Geizon
Ficamos um tempinho na casa da minha mãe, Bryan estava morrendo de frio e queria muito ir pra casa. Então ele foi pro carro e eu liguei o ar quente, voltei para dentro e fui me despedir da minha mãe, ela estava sentada no sofá vendo televisão.
– Mãe, então eu já vou, tá?
– Vai com Deus meu filho.
– O que achou do Bryan? - Eu perguntei encostando na parede.
– Ele é um bom menino. Tem uma personalidade forte, cuida bem dele.
Eu ri e fui me virar, porém parei e voltei a atenção para ela.
– Como assim, "cuida bem dele."?
– Você acha mesmo que eu não percebi como vocês dois se olham? Eu não sou boba Geizon, eu sou sua mãe.
– Você não tá brava?
– Com tanto que isso te deixe feliz, eu estou te apoiando mais que uma pilastra. - Ela cruzou as pernas.
Eu ri e concordei com a cabeça, me despedi por uma última vez e fui até o carro, quando entrei encontrei Bryan com a cabeça encostada na janela e os braços abraçando o próprio corpo. O meu casaco fica bem folgado nele, nem parece que é um casaco, tá mais pra um vestido.
Dei um sorriso boiola e fechei a porta do carro, sentei e comecei a dirigir.No dia seguinte eu e Bryan estávamos tentando ter ideias para a próxima música mas nada saia, acho que era por causa do clima chato e decadente de quarta feira.
– Quer ir em um After hoje?
– Ficar acordado a madrugada tode e ter só 2 duas horas pra dormir e depois acordar numa puta quinta feira? Eu passo.
– Qual foi! Uns amigos meus me chamaram, eu pensei que seria legal chamar você.
– O que vai tocar nesse troço?
– Não sei, rap, trapp, eletrônico, essas coisas.
– Que? Você tá muito louco achando que eu vou sair da quentura do meu apartamento para ficar acordado a noite toda pra ficar escutando esses lixos de música.
– Você tem certeza que não quer ir?
– Você gosta disso?
– Claro, é a minha diversão, pô. - Eu falei levantando do sofá e indo para o frigobar.
– Bom, somos bem diferentes, minha diversão é um cartão Black no shopping. - Ele falou esticando as pernas no chão.
– Bryan, por favor, vamos. Eu prometo que vai ser legal.
Ele parou, deitou no chão, estalou os dedos, me olhou de cima para baixo e revirou os olhos.
– Tá, eu vou!
– Porra, aí sim muleque! - Tirei 2 latinhas de Pepsi de dentro do frigobar e joguei uma pra ele.
– Mas...
– Fala. - Revirei os olhos enquanto caminhava até o sofá novamente.
– Quando eu pedir você vai me levar embora.
– Combinado então.
– Combinado.Bryan
Eu encostei na parede pichada com a seguinte frase: "Long Live for Trapp" com sangue saindo das letras. Eu revirei os olhos pela 23° vez essa noite, e ainda eram 2:36 da madrugada. Procurei Xamã por toda a multidão até eu achar ele em uma mesa conversando com uns 4 homens, me aproximei deles e fiquei colado com Xamã.
– Achei. - Xamã pegou no meu ombro e me apresentou para os 4 homens. – Esse aqui é o Bryan, ele trabalha comigo.
– Fala ae irmão. - Um dos homens que parecia um rato estendeu a mão pra mim.
Eu apertei com um pouco de relutância e ainda cumprimentei os outros 3. Eu peguei na mão de Xamã por debaixo da mesa para me sentir mais seguro, porém sem mais delongas ele soltou e falou:
– Eu vou lá pegar uma garrafa de vodka. - Xamã virou pra mim. - Quer alguma coisa?
– Uma Sprite ou qualquer refrigerante seria bom. - Eu falei.
– Beleza.
Ele se afastou e eu voltei a atenção para os 4 caras.
– E então, Bryan. Frequenta muito aqui? - Um dos ratos perguntou.
– Não, na verdade esse é o primeiro After que eu vou. Não sou muito dessas coisas.
– E você não bebe? Nem fuma?
– Não, não gosto muito.
– Ah qual foi! O Ritizinho fuma desde os 14! - O rato número 2 apontou para o rato número 4 que tem o nome de "Ritizinho".
– Pega a visão. - Ritizinho tirou do bolso um cigarro eletrônico amarelo e sugou.
Ele soltou a fumaça com a boca, conforme ele soltava anéis de fumaça saíam da boca dele, eu fiquei chocado e até bati uma palminha.
– Experimenta isso. - O rato 1 empurrou um copo azul pra mim.
– O que tem aqui? - Eu perguntei pegando o copo e olhando dentro dele.
