CINCO

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A manhã seguinte chegou e com ela todo meu cansaço e desânimo, mas também trouxe com ela uma clareza implacável, e eu decidi canalizar a turbulência interna da minha vida para algo mais tangível. Dirigi-me ao stand de tiro na Sede da Cosa Nostra, buscando um refúgio temporário na concentração e na disciplina do treinamento. Esse lugar é o meu único refúgio nesses momentos de desespero.

O som dos tiros ecoava no ambiente controlado do stand, criando uma sinfonia peculiar que, de alguma forma, acalmava meus pensamentos tumultuados. Cada disparo era uma liberação, uma maneira de descontar a raiva e a frustração que ainda pulsavam em meu interior em questão da noite anterior, as memórias das noites passavam por minha mente pulsando ela a acelerar meus movimentos e atirar sem dó em cada alvo a minha frente.

O fio da memória da noite anterior permanecia fresco em minha mente, uma ferida que, mesmo temporariamente aliviada pelo treinamento, não deixava de arder. As imagens do restaurante, do beijo traiçoeiro, assombravam-me enquanto eu ajustava a mira e disparava, tentando focalizar minha mente em algo mais concreto.

O cheiro da pólvora e o som dos tiros proporcionavam uma sensação de controle em meio ao caos emocional. Cada alvo abatido era uma pequena vitória, uma forma de recuperar um fragmento do poder que parecia ter sido arrancado de mim na noite anterior. E uma coisa que eu odeio é perder o controle do poder.

Enquanto treinava, permiti-me sentir a intensidade da raiva, a dor da traição, fluindo através dos movimentos calculados do treinamento. Cada bala lançada era um grito silencioso de resistência, uma afirmação de que eu não permitiria que as feridas do passado definissem meu futuro.

O sol da manhã brilhava através das janelas do stand, lançando uma luz intensa sobre os detalhes da minha busca por controle. Enquanto a última bala deixava a arma, uma calma momentânea se instalou. Eu estava fisicamente exausta, mas a tempestade interna, essa continuava a rugir.

Guardo a arma com um suspiro, encaro a trajetória das balas nos alvos diante de mim. Cada marca representava não apenas a perícia no tiro, mas também a expressão de uma dor que precisava ser enfrentada e superada.

A jornada de reconstrução começava ali, no stand de tiro da Cosa Nostra, enquanto eu buscava encontrar uma força renovada em meio aos estilhaços do que um dia fora.

Após mais alguns minutos intensos de treinamento, decido pausar para um merecido descanso. Sinto meu corpo tenso, a respiração irregular e uma imensa vontade de chorar se acumulando dentro de mim. Me afasto da linha de tiro e me recosto contra a parede, fechando os olhos por um breve momento para tentar controlar as emoções que ameaçam transbordar.

Respiro fundo, tentando encontrar uma serenidade que parece se esvair com cada batida acelerada do meu coração. As imagens da noite anterior ainda ecoam na minha mente, uma ferida aberta que o treinamento não foi capaz de fechar completamente.

É quando ouço a voz de Lorenzo, ecoar no stand. Abro meus olhos e encontro seu olhar perspicaz percorrendo o ambiente, captando a tensão que paira no ar. Aproxima-se com uma expressão séria, mas acolhedora, como alguém que compreende mesmo antes que as palavras sejam ditas. Meu irmão me entende mais que qualquer um e ele decifra meus sentimentos rapidamente.

— Giovanna, você está bem? — Ele pergunta, sua voz carregada de preocupação.

Meu corpo, agora sentado no chão do stand, me faz querer dizer que sim, mas com meu irmão eu posso fraquejar. Abro os olhos, encontrando o olhar atento de Lorenzo. Engulo em seco, lutando contra as lágrimas que ameaçam cair. A força que mantive durante o treinamento.

Uma Mafiosa Irresistível - Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora