Epílogo

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 Seis meses depois. Eu havia acabado de acordar num belo dia ensolarado, e ao meu lado estava Carolline, ainda repousando graciosamente em sua lingerie. A beijei carinhosamente na testa e, em seguida, levantei. Precisava me vestir porque tinha um compromisso marcado com a líder do Weather Crimes no dia.

Imediatamente, movi-me ao guarda-roupa. Pus meu sobretudo bege com um vestido rosa por baixo e um chapéu da mesma cor do casaco, para combinar. Havia feito um novo corte de cabelo, e estava curiosa para saber o que achariam.

No entanto, nem precisei sair de casa. Logo que dedilhei meus fios enquanto me via no espelho, uma batida nervosa assolou minha porta, fazendo até com que Carolline se revirasse na cama e resmungasse do volume do barulho com um leve gemido de desconforto. No mesmo momento, peguei meu revólver e perguntei, silenciosamente:

— Quem é?

— Sou eu!

Me aliviei. Pus a arma sobre a penteadeira e, calmamente, abri a porta. Era Felix, elegantemente trajado como sempre, mas com um semblante muito distinto no rosto. Estava pálido e amedrontado, como se acabasse de ter visto um fantasma.

— Felix! — Sorri. — Tudo bem? Como vai?

— Eu vou bem. Mas não é sobre isso que vim falar...

— Como assim? Tem algo que você gostaria de me contar?

— Sim, e... é sobre a Suzanne.

— Ah, sim! O enforcamento dela irá acontecer hoje às 18h, não é?

— Iria.

Iria? — Meu sorriso imediatamente se desfez, convertendo-se em preocupação. — Como assim, Felix?

— Um amigo meu, dono do corredor da morte em que ela está, me avisou hoje: ela fugiu.

. . .

Carol, eu e Felix fomos à cela de Suzanne. Era um cubículo imundo e compacto, as paredes inteiramente cor de cobre de tão enferrujadas. No canto, uma pequena cama que mais parecia com um bloco de pedra com uma almofada em cima. Mas o que mais nos interessou, de longe, foi o estado da porta da cela: as chaves haviam sido roubadas de um policial, pelo que Gaul nos contou.

— Esperem! — gritou Carolline. — Vocês viram aquilo?

— O quê? — Não vi nada. Ela apontava para a cama.

— Tem papéis debaixo da cama!

— Espere... — disse Felix, concentrado. — Tem mesmo! Peguem, vamos ver o que tem neles!

Ele e minha parceira logo se agacharam e recolheram as folhas.

— Uma coletânea de 16 papéis, frente e verso — apontou Felix, lendo-as superficialmente. — Detalham toda a trajetória de Suzanne, desde a primeira visita das meninas à casa das Dartmoor até o assassinato de Eva.

— Interessante — afirmou a outra.

Eu, perplexa e abismada, não me senti satisfeita com isso e me agachei para procurar uma vez mais. A porção debaixo da cama era extremamente escura, e era entendível o porquê de ter sido o esconderijo perfeito para essa autobiografia insana.

Com dificuldade, esgueirei minha mão adentro. Nada além de poeira e teias de aranha. Isso, é claro, até eu sentir que captei alguma coisa. Sim, de fato — eu encostei em outro papel.

Agarrei-o com força e o trouxe para perto. Assim como minha pobre mão esquerda, estava repleto de sujeiras, parecendo ter sido enfiado ali há muito tempo. E não havia sido somente posicionado há muito tempo — as marcas de traças e as falhas indicavam que esse relato foi escrito provavelmente antes de Suzanne chegar à prisão, diferente de todos os outros, que pareciam ser do período exato do cárcere.

Pacientemente, desdobrei minha coluna e mantive-me de pé. Então, li atentamente ao início da epístola ali manuscrita:

"Prólogo

Anotação datada do dia 27/02/1900.

Hoje matei meu pai. Ou ontem, não lembro bem. [...]"

Sem TestemunhasOnde histórias criam vida. Descubra agora