Nosso Para Sempre

Um Ano Que Virou Três

Melissa

Chuva, sempre chuva! Não existe um dia nessa cidade que não chova, certo, tem alguns dias no verão que não chove. Londres é uma cidade linda, encantadora, é o sonho de qualquer pessoa no mundo, só podia chover menos, ou eu poderia ficar mais em casa e chover o dia todo, mas ai eu iria pesar uns 120kg, de tanto comer chocolate, descobri uma paixão avassaladora por KitKat. Mas quer saber? Cansei dessa cidade, quero voltar para o Brasil e reclamar como o Brasil é quente e reclamar de como podia morar num país de primeiro mundo, mas, é que depois de 3 anos a gente meio que sente saudade de casa e não vê mais graça nisso aqui que deveria ser um sonho.

- Tô indo trabalhar. – Disse a Ana me dando um beijinho na bochecha e saindo correndo.

Ela sempre está correndo de um lado para o outro, a porra do beijo ainda foi na bochecha, volta aqui e me beija direito. Mas eu estava cansada demais para brigar, ah é, aquele um ano de teste aqui em Londres virou dois, três, já estamos nesse lugar a três anos e quatro meses, aproximadamente 1.217 dias de chuva. Lado positivo? Aprendi a falar inglês, lado negativo? Meu casamento está bem complicado. Nosso primeiro ano aqui realmente foi lindo, uma delícia, uma verdadeira lua de mel, mas logo começaram a aparecer os problemas e reuniões até tarde no jornal e comecei a ver menos e menos a minha esposa, geralmente quando ela saia eu estava dormindo e quando voltava eu também estava dormindo, comecei a estudar fotografia em um estúdio maravilhoso e foi lá que aprendi a falar quase todo o inglês que sei, óbvio que a base aprendi com a Ana e aprimorei na garra mesmo. Outro ponto positivo, tenho uma exposição de fotos totalmente minha, no estúdio daqui 2 meses e isso era algo bom, pois me fez esquecer parte do drama da minha vida pessoal. Um ano que virou 3 e pode virar sei lá quantos mais, eu tenho certeza que vou pirar, por sorte ao lado do estúdio tem um café brasileiro, onde pelo menos posso ouvir aquele velho e lindo português, o café chama “Ipanema” e a dona uma genuína carioca chamada Samara, uma mulata alta, de olhos castanhos, olhando de longe ela lembra muito a Laverne Cox, só que com expressões bem brasileiras e assim me sinto em casa, eu passava tanto tempo no Ipanema que já sabia da vida inteira dos garçons e da Samara, ela foi casada com um homem 20 anos mais velho que ela e o mesmo morreu há uns 5 anos e então ela descobriu o lado colorido da força, tem um caso com a sócia, mas a sócia é casada e como eu sei de tudo isso? Na Inglaterra depois das 21h e alguns shots de tequila as pessoas ficam muito falantes, ela me contou enquanto lamentava que nunca tinha passado um natal com a Jinx (a sócia/amante).

- Droga, vou me atrasar. – Essa sou eu, como sempre atrasada, três anos aqui e nunca consigo me adaptar a pontualidade inglesa. 

Saí correndo e esqueci o casaco, olhei pro céu e fazia um belo sol, um milagre? Talvez, mas até agradeci a Deus.

- Obrigada. – Espera, estamos na Inglaterra – THANK YOU, GOD. – Sim, eu gritei na rua e uma senhora de uns 60 anos me olhou e literalmente me chamou de doida.

Saí correndo pra pegar um taxi, dei sinal e quando ele ia se aproximando deixei cair a bolsa e tudo meu foi ao chão, comecei a recolher tudo e enquanto isso outra pessoa pegou o meu taxi.

- Shit – Reclamei ainda de joelhos no chão catando tudo.

- You want help? – Uma voz de alguém parado do meu lado, e antes mesmo que eu pudesse dizer sim ou não um rapaz de sobretudo marrom, cabelo alinhado pro lado, olhos verdes e uma boca mais vermelha que a minha de batom, estava me ajudando a pegar tudo.

- Thank you! – Falei ao levantar, dei sinal para outro taxi e entrei correndo.

30 minutos depois e com 40 de atraso, cheguei no estúdio, o Paul olhou como quem queria me enforcar no meio do salão e eu fiz cara de cachorrinho pidão.