Juliette passou a noite acordada velando o sono de Rodolffo.
De madrugada foi tomar um banho e quando regressou encontrou-o acordado.
- Oi, meu amor! Dormiu bem?
- Oi vida. Dei-te um susto. Ainda não entendi o que aconteceu. Foi tudo tão rápido.
- Lembras-te de mim? Do acidente?
- Claro que me lembro de ti. Como não havia de lembrar?
- É que ontem à noite não te lembravas.
- Ontem? Eu vi-te após o acidente?
- Sim, mas não tem importância. Como te sentes?
- Com dor na cabeça e no peito. O que eu tive?
- Precisaram operar para retirar um coágulo que se formou por conta do choque. No peito é só dolorido mesmo.
- Nossa, amor. Foi tudo tão rápido. E o outro carro?
- O único ocupante morreu. Um homem de meia idade.
- Homem? Eu ia jurar que era o carro da professora Aida. Ele vinha atrás de mim momentos antes mas não consegui ver quem conduzia.
- Talvez a polícia tenha mais dados sobre o assunto.
Os teus pais estão chegando para te ver.- Quando posso ter alta?
- Não sei. Precisas de passar por novos exames. Ontem estavas bastante confuso. O meu colega daqui a pouco já te vem ver.
- Passaste a noite aqui? Não dormiste?
- Um pouco.
Os pais de Rodolffo chegaram e ela aproveitou para ir buscar o café para ela e Rodolffo.
- Filho, quando tiveres alta, vai lá para casa.
- Não mãe. Fico na minha.
- Não podes estar sózinho.
Juliette vinha a chegar com o café.
- Eu não vou estar sózinho. Ju vais ficar lá em casa comigo? A mãe quer que eu vá para casa dela.
- Vou, mas eu preciso trabalhar.
- Mas eu não preciso de bábá 24 horas. Eu mexo bem os braços e as pernas.
- Tu é que sabes.
- Pai, podias tentar saber mais pormenores do acidente. Eu não acho que foi acidente. Aquele carro não apareceu ali do nada.
- Vou saber. Já vamos. Se pensares melhor vai lá para casa. A Ju também pode ir.
- Está bem, obrigado.
Os pais saíram e eles começaram a comer.
- Ju, eu tenho uma cicatriz grande na cabeça?
- Não. É coisa mínima. Só rasparam demais o cabelo.
- É capaz de ter que trancar a faculdade.
- Oh gente, porquê?
- Então Ju! Como vou para a faculdade careca? O meu cabelo, não podiam tirar.
- Não acredito no que estou ouvindo.
Cabelo cresce homem!- Mas demora. Vou usar boné.
- Ou eu tiro o resto, se não deixares de ser besta.
- Qué beijinho.
- Queres? Não tens. Vem tomar banho. Deixa eu remover essa protecção no peito. Depois coloco de novo.
- Dás-me banho? Eu não consigo sozinho.
- Ainda agora disseste que tinhas braços e pernas.
Está bom, eu ajudo.Perto das 11 horas chegou o médico para dar alta a Rodolffo.
As recomendações eram de muito descanso. Nada de actividades físicas intensas e que requerem movimentos bruscos e rápidos.
- Entendeu senhor Rodolffo? questionou Juliette.
Dias depois o pai de Rodolffo ligou a contar sobre o acidente.
Aparentemente Aida havia terminado o seu casamento quando começou a chantagear Juliette. O marido ficou a saber do motivo, até porque ela não escondeu.
Ele era obcecado por ela e quando ela deixou o país, jurou que faria o Rodolffo pagar pelo término do seu casamento.
Tomou o carro que a ex deixou e atirou-o deliberadamente contra o de Rodolffo. Tudo isto foi descoberto através de uns apontamentos encontrados no carro. Aparentemente ele conhecia todos os passos de Rodolffo.No dia do regresso à faculdade, Rodolffo vestiu-se que nem um adolescente e colocou o boné.
- Não precisas disso. Já mal se nota. O cabelo já cresceu.
- Sim, mas ainda está curtinho. Muito diferente do outro.
- Então corta todo curtinho!
- Nem sonhes. Eu espero ele crescer.
Quando mudas de vez para cá?- Vou pensar no teu caso. Agora deixa eu ir. Volto às 20 horas. Tens aulas no hospital?
- Está semana não. Eu preparo o jantar.
- Tchau, até logo. Amo-te. Boas aulas.
- Também te amo. Até logo. Bom dia de trabalho.
Era o primeiro dia de aulas após o acidente e também o primeiro em que pegava num carro.
O seu carro ficou sem conserto e enquanto o seguro não resolvia o pai emprestou-lhe um dos dele.
Entrou no carro e sentiu um aperto no peito. Começou a ter suores frios e a passar mal. Saiu do carro e voltou a entrar em casa. Juliette já tinha saído.
Depois de passar àgua no rosto, tomou um copo de àgua e pediu um carro de aplicativo. Estava ansioso demais e isso era um sinal para não sair dirigindo.
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