Pov Maraisa
Marília chegou às nove da noite. Me perguntei se ela não estava mais indo trabalhar. Ela passava a noite toda, todas as noites, guardando meu prédio. Ela não conseguiria trabalhar durante o dia todo.
Deixei-a lá por uma hora enquanto preparava as coisas e, em seguida, desci as escadas. Quando me aproximei, ela ficou em pé.
— Tudo certo?
— Eu... só não estava tendo uma boa noite. Se importa se eu me juntar a você um pouco? — Estendi o prato. — Fiz cookies.
Ela procurou meu rosto, sem entender o que eu estava fazendo. Encontrando sinceridade no fato de que eu estava tendo uma noite ruim, assentiu.
— Claro.
Nossa conversa foi lenta no início, pois nenhuma de nós sabia o que dizer. Perguntei a ela sobre o trabalho e contei sobre minhas perspectivas de emprego.
Dei algumas respostas vagas sobre considerar opções e, eventualmente, trouxe à tona o assunto a tratar.
Houve uma pausa na conversa e eu respirei fundo e exalei audivelmente.
— Não sei se tranquei a porta.
— Hoje?
Balancei a cabeça.
— Não. Quando o apartamento foi arrombado. A chave ficava em uma fita longa e vermelha que eu gostava de usar ao redor do pescoço. Fui a última a sair e deveria trancar a porta. Mas não consigo me lembrar se tranquei. É por isso que sempre checo três vezes antes de sair de casa.
— Você era criança.
— Eu sei. E o bairro teve uma dúzia de invasões nas semanas que antecederam a nossa. Algumas não tinham sinais de arrombamento. Outros tiveram janelas e portas quebradas. Provavelmente não faria diferença. Eles ainda estariam lá dentro quando chegamos. A polícia disse que, se quisessem entrar, teriam conseguido de uma forma ou de outra. — Dei de ombros. — Mas hoje eu estava tentando lembrar novamente se eu a tinha trancado.
Eu costumava repassar meus movimentos daquele dia várias vezes em minha cabeça.
Marília me envolveu com o braço e me puxou para perto.
— O que eu posso fazer?
— Nada. Só falar com você me fez sentir melhor, na verdade.
Ela me apertou.
— Desça quando quiser. Estou aqui entre o pôr e o nascer do sol.
Ouvi o sorriso em sua voz e me virei, querendo vê-la. Sentia tanta falta disso. Por um segundo, pela maneira como ela me olhou, vi que tudo o que ela sentia por mim ainda estava lá. Ela só havia enterrado bem fundo. Eu podia ver alguns lampejos antes de saírem de alcance de novo.
Constatando que a tinha pressionado o suficiente por uma noite, me forcei a me levantar.
— Vou para a cama. Obrigada por me ouvir, Marília.
— Quando quiser.
— Vou deixar o prato. Acho que, se policiais ganham donuts, o mínimo que eu poderia fazer é dar à minha guarda-costas alguns cookies.
Segui para casa e me virei. Fiquei tão animada em pegar seus olhos em minha bunda que quase esqueci o que ia dizer.
— Por que você não é a pessoa certa para mim, Marília?
Algum dia, eu a faria me contar. Hoje, não.
[...]
Continuamos por mais uma semana. Eu levava um lanche e nós nos sentávamos e conversávamos por uma ou duas horas nos degraus de algum prédio qualquer do outro lado da rua em que eu morava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Minha Chefe Criativa - Malila | G!p
FanficEla transformou meu encontro tedioso em uma noite excitante. Quais as chances de encontrá-la de novo, em uma cidade com 8 milhões de habitantes? Marília G!p Essa fic é uma adaptação