43 - Não foi culpa sua

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Pov Maraisa

Eu a pressionei demais. 

Vendo os degraus vazios do outro lado da rua quando virei a esquina, a tristeza tomou conta de mim. Meu coração apertou minha garganta, deixando em meu peito um vazio. 

Na semana passada, eu tinha dado a Marília um ultimato e ameacei seguir em frente sem ela. Esperava que me ver dormindo com outra pessoa poderia sacudi-la. Se ela realmente se importasse comigo, sentisse uma fração do que eu sentia por ela, não haveria como evitar isso. 

Quando outra semana passou e ela continuou sentada do outro lado da rua sem sinal de voltar para mim, pensei que talvez a realidade pudesse atingi-la se me visse sair em um encontro. Foi por isso que, quando César me convidou para jantar e assistir a um filme à noite, vi a oportunidade perfeita. 

Marília não fazia ideia de que o homem alto e bonito de trinta anos era meu irmão. 

Infelizmente, meu plano falhou. Minha segurança se foi. 

Durante toda a caminhada pela rua, não parei de olhar para os degraus. Quando ela estava lá, tinha esperança. Agora que estava vazio, aquela luz de esperança estava extinta. Os degraus eram uma metáfora de como eu me sentia vazia. 

O pensamento de voltar para o apartamento e dormir na cama em que passamos noites fazendo amor me deixou com medo de ir para casa. 

Passei o braço no de meu irmão enquanto caminhávamos. Ele ainda estava usando seus óculos especiais para o filme que tínhamos visto depois do jantar. Quando o cinema IMAX começou a exibir filmes que poderiam ser apreciados por deficientes auditivos com óculos especiais de closed-caption que projetavam o diálogo, comprei um para ele. Os óculos pareciam um cruzamento entre óculos típicos de filmes em 3-D e modelo aviador. No entanto, ninguém parecia reparar enquanto caminhávamos pela rua à meia-noite em Nova York.  

Não me incomodei em dizer a César que não era necessário me acompanhar. Ele sempre tinha feito isso – e também faria a inspeção do interior para mim. 

Marília era a única pessoa, além de meu irmão, que sabia o quanto isso era importante para mim e insistia em lidar com isso. Suspirei audivelmente no elevador ao pensar nisso. A noite não seria fácil. Parecia que, agora que ela tinha saído dos degraus, eu estava perdendo Marília novamente. 

Saí do elevador com passos pesados, com César ao lado. Mas congelei assim que me virei, deixando meu irmão tropeçar em mim. 

O coração, que estava preso na garganta, deslizou até meu peito e começou a bater de novo. E parecia compensar o tempo perdido, tão acelerado que estava. 

— Marília? 

Ela estava encostada na parede ao lado da porta do apartamento, olhando para baixo. 

Quando olhou para cima, respirei fundo para me estabilizar. Mesmo cansada e abatida, ela ainda era a mulher mais bonita que eu já tinha visto. Seus olhos estavam vidrados e eu me perguntava se estava bêbada. É por isso que ela está aqui? Apareceu só porque está bêbada?  

Esqueci que César estava atrás de mim até sentir sua mão apertar meu ombro. 

Aparentemente, Marília percebeu o homem atrás de mim, porque assisti a seus olhos se levantarem sobre meu ombro e sua mandíbula apertar. 

— O que está fazendo aqui? — perguntei, ainda sem me mover, deixando um estranho espaço entre nós. 

— Podemos conversar? — perguntou Marília.

— Hummm... claro. — Demorou alguns segundos antes de eu descobrir como fazer meus pés se moverem. Então, hesitante, dei alguns passos. 

Quando cheguei à porta, Marília chamou minha atenção.

Minha Chefe Criativa - Malila | G!pOnde histórias criam vida. Descubra agora