nada. Tu nunca casaste com a minha mãe. Agora sim ela é uma mulher casada.
- Eu deixei de beber. Desde que saíram lá de casa nunca mais bebi.
- Isso não altera nada. A nossa família agora é outra e tu não cabes nela. Procura o teu rumo.
- Eu não tenho nada. Nem emprego nem dinheiro. O último eu peguei para o ónibus. Só me resta a casa lá na roça.
Lúcia pegou numa quantia de dinheiro e entregou para ele.
- Toma. O dinheiro que eu e a Juliette trouxemos quando fugimos. Já não nos faz falta. Volta para casa e esquece a gente.
- Juliette, eu sou teu pai.
- E daí? Só te lembras agora? Já vens tarde.
Vai embora, não te queremos aqui.Manuel saiu sem dizer mais nada. Ele sabia que não tinha agido bem e não tirava a razão delas.
Voltaria para a roça e ia recomeçar.Depois deste acontecimento não havia clima para nada. Os três seguiram para casa almoçar.
Às 14 horas, Rodolffo passou para buscar Juliette. Hoje não tinham aulas e iam passear.
- Vamos onde?
- À praia.
- Não trouxe biquini.
- Vamos só caminhar e tomar um sorvete.
Fizeram o caminho em silêncio. Rodolffo estranhou mas não disse nada até estacionar o carro numa àrea florestal que dava acesso à praia.
- O que aconteceu que estás tão calada?
- Problemas, deixa pra lá.
- Não. Conta. Não é para isso que são os amigos?
- O meu pai apareceu. Lágrimas rolaram pela falta e dela.
- E depois? disse ele limpando as lágrimas com os seus dedos.
- Mandámos ele regressar. Mas doeu um bocadinho. Sei que é meu pai, mas portou-se muito mal.
- E agora está a pagar. Vem cá. - puxou-a para si e abraçou-a.
Ela escondeu a cara no pescoço dele enquanto ele lhe afagava os cabelos.
- Cheiroso demais!
- O quê?
- O teu cabelo é muito cheiroso.
- Tu também és.
Rodolffo apertou-a mais ainda. De seguida segurou-lhe o queixo com uma das mãos e beijou-a levemente.
- Juliette Vilar, deixas eu namorar contigo?
Ela arregalou os olhos com espanto e ficou calada. Parecia estar a escolhendo as palavras.
- Eu nem sei o que dizer. Não esperava.
- Não me digas que nunca desconfiaste dos meus sentimentos?
- Quer dizer! Já, mas não pensei que fosse hoje.
- E a resposta, vem hoje?
- Sim.
- Sim, o quê? Sim vem hoje ou sim namoras comigo?
- Tu perguntaste se eu deixava tu namorares comigo.
- E então?
- Eu deixo tu namorares comigo se tu deixares eu namorar contigo.
- É pra ontem. - Rodolffo tirou as duas alianças do bolso e colocaram nos respectivos dedos.
- De caso pensado, ela disse.
- Desde que te vi.
Depois do beijo que selava o compromisso, desceram do carro e caminharam de mãos dadas até à beira da àgua.