Capítulo 15 - Sem Remorso

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 Minhas mãos teclavam, frivolamente, numa colossal máquina de escrever. Era a parte mais entediante do meu trabalho, mas eu precisava fazer isso com empenho e criatividade. Inclusive porque disseram, particularmente, que minhas matérias eram as mais lidas do jornal. Temi que pudesse gerar uma certa inveja, mas confesso que achei merecido — afinal, meu trabalho era dobrado, tanto nas escrivaninhas quanto nas ruas.

Quando estava quase finalizando meu empolgante artigo, ouvi o grito de Beckmann, do primeiro andar:

— Dolores! Venha aqui!

Mobilizei-me de forma instantânea, levantando de meu assento e arrumando minha roupa enquanto corria para o piso inferior. Minha chefe estava pálida, o caso parecia grave. Na realidade, não era nada comum vê-la na porta — ela costumava ficar no sótão, estudando os casos criminais mais populares e tentando chegar a conclusões certeiras.

— O que foi, Elizabeth?

— Veja — Abriu a porta. Eva e Suzanne estavam ali, sorridentes enquanto nos observavam.

— O quê? Mas... Mas... O que elas fazem aqui?

— Obrigada pela cortesia, senhorita Martinez — interveio Suzanne, sarcasticamente. Pude sentir seus olhos fixos sobre mim. — Nós estamos aqui porque queríamos resolver nossa situação. Soube que vocês falaram com minha amiga, Eva, e que têm tido certos... preceitos sobre mim, eu temo.

— Preceitos? Nós? Jamais acusaríamos ou suspeitaríamos da senhora por qualquer razão que não fossem provas concretas.

— E vocês têm provas concretas? — Colocou-se à minha frente, pressionando-me com seus fixos olhos. Parecia um feroz desafio.

— Se não tivéssemos, senhorita, não teria porquê de perguntar — interrompeu Beckmann.

Imediatamente, Opel se afastou, com o lábio retorcido. Eva, cruzando os braços, começou a olhar para o horizonte, e nós já pensamos que iam sair. Contudo, Suzanne mirou em nós, trocando o olhar de uma para a outra, antes de finalmente fazer o que queria: sacar uma arma e dar um tiro em Beckmann.

Foi tão súbito e inesperado que não tive tempo de sequer ajudar minha chefe. Quando olhei para o meu lado, vi a pobre mulher caída no chão, baleada com um tiro no peito.

De imediato, agachei-me sobre ela. Chequei seu pescoço enrugado, logo percebendo seu pulso fraco através das pelancas. As duas assassinas, estáticas, sorriram perante o meu amargo sofrimento, tentando levantar Beckmann desesperadamente.

— Elizabeth! Elizabeth!

— Ela não vai acordar — disse Eva, maliciosa. — Está morta.

— Não! Não! Ela está viva, ela ainda está viva! E vocês duas irão pagar muito caro por terem feito isso!

Suzanne, nesse momento, apontou sua arma uma vez mais, pretendendo atirar em mim. Contudo, antes que pudesse puxar o gatilho, o burburinho se espalhou rapidamente por toda a vizinhança.

Logo, foram embora rapidamente, um pouco antes que os transeuntes pudessem flagrá-las. Eu fiquei ali, desesperada, vendo as lágrimas saírem dos meus olhos e o sangue ser expelido do corpo de Beckmann, esperando avidamente para que o socorro viesse o mais rápido possível.

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