VINTE SETE

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Enrico

Seis meses se passaram desde aquela noite turbulenta, e a vida de Giovanna e a minha só piorou. As brigas, discussões e o sofrimento culminaram em uma separação dolorosa que parecia interminável. A cada dia, a sensação de perda e arrependimento se intensificava, mas a rotina continuava.

Parece que tudo o que eu mais pregava se esvaiu em um dia e perdi tudo aquilo que tinha com ela. Às vezes parece que me perdi junto com tudo isso.

Estava em meu apartamento, cercado por pilhas de relatórios e documentos que exigiam minha atenção. O trabalho tornou-se um refúgio involuntário para escapar da dor constante. O escritório estava imerso em uma penumbra silenciosa, exceto pelo som do meu teclado e o farfalhar ocasional das páginas. 

Enquanto revisava o último relatório financeiro, a mente não conseguia se afastar de Giovanna. O que poderia ter sido diferente? O que eu teria feito para evitar aquela noite? Cada pensamento se transformava em uma lembrança dolorosa, um eco de uma felicidade que parecia agora tão distante.

Será mesmo que a verdade era a melhor opção? O que poderia ter sido diferente com ela?

De repente, o som da campainha cortou o silêncio opressor do apartamento e silenciou meus pensamentos .O barulho foi um alívio inesperado, uma interrupção bem-vinda à rotina desesperadora que eu havia criado para mim mesmo. Levantei-me da cadeira com um suspiro pesado, tentando esconder o turbilhão de emoções que se agitava dentro de mim.

Abri a porta e encontrei Emily. Seu semblante estava sério, mas havia uma preocupação genuína em seus olhos. Ela carregava uma expressão de alguém que estava ali para algo importante.

— Emily, o que você está fazendo aqui? — Perguntei, tentando esconder o nervosismo que acompanhava minha pergunta.

— Enrico, precisamos conversar — disse ela, sua voz suave mas carregada de firmeza. — Giovanna... Ela está passando por uma situação horrível agora e você sabe disso. Precisamos resolver isso e logo 

Um sentimento de culpa e ansiedade tomou conta de mim. A separação com Giovanna me deixou devastado e ter minha irmã nesse momento me encarando como se eu tivesse sete anos e aprontado a pior coisa do mundo é ainda pior.

— Entra, então — ofereci, dando espaço para ela entrar. — Vamos conversar.

Emily caminhou para dentro do apartamento e se acomodou no sofá, enquanto eu me dirigia à cozinha para buscar algo para beber. Enquanto preparava dois copos de água, pude sentir a tensão no ar. A presença de Emily me lembrava da parte mais difícil da minha vida, a lição de moral.

— O que exatamente você queria me dizer? — Perguntei, enquanto entregava um copo para Emily e me sentava ao seu lado.

— Giovanna está sofrendo, Enrico. — Emily começou, sua voz falhando um pouco. — Eu sei que vocês têm suas diferenças, mas o que vocês tiveram foi real. Ela está em um lugar muito escuro agora, e isso está afetando não só ela, mas também a todos ao seu redor. Eu só quero que você saiba o quanto isso a está machucando e, talvez, a única maneira de ajudar a curar isso seja enfrentar seus próprios sentimentos e falar com ela. Mas falar a verdade, porque você sabe muito bem no que a mentira transforma as pessoas.

Um soco no meu estômago seria menos doloroso do que ouvir minha irmã chamando minha atenção.

— Eu não sei se posso fazer isso — confessei, a voz tremendo. — A situação está tão complicada e cheia de ressentimentos que não sei nem por onde começar.

— Às vezes, a melhor maneira de começar é apenas dar o primeiro passo — Emily disse, olhando-me com compreensão. — Ela ainda te ama, Enrico. Isso não é algo que simplesmente desaparece. Mas você tem que trabalhar com a verdade. Eu odeio ver você em meio a Cosa Nostra, odeio que nossos pais estejam envolvidos nisso, mas eu amo vocês e gosto demais da Giovanna, não a perca Enrico. De novo não.

Uma Mafiosa Irresistível - Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora