A noite já chegara. Eu estava ansiosa ao extremo, transpirando e de pupilas arregaladas enquanto esperava por Eva. Ela estava indo lá em casa, buscando Henri para que todos finalmente nos encontrássemos, ali na residência de Céline. Tínhamos a chave, a burra nos deu há um tempo.
— Ali, sr. Blanchard! — disse Eva, animada. — Eu a vi aqui, convulsionando. Espero que o senhor consiga curá-la, com seus conhecimentos medicinais!
Henri entrou, trazendo um kit de primeiros socorros típico de sua profissão e um rosto espavorido, tão pálido que beirava um infarte para aquela idade temível.
— Céline! Onde está Céline? — ele gritava, com os olhos arregalados e o coração palpitante.
— Ela está lá em cima, meu caro — respondi calmamente, tragando um cachimbo.
— Lá em cima? Ela está bem?
— Melhor do que nunca.
Ao fim deste breve diálogo, Eva trancou a porta.
— O que está acontecendo? — o homem perguntou, confuso.
— O que está acontecendo, sr. Blanchard — começou Luxemburgo. —, é que estamos com um assunto de vida ou morte a ser tratado.
— Seus rostos não parecem tão preocupados para um tópico de tamanha gravidade!
— Ah, é que não são pessoas importantes que vão morrer — interrompi. — Somente alguns franceses quaisquer.
— Franceses como eu e a senhora! — Ele se sentou, nervoso. — Por que estão aqui? Céline as convidou?
— Não. Queremos falar com você sobre sua ex-esposa.
— Bethany?
— Sim, ela mesma. Eu ainda me lembro de quando você veio de Paris até Londres, ingressou confiante e viu minha nobre irmã cair em seus braços. Você a corrompeu.
— A corrompi? A corrompi, Suzanne? A corrompi, com você e sua irmã sempre com discursos vazios e rasos sobre o mundo e as pessoas? Vocês duas sempre se casaram, viveram e caminharam pensando em dinheiro! Não existe nem um milhão de libras que poderiam disfarçar o mau caratismo e a desonestidade de vocês! Aliás, Eva não passa tão longe assim! Vocês acham que eu não sei que você matou o seu próprio marido, Marcos? Ele era um grande amigo meu.
— Certo, então, Henri — Eva respondeu, em solilóquio a esse grande discurso. — Parece que você me desmascarou, senhor. Mas eu não fui a única pessoa que matou alguém que você amou.
— O quê? Do que está falando?
— Eu também, seu velho caquético — afirmei furiosamente, descruzando as pernas. — Eu matei a Betty.
— O quê?
— Matei com assistência de Eva. E também matei meu pai, o doutor O'Neal, que levou Betty ao manicômio, e minha psicóloga. Todos estão mortos por minha causa.
— O quê? Eu não... Não consigo acreditar. Está certo que Bethany não estava louca, mas jamais teria imaginado que ela estava certa sobre você... Não é possível, não é possível! — O maldito se levantou, respirando de forma ofegante.
— Calma, senhor. Você está muito ansioso. Não teme a hipertensão? Uma taquicardia? Ahahahaha!
— Sua bruxa! Sua impugnada, pusilânime! Vocês duas... Vocês mataram o meu amor!
— E matamos Céline também — apontou Eva, friamente. — Veja lá em cima. Está totalmente morta.
— Ó, meu Deus, suas monstras! — Correu para o andar de cima, desenfreado. Nós duas, com muita cautela e precisão, o seguimos. Nosso plano finalmente começara a dar certo. Agora, bastava executá-lo.
No segundo andar, Henri entrou desesperado no quarto de Céline. Com as mãos impávidas, despertou-a de seu profundo sono, remexendo seu corpo como um louco enquanto eu e Eva entramos no quarto, triunfantes.
— Céline! Céline!
— O que foi? O que foi? — Acordou, apavorada de tanto medo.
— Você está bem? Elas fizeram algo a você?
— O quê? Eu não entendo... — Se levantou, atordoada.
— Céline, você precisa... — Antes que pudesse completar, atingi Henri com cinco tiros nas costas. A cada tiro, lançado com precisão sobre uma posição crítica de seu corpo, pude ver o horror nos olhos da minha amiga francesa se acumular. Finalmente, o homem caiu no chão, morto.
