21 | Temperatura

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Remember when we couldn't take the heat?
I walked out, I said "I'm setting you free"

Lembra de quando não conseguimos suportar o calor?
Eu fui embora, dizendo "estou te libertando"


Out of The Woods

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Na salinha do hospital, observo de braços cruzados enquanto um enfermeiro dá pontos no corte na testa de Ember.

Cada perfuração da agulha, cada nó da linha e cada tremor que percorre o corpo dela é um lembrete de que nada disso teria acontecido se eu não estivesse tão obstinada a fazer com que ela me beijasse de novo. Pelo menos dei conta de parar de chorar, e tenho apenas os olhos avermelhados e o rosto inchado como prova do ato. Quando as nossas amigas chegarem aqui, espero que ninguém comente sobre isso.

— O que a sua avó vai pensar de mim? — pergunto, engolindo em seco.

De repente, é de suma importância para mim ser amada pela avó dela, e isso já não parece uma tarefa fácil.

Ember revira os olhos, o que faz com o enfermeiro ralhe com ela, dizendo para ficar o mais imóvel que consegue.

— Ela vai pensar que você é uma pessoa talentosa e bonita demais para andar comigo, depois vai pegar no meu pé para eu não te deixar ir embora.

— Shh, sem conversa por favor — o enfermeiro briga, falando em inglês, mas com um sotaque carregadíssimo.

Ele enfia a agulha mais uma vez, e Ember estremece, desviando o olhar. Merda de anestesia que não funciona direito.

— Ou talvez ela pense que sou uma degenerada que acidentou a neta dela — murmuro.

Ember abre a boca para responder, mas o enfermeiro a impede na hora, emitindo um som que, apesar de não ter conteúdo verbal, nitidamente é uma reprimenda. Depois ele me lança um olhar irritado.

— Mais uma palavra e eu faço você esperar lá fora.

Isso cala a minha boca.

Quando ele volta a dar atenção aos pontos, eu me concentro em apenas me sentir a pior pessoa do mundo em silêncio. Ember ainda endurece a mandíbula e se sobressalta com cada perfuração.

Como atletas, precisamos desenvolver uma resistência à dor. Duvido que isso é o pior que Ember já passou, todas nós aprendemos a lidar com o nosso corpo sofrendo para performar em um nível altíssimo em nome do que amamos, e o nosso corpo tende a falhar bastante.

Mesmo assim, assistir aos pontos sendo dados nela é um tipo de tortura que me pegou desprevenida, e só consigo lembrar da confissão sussurrada dela ao chegamos no hospital: "odeio agulhas". Estou começando a odiar agulhas também. Só consigo respirar normalmente quando acaba.

Ember ainda está se sentando na maca quando enfermeiro abre a porta e eu ouço a exclamação de Alba:

— Finalmente!

Ela passa pelo homem e entra na salinha de atendimento bem no momento em que eu me adianto para oferecer o antebraço a Ember. Ela aceita a minha ajuda, mas sorri e diz:

— Eu cortei a testa, não o pé, Rebeca.

— É muito ruim? — Alba já chega perguntando, o que nos faz olhar em sua direção. — Você está se sentindo tonta?

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