Capítulo 8 - Sem Acusações

8 3 11
                                    

 Eu estava conversando calmamente com Céline naquela noite. Como sempre, ela trajava aquele vestido verde ridículo que era muito grande para ela e falava sobre a beleza de Henri Blanchard, o marido de Betty. Nunca entendi o que ela via naquele homem. Parecia um mendigo.

— Madame, gostaria de alguma refeição? — indagou Carolline.

— Um caldo de cebola.

— Sopa! — intervi.

— É, sopa de cebola.

— Muito bem, madame Pascal. Vou preparar. E a senhora, Suzanne?

— Nada.

— Certo — E saiu.

— Ah, Suzanne, você tem que ser mais gentil com a Carolline.

— Nunca!

— Às vezes, ela pode ser importante para você.

Ri compulsivamente.

— Nunca, Céline! Nunca!

De repente, ouvi um titubear pelas escadas. Com seus cabelos curtos e face desgastada, Betty se revela.

— Cadê a Tina?

— No...

— Eu estou aqui, Bethany — Christina impôs, com sua voz rija.

— Tina! Essa mulher, essa monstra de cabelos negros que nós chamamos de irmã... Ela é uma assassina! Uma assassina fria e impiedosa que foi capaz de matar nosso próprio pai!

— Bethany, já é a quarta vez nessa semana que você diz essas atrocidades contra a Suzanne!

— Mas é verdade! Eu a vi no quarto do papai, quando acordei de madrugada! Ele estava gemendo! Foi ela quem o matou!

— Nossa irmã jamais faria isso! Você deve estar louca!

— É verdade! É verdade! Eu nunca faria isso — disse, intrometendo-me.

Quase convulsionando, Beth se agarrou a mim e fez um verdadeiro escândalo, tentando arrancar meus cabelos e me estapeando constantemente enquanto chorava de ódio. Tentei impedí-la, empurrar sua face avermelhada para longe, mas sua força era descomunal. Logo, as pontas de alguns tufos se desgrudaram, e eu consegui sentir uma dor absurda perpassar meu couro cabeludo. Gritei. Céline, Carolline e Christina rapidamente agarram a agressora, enquanto eu permaneci ali, estirada no sofá com os cabelos todos bagunçados.

— Bosta! — murmurei, com os dentes rangendo de ódio. Mas logo, a raiva foi substituída por uma sensação súbita de triunfo. Afinal, eu percebi que aquele ataque poderia ser a minha grande chance.

. . .

Eu já estava melhor a esse ponto. Céline havia saído, mas não antes de ter devorado aquela sopa de cebola. Não a julgo nisso, Carolline realmente sabia fazer uma ótima sopa.

Christina estava em seu quarto. Eu bati com calma e ela me deixou entrar. Estava muito cabisbaixa, a mão pendente na cabeça enquanto sua face se corroía de preocupações. Logo, com uma postura mansa e carinhosa, me aproximei de minha irmã, pondo minha mão sobre seu ombro como símbolo de receio.

— Ah, Suzanne, a situação de Bethany me preocupa muito — Levantou-se, talvez para aparentar uma certa superioridade.

— É, Tina, eu sei. Veja bem, a Betty está muito mal. Acho que ficou louca depois da morte do papai. Eu achei que isso ia passar depois de um tempo, mas está tão grave a situação que talvez...

— Talvez o quê?

— Talvez ela precisasse de avaliação médica, não sei! Ah, só uma ideia boba.

Sem TestemunhasOnde histórias criam vida. Descubra agora