— Eu... — Olhou horrorizada, primeiro para o corpo, depois para nós. — Vocês...?
— Sim, querida — respondi, andando até ela. A mulher, achando que eu ia matá-la, escorou-se na parede. Contudo, a única coisa que fiz foi estender a mão que carregava a arma. — Pegue. Vá! Pegue. É um presente.
Pascal permaneceu um tempo olhando para o dispositivo. Enquanto isso, Eva pegou um papel de seu bolso, visando a janela que estava logo atrás de Céline, e posicionou os órgãos roubados de Betty no chão. Em um instante, essa apanhou a arma bruscamente da minha mão, apontando-a diretamente para mim e Eva.
— Meu Deus, a Betty! Vocês não deviam ter feito isso! Agora, vou chamar a polícia!
— Veja bem, Céline! — Eva começou. — Isso foi tudo um grande mal-entendido. Você sempre amou Henri, mas não pôde aceitar que ele era casado com Betty. Por isso, pagou o doutor Frederick para interná-la e então matou-a, uma madrugada depois. Mas aí, querendo se livrar das provas, matou o próprio doutor com um punhal qualquer. Não gostou da história?
— O quê? Eu... Eu não estou entendendo!
— É claro que não está, sua estúpida! — gritei, aproximando-me de Céline mesmo com o risco iminente da arma apontada contra mim. — Você se livrou dos dois e convidou o Blanchard para vir aqui, a fim de conversar com ele. Então, você confessou todos os crimes, mas ele só desaprovou tudo e decidiu que o denunciaria para a polícia. Não teve outra opção além de matá-lo, coitada.
— Mas foi você que o matou! Suas loucas!
— Eu? Claro que não! — Sorri maliciosamente. — Eva, coloque o bilhete datilografado perto do corpo. Essa cena está praticamente montada.
— Já chega dessa palhaçada! — Com fúria nos olhos, atirou. Obviamente, nada. — O quê...?
— Ah, Céline! Você usou todas as balas para matar o Henri.
Antes que pudesse responder, aproximei-me perto o suficiente para empurrá-la, de forma violenta, contra a janela. Junto de seus gritos, a sonoridade graciosa do vidro estilhaçando preencheu meus ouvidos de prazer. Tudo isso, é claro, complementando-se com a maravilhosa imagem que se formava, digna de se tornar um dramático quadro expressionista: seu corpo caía de forma sensual e orgânica, flutuava no ar por alguns breves milissegundos antes da queda fatal. Na mão, o revólver branco ainda fazia presença. Nos arredores, alguns cacos teimosos decidiram acompanhá-la até o último momento.
Aconteceu. Para mim, foi tudo lentamente. Ela gritou, caiu e finalmente se espatifou no chão, o grito se tornando cada vez mais abafado conforme a distância entre nós aumentava. Quando eu e Eva olhamos através da abertura quebrada, pudemos ver somente o corpo de Céline no chão, seu vestido verde absorvendo algumas manchas de sangue, a pistola perto do cadáver. Tudo se montou exatamente como planejamos.
— Ah... Graças a Deus... — Eva suspirou, aliviada. — Eu achei que algo daria errado.
— Está tudo bem agora, meu amor. Está tudo bem.
Sutilmente, com uma voz sedutora, segurei minha amante e a beijei profundamente. Dessa vez, diferente de antes, pude sentir o sabor adocicado de seus lábios contra os meus, a leveza artística de sua boca contra a minha enquanto nos mesclávamos sem pudor ou medo, entre aquelas quatro rijas paredes.
Tive de finalizar aquela maravilhosa experiência à força. Afobado para entrar no quarto, estava Imannuel, meu marido.
— Suzanne! Eu vi Eva falar que Céline estava mal, então achei que vocês pudessem estar... — Percebeu o que estávamos fazendo, permanecendo estático com um olhar incrédulo sobre nós. — Suzanne?
Pálida, balbuciei silenciosamente:
— Merda.
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Sem Testemunhas
Misteri / ThrillerNo ano de 1900, em Londres, uma série de assassinatos contra a poderosa família Dartmoor ocorrem, praticados por uma mulher fria e longe de suspeitas - com exceção de um pequeno jornal de crimes. A trama se desenrola pela visão da curiosa jornalista...