TRINTA OITO

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Enrico 

Nos dias que se seguiram ao resgate de Giovanna, uma sombra densa se instalou sobre mim. O peso da culpa me esmagava, e cada vez que fechava os olhos, a imagem dela amarrada, assustada, voltava à minha mente. Não consegui evitar a sensação de que eu poderia ter feito mais, que deveria ter visto os sinais antes de tudo acontecer. E isso me consumia. Tudo o que aconteceu se rendeu a uma culpa minha.

Tranquei-me em minha casa privada, um espaço que antes era meu refúgio, mas que agora se tornara uma prisão. As paredes, uma vez acolhedoras, pareciam me vigiar, sussurrando meus fracassos. O silêncio era ensurdecedor, e eu me via cada vez mais afundando em meus próprios pensamentos. Evitei trabalhar, deixei a Expo de lado pois sabia que não poderia sobreviver ao mesmo ambiente que ela estando nessa situação. Sei que ela já saiu do hospital e está bem, está recuperada, mas eu não estou pronto para voltar, meu telefone tem inúmeras ligações perdidas de Dante, Lorenzo, Catarina e outros membros, mas fiz questão de sumir, até dos olhos de Pietro, nosso hacker.

Comecei a abusar das bebidas. Cada garrafa se tornava uma tentativa de escapar da realidade. A vodka se tornou minha companheira constante, e os efeitos do álcool eram a única coisa que me oferecia um pouco de alívio. O mundo fora da minha bolha estava repleto de responsabilidades e dores, mas dentro da casa, tudo o que eu sentia era um entorpecimento temporário que me aliviava.

Uma noite, enquanto a escuridão se aprofundava, sentei-me em uma mesa bagunçada, coberta de garrafas vazias e papéis. A luz fraca da lâmpada piscava, lançando sombras dançantes sobre os documentos espalhados. Havia anotações sobre o sequestro de Giovanna, detalhes que eu havia coletado obsessivamente. Era como um quebra-cabeça que precisava ser resolvido, e eu estava determinado a juntar cada peça.

— Violett... — murmurei para mim mesmo, o ódio escorrendo de cada sílaba. — Você vai pagar por isso.

A raiva pulsava dentro de mim, uma chama que se alimentava do meu desespero. O que ela fez com Giovanna era imperdoável, e eu não poderia deixar que isso ficasse impune. O telefone ao meu lado vibrou, mas não tive coragem de olhar. Não queria falar com ninguém; eles não entenderiam o que eu estava passando.

Depois de mais algumas doses, peguei o celular e comecei a pesquisar. As mensagens, os contatos, qualquer pista que pudesse me levar a Violett. A cada informação que surgia na tela, meu coração acelerava. Meu foco era uma única coisa: vingança. Sabia que a Cosa Nostra tinha seus métodos, mas eu queria fazer isso por conta própria. Queria aliviar essa culpa.

Após dias de pesquisa, finalmente juntei todas as informações que consegui. Violett tinha um endereço em uma parte da cidade que eu conhecia bem. Era um lugar onde ela costumava se esconder, cercada por aliados que a protegiam. Eu não poderia simplesmente aparecer lá e esperar que tudo se resolvesse. Precisava de um plano.

Com a cabeça cheia de decisões, peguei a garrafa de vodka e a levei até a pia. O líquido escorria, mas o gosto ainda permanecia na minha boca. Era hora de agir. Levantei-me e fui até o armário, pegando uma arma que mantinha escondida. O metal frio em minha mão parecia uma extensão de minha vontade.

Antes de sair, olhei-me no espelho. Meu reflexo mostrava alguém que não reconhecia: olhos fundos, barba por fazer e uma expressão de desespero. Mas, ao mesmo tempo, havia uma determinação que eu não havia sentido antes. Era hora de fazer justiça por Giovanna.

Dirigi até o endereço que havia encontrado, o motor do carro rugindo enquanto atravessava as ruas escuras. Meu coração batia forte no peito, e a adrenalina corria em minhas veias. A mente estava clara agora; não havia espaço para dúvidas ou arrependimentos.

Uma Mafiosa Irresistível - Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora