O osso é meu

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Os dois dias de descanso resultaram em cansaço.   Mas era um cansaço gostoso.
Rodolffo e Juliette passearam, namoraram muito e juraram amor eterno.

Trocaram aprendizados de todo o tempo separados.  Rodolffo estava curioso sobre a missão da Ju à Indonésia.

- Se eu fosse ficar sózinha o resto da vida eu andaria por esse mundo fora sempre ajudando em catástrofes.
Mas eu quero uma família.  Um marido e filhos.

- Filhos, é?

- Sim.  Dois pelo menos, mas eu gosto de números ímpares, então serão três.

- Já amei.

- E tu?  Que vais fazer depois da licenciatura?

- Casar com uma médica gostosa que eu conheci e fazer três filhos.  Ah! E no intervalo eu exerço medicina.

- Não é cedo para casar?

- Quer dizer.  Eu  nem faço questão de casar no sentido certo da palavra.  Mas viver com a minha mulher eu quero rápido.

Agora, tu vais para tua casa e eu para a minha.  Que graça tem?  Eu quero nós dois juntos, mas só quando não depender dos meus pais.
Por enquanto tem que ser assim.

- Mas eu posso assumir as despesas até te formares.

- Poder,  podias mas não quero.  Vamos ver-nos diáriamente  e ficamos juntos aos fins de semana. Está bom assim?

- Bom não está, mas fazer o quê?  Eu entendo o teu ponto de vista.

- Agora temos que regressar. Amanhã é dia de trabalho.

- Vais ao hospital,  amanhã?

- Vou.  De tarde.  De manhã tenho aulas.

- Vais ver a  Bia?

- Juliette!! Não vais ter ciúmes da Bia.  Ela é boa menina.  Um tanto tolinha.
Se eu quisesse alguma coisa com ela já tinha tido.

E já agora como vai ser o nosso relacionamento lá dentro?

- Discreto qb., mas quero que todas saibam que és meu.

- Então posso dizer que és a minha namorada?

- Assim que a Bia souber, todo o hospital vai saber.

- Temos que ir embora, mas falta uma coisa.
Já disse que te amo, hoje?

- Se contar que o dia começou à hora de almoço ainda não.

- Que falha minha.  Perdoa amor.  Amo-te minha princesa.

- E eu amo-te,  meu rei.

Depois de um beijo, despediram-se do local e partiram.

No dia seguinte O ambiente no hospital estava caótico.

Um surto de gripe sazonal levou uma quantidade anormal de pacientes às urgências.

Era hora de almoço e Juliette ainda não tinha parado.

- Doutora, precisa de fazer um intervalo para comer.

- Depois Lurdes.  Ainda há muita gente para atender.

- Mas hoje não vai abrandar.  Pela amostra da sala de espera hoje é sem descanso.

- Lurdes, sabes se o estagiário gato da Bia já chegou?

- Não,  porquê?

- Vou contar um segredo.  Logo não será mais segredo.
Ele é meu namorado.

- Sério,  doutora? O Rodolffo?

- É.  Começámos a namorar na faculdade.

- Por isso ele não dava moral a ninguém.   Coitada da Bia.  Ela tinha esperança apesar dele nunca ter dado motivo.

- Verdade.  Ele contou-me que todos acham que ele é gay.

- Ele sabe?

- Claro.  As fofocas rolam rápido.

- Ele é muito lindo.  Com todo o respeito até porque sou comprometida.

- Sem stress, Lurdes.

- Vais à cafetaria e trazes-me uma9 sanduíche e café com leite? Vou comer mesmo aqui.

Lurdes desceu à cafetaria e pelo caminho encontrou Rodolffo com um café na mão.

- Bom dia, Rodolffo.

- Bom dia.

- Desculpe a minha ousadia.  Vou buscar um lanche para a sua namorada que até agora não comeu nada.  Dê-lhe um puxão de orelhas.

- Sério?  E eu que levava este café para ela.  Vou consigo e compro uma refeição decente.

Rodolffo comprou um risoto de cogumelos e camarão pois era rápido de comer, uma salada de fruta, um suco e café.

Deixou a Lurdes a almoçar e seguiu até ao gabinete da Ju.

- Toc, toc, toc.

- Pode entrar.

- Foi daqui que pediram almoço?

- Oi, meu amor.   Eu pedi à Lurdes uma sanduíche.

- Eu sei, mas sanduíche não é almoço.   Tens que te alimentar.

- Vou aproveitar que estou à espera de uns resultados de exames.

  Eu trouxe uma coisa fácil de comer.
Já  vou, está na minha hora.  A que horas sais?

- Não faço ideia.  Hoje é sessão contínua.

- Depois eu ligo.  Até logo, amor.

- Até logo.

Rodolffo abraçou, beijou Juliette e saiu.

Lurdes e Bia quase os apanhavam.

- Oi.  Vieste consultar a doutora? perguntou Bia.

- Não.  Lembras-te que eu disse que tinha o coração fechado a cadeado e só uma pessoa tinha a chave?

- Sim, lembro.

- A doutora tem a chave.

- Não entendi. Porquê a doutora tem a chave?

- Ai que menina lerda!  Porque eles são namorados, garota!

- É?

- É Bia.  Eu e a dra. Juliette somos namorados.  Né amor?

- Sim Bia.  Larga o osso que é meu.

- Ai doutora,  desculpe.  Não sabia.

- Não faz mal.  Felizmente ele tem juízo. Vamos lá todos fazer o nosso trabalho.

Quando Lurdes e Juliette ficaram sózinhas esta última disse:

- Apostas que no final do dia todo o hospital vai saber que nós namoramos?

- Não tenho a mínima dúvida.

- Soube-me bem o almoço.  O meu namorado é top.

Podes mandar entrar o próximo paciente.
Vamos lá tratar deste surto de gripe.

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