Capítulo Oito

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Bryan

O caminho para a casa da mãe de Xamã era bem longo, eu abri o 3° pacote de bala Fini que comprei antes de pegar a estrada. O Xamã deixou eu ligar o rádio e estava tocando the 1 da Taylor. Ele não falava nada o caminho inteiro, estava totalmente concentrado no caminho.
Eu olhei para fora do carro e vi as folhas das árvores no chão.
– Estamos em que dia mesmo?
– 14 de Março.
– O Outono já está chegando. Que loucura.
Ele murmurou e continuou dirigindo, estranhei um pouco seu comportamento, porém deixei passar.
– Estou com medo de conhecer sua mãe.
– Por que? - Ele levantou a sobrancelha direita.
– Sei lá, e se ela me achar estranho? Ou se ela for homofóbica?
– Relaxa, minha mãe é de boa. Ela não é homofóbica, isso eu te garanto. E não tem pra que de tanto nervosismo, você não é meu namorado pra ela te aprovar ou não.
Depois que ele falou isso eu fiquei pensativo, olhei para a janela.
– Já que você tocou nesse assunto. A gente é o que agora? - Eu perguntei ingenuamente.
– Como assim?
– É, tipo, estamos tentando fingir, mas tanto eu quanto você sabemos o que a gente fez.
– Ah, isso… - Ele parou e pensou um pouco. - Você quer continuar com isso? Tipo, ficantes?
– Não sei, você quer?
Ele mordeu o lado direito do seu lábio inferior, apertou o volante e olhou para mim de realce.
– Talvez.
– Então agora temos um lance. - Coloquei o pacote de balas que eu nem sequer comi no porta luvas.
– Tá bom então. - Ele falou rindo.

Depois de 40 minutos chegamos finalmente na casa da mãe dele, eu saí do carro e senti o ar frio bater na minha cara, peguei meu cachecol laranja e o coloquei, enfiei as mãos no bolso da calça e fui andando com Xamã até a pequena casa.
– Você está gelado, quer um casaco? - Xamã perguntou tocando no meu braço.
– Você tem outro aí?
– Não precisa.
Ele tirou seu casaco preto e o colocou em mim, senti o calor do casaco já aquecido por estar na pele de Xamã e consegui me esquentar.
Caminhamos ainda mais até subirmos uma pequena escadinha de madeira até uma varanda com duas cadeiras de balanço e uma mesa, Xamã passou na minha frente e bateu na porta. Não demorou muito tempo até ela ser aberta. Uma mulher baixinha de pele parda e um vestido branco e detalhado com flores abriu. Xamã sorriu junto com a tal mulher e os dois se abraçaram.
– Eu já estava estranhando você demorar tanto. - Ela disse se afastando do abraço.
– Desculpa, tive alguns imprevistos. - Xamã respondeu colocando as mãos no bolso.
Logo de imediato o olhar da mulher veio diretamente para mim, ela me olhou de cima para baixo e envergonhado eu acenei com minha mão.
– E quem é esse menino?
– É um colega de trabalho, Bryan, essa aqui é a minha mãe. Mãe, esse é o Bryan, ele tá me ajudando a fazer meu novo álbum. - Xamã me puxou para cumprimentar a mãe.
– Oi! - Eu falei envergonhado com a voz baixa.
– Tudo bom meu filho? - Ela se aproximou e deu dois beijinhos na minha bochecha.
– Tudo sim, e com a senhora? - Eu falei abrindo um sorriso.
– Tudo bem, graças a Deus. - Ela ergueu as mãos pra cima. - Entrem, tá um frio danado aí fora.
Eu e Xamã entramos e eu comecei a olhar em volta, era uma casinha bem rústica e bonitinha. Tinha uma estética medieval e cheirava a madeira recém cortada. Tirei meu cachecol e coloquei no cabideiro.
Caminhamos até a cozinha, era uma cozinha americana, os balcões eram de madeira e o forno era moderno. A sala era estilosa também, um sofá em L, a mesa de centro feita de tronco de madeira, lareira ao lado do sofá e um tapete de crochê. Em cima da lareira estava a televisão. A televisão era aproximadamente de 20 polegadas, quadros antigos e uma gaiola com 2 calopsitas.
Caminhei até a cozinha e sentei no banco perto do balcão de madeira.
– Querem alguma coisa? - Ela perguntou indo até o fogão.
– Eu aceito um café. Se não for incomodo. - Eu falei sem graça.
Xamã segurava o riso enquanto me olhava, sentou ao meu lado, me deu uma trombada leve e discreta com o ombro, eu olhei pra ele e ele piscou.
– Jesus, acabou o açúcar. Geizon, pega lá na dispensa pra mim. - Ela falou virando para nós dois.
– Tranquilo. - Ele levantou e sumiu no corredor da sala até a cozinha.
Eu fiquei sem graça frente a frente com a mãe do Xamã, até ver que aquela situação já estava constrangedora demais.
– Então… a quanto tempo você é a mãe do Xamã? - Eu perguntei sem graça e com a cara queimando.
– Desde que ele nasceu. - Ela falou rindo e vindo até o balcão. - Quer ver algumas fotos antigas dele?
– Adoraria.
Ela foi até a sala e abaixou na mesinha de centro, levantou o vaso de flor e puxou um dos livros que estavam embaixo dele. Colocou o vaso de volta e veio até mim, colocou o livro na minha frente.
– A infância toda dele está nesse álbum.
Eu abri feliz da vida e já dei de cara com uma foto dele sentado numa cama com uma roupa de escola pública e com um óculos redondo de grau.
– Que fofinho! Um little Xamã.
Eu virei a página e vi uma foto peculiar, era o Xamã criança com um chapéu indígena e alguns cordões no pescoço.
– O Xamã é de uma tribo? - Eu perguntei.
– Sim, o pai dele é indígena.
– Olha, tá uma coisa que eu não sabia.
Eu escutei um barulho atrás de mim e vi Xamã com dois pacotes de açúcar na mão.
– Obrigado meu filho. - A mãe dele pegou e voltou para o fogão.
– Por que nunca me contou que fazia parte de uma tribo? - Eu perguntei colocando as mãos na cintura.
– Porque eu não queria te contar agora. - Ele falou passando a mão no meu cabelo e virando o olhar para o álbum de fotos. - Ah mãe, qual foi, você tá mostrando esse álbum pra ele?
– Claro.
– Adorei, você era um little Xamã. - Eu falei rindo.
Ele sentou novamente ao meu lado e puxou o álbum e começou a revirar as páginas.
– Tem umas fotos aqui que eu nem lembrava que existiam.
A mãe dele veio até mim e me deu uma xícara de café com dois biscoitos maizena e uma balinha de coco.
– Obrigado tia.
Enquanto eu via o álbum junto com Xamã eu reparei uma foto tirada dele ainda recém nascido, a data escrita na foto era 31/10/1989.
– Você nasceu em 1989?
– Sim. Por que?
– Você nasceu no mesmo ano que a Taylor Swift! - Eu gritei e logo tampei a boca.
– Show.

Tudo Muito Bem (Versão de 10 Sentimentos) - XamãOnde histórias criam vida. Descubra agora