– Catuaba com sal e pozinho azedo daquelas balas Fini azedinha. - Ele colocou a mão na cintura confiante. - Eu mesmo fiz.
– Eu passo. - Coloquei o copo de volta na mesa.
– Ah qual foi menor! Bebe só um gole pra você experimentar! - Ritizinho ergueu as mãos.
Eu olhei para o copo e engoli em seco, peguei o mesmo rapidamente e dei um gole, o líquido desceu pela minha garganta corroendo tudo que tinha lá.
– E o que achou? - O rato 2 perguntou.
– É até que bom... tem gosto de suco de uva com sal.
– É porque a catuaba é de uva.
– É bom. Eu gostei. - Tomei outro gole.
Xamã estava demorando muito, eu continuei a tomar as coisas que aqueles meninos me davam e eu já estava completamente fora de mim. Acho que uns 30 ou 8 minutos depois, quando a gente bebe, o tempo passa mais devagar. O Xamã voltou, ele estava com uma garrafa de vodka na mão e na outra uma latinha de Sprite. Ele colocou tudo na mesa e parece que ele percebeu que eu estava mais fora da casinha que o normal. Ele veio até mim e me segurou pelo braço.
– Bryan, você tá bem?
– Ele tá doidão. - Escutei um dos ratos falarem enquanto ria.
– Cala a boca Yuri! - Xamã gritou e me segurou mais forte.
– Xamã, você tem que terminar o álbum. - Eu falei rindo.
– Irmão, esse não é você. O que aconteceu com você brother?
Quando ele falou isso uma tristeza enorme tomou conta de mim e eu só falei.
– Eu quero conversar lá fora.
– Que?
– Eu quero conversar lá fora.
Ele não falou mais nada e concordou, ele me levou lá pra fora, eu trombei com algumas pessoas enquanto eu estava bêbado, chegamos no quintal da mansão onde o After estava acontecendo e encostamos na ponte sobre o pequeno lago que havia no quintal.
– O que você conversar? - Ele perguntou.
– Você tem vergonha de mim?
– Que? Não, por que essa pergunta justo agora?
– Você me trata como se eu fosse um deles justamente na frente deles. Você nunca me chamou de irmão ou brother. Isso é ridículo!
– Bryan, eles são meus amigos! E a gente só tá ficando. E desculpa por eu te chamado disso se você não gostou.
– Porra, você mal olhou pra mim quando chegamos aqui. Ou eu preciso lembrar? - Uma ânsia de vômito veio do nada mas eu consegui engolir. - Eu tentei segurar sua mão mas você a soltou como se fosse um papel de bala.
– E porque a gente ficaria de mão dada no meio de um After?!
– Eu estava com medo Xamã! Seus amigos são muito mais velhos que eu! Eu não conheço ninguém nessa merda de lugar!
– É sério que você está me crucificado por uma coisa que eu nem lembro se fiz? Eu mal lembro da sua mão tocando em mim essa noite! - Ele começou a se exaltar e fazer caras e bocas.
– É porque você está tão ocupado lidando com os seus amigos. É claro, é claro! Porque quem teria tempo para um ficante como eu?! Ninguém não né?!
– Ah, fala sério.
– Você está me fazendo parecer um puta idiota! - Eu gritei.
– Não grita! Não grita. - Ele apontou o dedo na minha cara. - Eu só acho que você não está certo em me atacar por um momento que eu nem me lembro direito. Eu não faço a menor ideia se isso aconteceu ou não. Você está me deixando fora d-
Ele parou quando viu a cara de medo e tristeza que eu estava fazendo pra ele.
– Não faça essa cara pra mim. Isso é fudidamente ridículo...
Eu virei e me inclinei na ponte e comecei a chorar, ele veio e puxou minha mão.
– Ei, para, para. Passou, passou. - Ele me puxou para um abraço e beijou minha nuca. - Me desculpa, me desculpa, me desculpa, eu sinto muito.
– Eu quero ir pra casa. - Eu disse no meio do abraço.
– Tudo bem eu te levo.
– Obrigad-
Eu parei de falar quando uma ânsia de vômito gigante veio e eu vomitei no lago, botei tudo pra fora e limpei as lágrimas.
– Você tá bem?
– Não. Mas obrigado por perguntar. - Encostei a cabeça no ombro dele.
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Tudo Muito Bem (Versão de 10 Sentimentos) - Xamã
FanfictionBryan, um escritor talentoso, e Xamã, um poeta e rapper carismático, são artistas de mundos diferentes. Quando são desafiados a escrever um álbum juntos, a colaboração os leva a explorar a arte, a música e o amor. Conforme trabalham juntos, descobre...