29 - Sua casa

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Pov Maraisa

Evan, cunhado de Marília, nos atualizou de tudo e voltou para perto da esposa. Ele vestia um conjunto azul, touca e uma botinha de papel, descartável, cobrindo os sapatos. 

— Por que ele não estava com roupas normais? — perguntou Marília. — Ele simplesmente atravessou o hospital e veio aqui usando isso. Não é como se estivesse mais esterilizado do que eu, vestido assim, agora. 

— Verdade — falei. — Talvez façam o pai usar para que ele se sinta parte da equipe. 

— Pode ser. Mas, se conheço minha irmã, Evan é o único da equipe com quem ela está berrando durante o trabalho de parto. 

Dei de ombros.  

— Parece justo. Ele não teve que caminhar carregando uma bola de boliche por nove meses e não sofre com as dores do parto. O mínimo que ele pode fazer é aceitar um pouco de esporro. 

Marília sorriu para mim. 

— É mesmo? 

— É. 

Éramos as únicas na sala de espera, então coloquei as pernas para cima e me aconcheguei nela. Marília me puxou mais para perto e me abraçou. 

— Vai berrar com seu cônjuge algum dia?

Foi uma pergunta estranha. 

— Não no dia a dia, espero. 

Ela riu. 

— Quis dizer na sala de parto. Estava perguntando se você quer ter filhos. 

— Ah. — Eu ri. — Não tinha entendido. 

— Imaginei, pela resposta. 

Pensei por um minuto antes de respondê-la. 

— Nunca pensei que me casaria nem, muito menos, que teria filhos. Acho que meus pais não foram bons exemplos. Mesmo antes de tudo o que aconteceu com César, eles brigavam o tempo todo. Me lembro de brincar de casinha com minha amiga Allison quando estávamos na escola primária. Ela fingia ser a mãe e estava cozinhando um bolo no forno de mentira, e eu, o pai que voltava para casa e começava uma briga. A mãe dela nos ouviu brincar de discutir um dia e achou que era de verdade. Quando contamos que estávamos brincando de casinha, ela perguntou por que estávamos gritando. Eu respondi que era porque o pai tinha voltado para casa. Lembro-me de ela me olhar sem saber o que dizer. — Marília me apertou. — Comecei a perceber melhor as coisas à medida que cresci; eu me dei conta de que nem todas as famílias eram tão disfuncionais quanto a minha. Mas, até então, eu já conferia em baixo da cama duas ou três vezes ao chegar em casa. Acho que simplesmente não podia imaginar ter uma família, uma vez que sentia medo de coisas imaginárias se esconderem em meu apartamento. 

— Parece que você precisa de alguém que a faça se sentir segura. O resto se ajeita depois. 

Levantei a cabeça do lugar confortável na curva de seu ombro e olhei para ela.  

— Talvez. 

Se fosse assim tão fácil. 

Passava das cinco da manhã quando uma voz alta nos despertou. Evan parecia exausto, atordoado e muito feliz quando anunciou que o filho nascera. Ele e Marília se abraçaram e falaram por alguns minutos antes de Evan dizer que era melhor ver como estava sua esposa. 

— Quarto duzentos e dez. Tenho que voltar antes que ela convença o médico a me fazer uma vasectomia sem anestesia. Eles disseram que provavelmente ela estará no quarto dentro de uma hora. 

Minha Chefe Criativa - Malila | G!pOnde histórias criam vida. Descubra agora